José Sérgio Gabrielli, Graça Foster, Dilma Rousseff e Paulo
Roberto Costa
em visita à Plataforma P-56, em Angra dos Reis, em junho de 2011
|
No comício promovido por Lula para oficializar a saída de
José Eduardo Dutra e a chegada de José Sérgio Gabrielli, o Brasil ficou sabendo
que a Petrobras seria presidida por um gênio da raça disfarçado de economista
baiano. “O companheiro José Sérgio Gabrielli
se transformou num dos mais importantes diretores financeiros que a
empresa já teve em toda a sua história”, informou o palanque ambulante em 22 de
julho de 2005. Nem todos enxergam tão longe, elogiou-se na continuação do
palavrório.
“Não faltaram pessoas que me diziam assim: o mercado não vai
gostar, o mercado vai reagir, é melhor deixar quem está lá”, foi em frente o
recordista brasileiro de bravata & bazófia. ”Como eu não tenho nenhuma
relação de amizade com o mercado, resolvi indicar quem eu queria”. O que queria
(e, pelo jeito, encontrara) era alguém capaz de acumular a presidência da OPEP
com a coordenação do carnaval de Salvador. Como até gente assim pode precisar
de conselhos, ele lembrou a Gabrielli que, caso quisesse ajuda, bastaria
recorrer à onisciente e onipresente Dilma Rousseff, chefe da Casa Civil e
presidente do Conselho de Administração da Petrobras.
Ainda em 2005, a sumidade descoberta por Lula encampou a
grande ideia de Nestor Cerveró, diretor da Área Internacional: comprar por US$
360 milhões metade de uma refinaria no Texas que a empresa belga Astra Oil
havia adquirido meses antes por US$ 42,5 milhões. Com a ajuda de outro diretor,
Paulo Roberto Costa, Cerveró produziu o “resumo executivo” apreciado em 3 de
fevereiro de 2006 pelo Conselho de Administração. Foi uma decisão desastrosa,
comprovou o desfecho do negócio: em 2012, para encerrar a disputa judicial
iniciada cinco anos antes, a Petrobras pagou mais US$ 820 milhões à Astra Oil e
transformou-se na única proprietária de uma refinaria inútil.
Feitas as contas, a aquisição da velharia no Texas, sugerida
por Gabrielli e aprovada por Dilma, custou US$ 1,18 bilhão ─ ou 2,8 bilhões de
reais, que poderiam ter atendido a angustiantes urgências do viveiro de
miseráveis fantasiado de potência emergente. Só nesta semana a supergerente
mandona que tudo quer saber, e confere até o custo do cafezinho, resolveu
enxergar o monumento à inépcia, à vigarice e à gatunagem. Com a candura de uma
Filha de Maria, alegou desconhecer a existência de cláusulas leoninas
infiltradas no contrato. Bastaria ter lido os documentos colocados à disposição
da presidente do Conselho.
Em outubro de 2010, todos no Planalto sabiam da história
inverossímil. Menos Lula, reiterou a visita do maior governante desde Tomé de
Souza ao campo de Tupi. “Quando a gente quiser ter orgulho de alguma coisa
neste país a gente lembra da Petrobrás, de seus engenheiros, de seu geólogos,
do pessoal que é a razão maior do orgulho, mais do que o Carnaval, do que o
futebol”, recomeçaram as invencionices ufanistas. “A Petrobrás é a certeza e a
convicção de que este país será uma grande nação. É a prova mais contundente de
que o brasileiro é capaz, é inteligente, não é de segunda classe”.
Depois que o Estadão incorporou a presidente da República ao
espetáculo da indecência, a movimentação dos atores ampliou a afronta ao país
que presta. Em campanha no Ceará, Dilma recusou-se a comentar a transação
vergonhosa: estava lá para não dizer coisa com coisa sobre “mobilidade urbana”.
Gabrielli, agora secretário de Planejamento da Bahia, culpou a “crise
internacional” pelo negócio suspeitíssimo. Nestor Cerveró, hoje diretor
financeiro da BR Distribuidora, tirou férias e foi para a Europa. Cerveró achou
prudente cair fora do país tão logo soube que o álibi montado por Dilma transfere integralmente a culpa para os
autores do resumo executivo.
A demissão o alcançou a milhares de quilômetros de
distância. Nesta sexta-feira, por ordem do Planalto, o diretor financeiro da BR
Distribuidora perdeu o emprego fpelo que fez há mais de oito anos o diretor da
Área Internacional da Petrobras. É bom que se cuide: para salvar do naufrágio a
candidata à reeleição, o comitê central da campanha pode conferir-lhe o papel
que sobrou para Marcos Valério no escândalo do mensalão. Seu parceiro Paulo
Roberto Costa está preso, mas por outros motivos: a polícia descobriu que
trocou a direção da Petrobras pelo alto comando de uma quadrilha especializada
em lavagem de dinheiro.
Afônico de novo, Lula sussurrou a alguns amigos que Dilma
não deveria ter confessado o que fez. Daqui a alguns dias vai recuperar a voz
para jurar que não sabe de nada. Como os afilhados Dilma e Gabrielli, como os
demais sacerdotes da seita que o venera, o padrinho e Grande Pastor sempre
soube de tudo. Recitando que o petróleo é nosso, os donos do poder privatizaram
a empresa agora reduzida a caso de polícia. A Petrobras é do PT. Só é nossa a
conta bilionária.
Nenhum comentário:
Postar um comentário