Por Percival Puggina
Uma das fotos estampadas em ZH, na última
quinta-feira, mostrava numeroso grupo de parlamentares da base do governo
irradiando indizível felicidade. Melhoraram os números da economia? O PIB
cresceu? O desemprego diminuiu? Nada disso. Festejava-se a elevação do déficit
fiscal para R$ 120 bilhões. Sirvam-se os drinques! O barco afunda, mas o poder
é uma festa. Afinal, ele é tudo que importa. Minutos depois, a notícia da
abertura do processo de impeachment caía como uma pedra no enorme aparelho
digestivo do governo. Não havia sal de fruta suficiente para tamanho mal estar.
A mentira é o primeiro degrau da corrupção. O sofisma é o
segundo. Ambos corrompem a verdade e o resto vem com o tempo e com as ocasiões.
Diferentemente do que o governo passou a dizer, a relação de Cunha com o
impeachment é funcional e a divergência entre ele e o governo é coisa de família,
desentendimento na firma. Não há princípios, nem valores, nem qualquer verdade
em jogo. Seus negócios foram descobertos pela mesma Lava Jato que o PT dizia
ser golpista.
Cunha é muito menos dono do impeachment do que eu. Jamais
disse palavra a favor. Contra minha vontade (ede dezenas de milhões de
brasileiros), sentou-se ele, por meses, sobre trinta e tantos requerimentos. Ou
não? Também nisto obsequiou ao PT tanto quanto o serviu, durante anos, na base
do governo. Sua prolongada indecisão arrefeceu as mobilizações de rua. Bem como
o governo queria. É totalmente fraudulenta, portanto,a tentativa de colocá-lo
no papel de dono do impeachment, como se fosse coisa dele e de gente como ele.
Insustentável, também, o xingatório que qualifica como
coxinhas, lacerdistas, golpistas e gente da pior espécie os que querem ver o
governo pelas costas. Se assim fosse, a Constituição seria “golpista”,pois
prescreve esse tipo de processo. E mais, Dilma Rousseff, com menos de 10%
de apoio um ano após fazer 52% dos votos válidos, teria sido eleita por “gente da
pior espécie”. Nem o xingamento fica em pé.
O governo já foi longe demais, em tudo. Levou a inépcia aos
requintes. Forneceu provas abundantes de que o STF errou ao desconhecer, na
ação penal do mensalão, o crime de formação de quadrilha. À vista de seu
governo, a gestão do companheiro Collor foi exemplo de austeridade. E de nada
vale a presidente dizer que não roubou e não escondeu dinheiro no Exterior
porque não é disso que a acusam. Seus crimes foram de responsabilidade
fiscal.Ponto e basta. Voltemos às ruas, nós, os donos do impeachment!
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