Por Flavio Quintela
Bolsa-Família, Bolsa-Leite, Bolsa-Casa, Bolsa-Geladeira,
Bolsa-Presidiário, Bolsa-Eletrodomésticos, e por aí vai:
somos o país dos
Mendigos Tupiniquins.
O ser humano é extremamente frágil ao nascer. Chegamos ao
mundo nus, analfabetos, desprovidos de linguagem articulada, quase sem
mobilidade e totalmente dependentes dos adultos à nossa volta. A única coisa
que sabemos fazer é chorar, na esperança de conseguir uma mamada a mais para
saciar nossa fome. Ou seja, sabemos como pedir comida, e dormimos durante a
maior parte do tempo, aquela em que não estamos pedindo ou mamando. É uma
situação provisória (ou deveria ser); afinal, nascemos, crescemos, nos
reproduzimos e morremos, como qualquer outro ser vivo.
Um adulto tem o físico muito mais desenvolvido do que o de
um bebê. De pequenos seres imóveis enrolados em mantas da galinha pintadinha
passamos a seres enormes que andam, correm, pulam, dançam etc. Até mesmo os
portadores de deficiências físicas têm muito mais mobilidade que um bebê
recém-nascido.
Mas e nossa mente? Ela também evolui bastante, pelo menos no
caso de pessoas normais, não petistas. Nosso raciocínio, que se resumia a “teta
= comida”, pode chegar a níveis de genialidade nas mais diversas áreas. Quem
poderia imaginar que o bebê Einstein, que só sabia chorar, dormir e mamar,
faria uma diferença tão grande na história da ciência?
Não podemos nos esquecer da linguagem. Aqueles sons indecifráveis,
que depois passam a “gus” e “dás”, são incomparáveis à riqueza de vocabulário e
à capacidade de comunicação e articulação de um adulto. Passamos de zero para
milhares de palavras, que além de faladas podem ser escritas e lidas.
Agora quero fazer duas perguntas muito importantes:
1. Por que é
que evoluímos em todos esses aspectos que mencionei quando crescemos e
amadurecemos, mas muitos de nós não evoluem no que diz respeito ao hábito de
pedir?
2. Por que o
brasileiro pede tanto?
Embora eu não seja um expert no assunto, creio que posso
esboçar uma única resposta para ambas as perguntas. Na verdade não é bem uma
resposta, mas uma análise sob minha ótica, que desejo compartilhar com você.
Nesta análise usarei como comparativo os Estados Unidos, país de um povo com
uma cultura e uma mentalidade bastante distintas das nossas, mas poderia ter
usado diversos outros exemplos de nações desenvolvidas.
Quando eu era criança, eu nunca recebi mesada. Mas alguns de
meus amigos recebiam, e nenhum deles precisava fazer nada em troca, a não ser
se comportar um pouco. E pelo que tenho visto na juventude de hoje, a coisa vai
por aí: a mesada não exige uma contrapartida para ser dada, mas pode ser
cortada momentaneamente em caso de mau comportamento. Se compararmos esta
situação com o que acontece nos Estados Unidos, veremos uma tremenda diferença
na mensagem que um pai passa a seus filhos – lá o dinheiro é geralmente fruto
de tarefas caseiras que as crianças têm de fazer. Ajude sua mãe com a louça, arrume
seu quarto, recolha as folhas no quintal, e você receberá um dinheirinho. O
legal é que isso não fica somente dentro da família da criança (ou
adolescente), que acaba fazendo essas tarefas também para vizinhos, descobrindo
desde cedo como empreender e criar sustento próprio. A mensagem é clara: você
não está ganhando, você está merecendo. E antes que alguém venha argumentar que
não se pode condicionar o amor aos filhos, já digo que mesada não é ato de amor
e nem obrigação dos pais para com os filhos.
Outra diferença muito interessante entre os dois países está
na concepção linguística do trato com o dinheiro. Aqui no Brasil perguntamos
“quanto você ganha?” e respondemos “eu ganho cinco mil por mês”, enquanto um
americano utiliza equivalentes bem diferentes; lá se pergunta “quanto você
faz?” (how much do you make?) e se responde “eu faço cinco mil por mês”. Ou
seja, aqui nós ganhamos dinheiro, lá eles fazem dinheiro. Percebe a diferença?
Ganhar não traz consigo a obrigação, o merecimento e o esforço. Fazer é
diferente, é algo que requer a ação direta da pessoa, que denota atitude. Lá
eles aprendem desde crianças que não se ganha dinheiro do nada, mas que toda
remuneração é decorrência de nossos esforços e trabalho, evoluindo assim da
condição de bebê pidonho para adulto realizador. Vale mencionar que o Obama tem
tentado de todas as maneiras acabar com essa mentalidade, mas que ainda não
conseguiu. Já aqui…
O governo petista sabe muito bem que o brasileiro é assim.
Ou você acha que é apenas uma coincidência que tenhamos tantos programas
assistenciais eleitoreiros? Bolsa-Família, Bolsa-Leite, Bolsa-Casa,
Bolsa-Geladeira, Bolsa-Presidiário, Bolsa-Eletrodomésticos, e por aí vai: somos
o país dos Mendigos Tupiniquins. Pede-se o tempo todo, em todos os lugares, para
qualquer pessoa, mas principalmente para o governo. E assim vive o brasileiro:
gente pedindo de um lado, e o governo dando (uma miséria) do outro; no meio
ficam todos aqueles que trabalham todos os dias para pagar os impostos que irão
sustentar o pessoal das pontas. Como consequência, quem pede vota em quem dá, e
quem paga vota em quem não ganha. E assim se usa a democracia da forma mais
perniciosa possível, comprando as pessoas pelo preço miserável que elas mesmas
se atribuem. Não é difícil perceber que esse não é um ciclo virtuoso, muito
pelo contrário.
O mais triste de tudo isso é que hoje o povo brasileiro pede
dinheiro e recebe esmola, pede comida e recebe pasto, pede justiça e recebe
afronta. A continuar assim, não demorará muito para que peçamos liberdade e
recebamos o cárcere, que peçamos a paz e recebamos a morte. Temos que parar com
isso – chega de pedir! Que me desculpem o clichê, mas precisamos de gente que
faz.
Fonte: Mídia Sem Máscara
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Flavio Quintela, escritor, edita o blog Maldade Destilada e
está lançando, pela Vide Editorial, seu primeiro livro: Mentiram (e muito) paramim.
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