quinta-feira, 9 de julho de 2015

Eu não vou cair?


Em sua última entrevista à imprensa, a Presidente Dilma, destilando uma certa histeria, bradou com veemência (sic): "eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou. Isso aí é moleza, é luta política".

Mais adiante, acrescentou que está lutando incansavelmente para superar um momento bastante difícil na vida do país.

Só se esqueceu de dizer que, ao contrário, não há "moleza" alguma para o universo de trabalhadores que perdeu seus postos de trabalho por conta da crise e que sofre também com a inflação que reapareceu.

Quanto a envidar todos os esforços para superar a difícil situação, outra atitude não se poderia espera de sua parte.

Seria, no entanto, honesto acrescentar que ela e seu governo são responsáveis diretos pela difícil conjuntura decorrente do represamento artificial de preços e tarifas, da ocultação da verdadeira situação da economia e da falta de critério no uso dos recursos da máquina oficial, tudo destinado a garantir a reeleição e manter o poder a qualquer custo, resultando na ruína  das contas públicas, o que a obrigou, antes mesmo de assumir o novo mandato, a enviar ao subserviente Congresso, às pressas, uma lei, rapidamente aprovada, que acomodasse e descriminalizasse os gastos desordenados .

Em relação a não cair, eis algo de difícil previsão.

Pena do Tom?

A opinião do Sr. José Ramos Tinhorão, expressa durante encontro na última FLIP, dando conta de que sentia pena de Tom Jobim porque ele, o maior e mais prolífico compositor de MPB  dos últimos tempos, pensava que compunha música brasileira, foi de um inusitado que deixa perplexo qualquer cidadão minimamente identificado com a cultura musical do país.

Em que pese o respeito inspirado por sua história de crítico e pesquisador musical, autor de vários livros sobre o tema, seu posicionamento realmente surpreende e faz lembrar, com as devidas reservas que qualquer analogia implica, a passeata realizada em São Paulo em 1967, liderada por vários hoje monstros sagrados da música, como Gilberto Gil e a saudosa Ellis Regina, entre outros, e que tinha como objetivo protestar contra a guitarra e outros recursos eletrônicos dos quais eles próprios mais tarde não puderam prescindir nos arranjos e composições, qualificando à época, tais inovações de estrangeirismos e de invasões ao nosso, então considerado intocável, baú cultural.

Sem conhecer o teor da sua palestra na FLIP, tenho uma dúvida: será que o nobre crítico estaria hoje mais gratificado se Tom compusesse para sempre na linha tradicional e cristalizada da época, nada contra, sem apontar, como o fez brilhantemente, outros caminhos melódicos e rítmicos que estavam esperando para serem descobertos e que já existiam potencialmente na imensa diversidade cultural brasileira?

Acredito que não e seria interessante que o velho comentarista viesse a público e explicitasse exatamente o que quis dizer ao declarar que sentia pena de Tom.



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Paulo Roberto Gotaç é Capitão de Mar e Guerra, reformado.

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