Por Percival Puggina
Em relação ao que aconteceu e ao que não aconteceu no dia 27
de maio, firmo algumas certezas. Se três índios tivessem saído de Manaus a pé
para Brasília, levando postulações ao Congresso, haveria forte mobilização da
mídia nacional e internacional, repercutindo imagens e reivindicações. Se o
senhor João Pedro Stédile, ou o frei Betto, fizessem algo parecido, as grandes emissoras
de tevê acompanhariam passo a passo a peregrinação e os delírios
revolucionários dos romeiros. Utopias são assim, quanto mais trágicas, maior a
sedução e maior o número de adeptos. Vá entender!
Segunda certeza. Há
uma deliberada intenção de dificultar, por todos os modos possíveis, o
surgimento de lideranças jovens, cujas posições, no quadrante das ideologias,
se situam do centro para a direita. Para quem estava acostumado a emprenhar a
juventude brasileira pelos ouvidos e, depois, levá-la pelo nariz a colaborar
com os objetivos do petismo e da esquerda, é intolerável o surgimento de
núcleos de contestação e reação. De onde saiu essa moçada que se vai
transformando em força política?
Isso não estava
previsto. Não fazia parte do projeto. Gilberto Carvalho, então chefe de
gabinete da presidente Dilma, confessou lisamente sua surpresa com o
“surgimento de uma direita organizada e mobilizada”. Tal reconhecimento foi
feito durante uma reunião com a turma de comunicação dos movimentos sociais,
promovida para salvar o decreto dos sovietes de afogamento na onda de rejeição
que contra ele se formara.
O projeto de construção da hegemonia petista precisou,
então, ser revisto e as providências estão sendo tomadas. A primeira cuida de
confinar esses jovens ao ambiente virtual onde teve início sua organização. É
preciso transformá-lo em gueto e fazer com que dele não saiam. A segunda é
desqualificar todos os grupos transformando seus méritos em motivo de
reprovação. Afinal, qual país do mundo precisa de jovens liberais ou de jovens
conservadores? O bom para a hegemonia esquerdista é a militância comunista,
coletivista, estatizante, castrista, guevarista, chavista, que tem o dom de
destruir todas as economias e todas as sociedades em cuja teia envolve.
Os meios usuais de desqualificação não se aplicam ao caso.
Não é possível identificar esses jovens com qualquer governo. Os pais deles
eram crianças em 1964. Eles próprios sequer haviam nascido ao tempo da
redemocratização. Nada há para agravá-los exceto o que são: liberais e/ou
conservadores. Assim, esses inegáveis méritos são atacados por quem não tem
mérito algum. Muitos dos que se integram à tentativa de jogar no ostracismo
essa moçada brilhante – o que de melhor aconteceu ao país nas últimas décadas!
- já abandonaram por desilusão moral o barco onde vinham. Já não defendem o
indefensável (como fizeram por tanto tempo), mas não perceberam ainda que o
problema não está no partido tal ou qual, no líder tal ou qual, mas na ideia. O
que aconteceu no Brasil foi o processo natural de amadurecimento e
apodrecimento de uma fruta que cairá pelo peso da gravidade. Quem quiser um
Brasil melhor terá que mudar a natureza das ideias que planta.
Saibam os jovens que me leem: vocês não têm com o que se
decepcionar. Vocês mobilizam a esperança de milhões de brasileiros que, como
eu, não souberam fazer o que vocês estão fazendo. Vocês estão enfrentando a
malícia e a malignidade das forças do mal. “Sede, pois, prudentes como as
pombas e espertos como as serpentes”.
__________________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar.
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