A senadora Marta Suplicy deixa hoje o PT. Na carta que
enviará ao partido, dirá que a legenda se afastou de seus princípios. É um dos
motivos que justificam que um político com mandato deixe uma legenda sem correr
o risco de perdê-lo, embora eu duvide que a Justiça Eleitoral pudesse cassar
alguém eleito por voto majoritário.
A coisa tem, claro, o seu simbolismo. Há 33 anos, a adesão
do casal Eduardo-Marta Suplicy ao PT foi lida como um reconhecimento, por parte
de uma fatia da elite brasileira, “a consciente”, das iniquidades sociais do
Brasil.
E aí vocês precisam assistir a um vídeo de 1983, Macelo Tas,
na pele da personagem Ernesto Varela, que costumava fazer perguntas
aparentemente ingênuas, foi a um comício do PT em favor das eleições diretas,
realizado na praça Charles Miller, em frente ao estádio do Pacaembu, em São
Paulo.
O que se vê é um PT ainda meio mambembe e socialista, lotado
de barbudos, que vendiam livros de Karl Marx em barraquinhas improvisadas. No
meio da turma, “os bonitos e ricos” Eduardo e Marta. Ele, já deputado federal,
tinha sido atropelado na noite anterior e, ferido, era conduzido por ela numa
cadeira de rodas. Tudo doce, amoroso e plácido.
Varela a todos fazia uma pergunta: “Qual é o prazer da
política?” Eduardo tentou, com a precisão habitual: “Eu acho que é… uma missão,
que eu sinto como uma coisa dentro de mim. Uma coisa em busca da verdade. E
buscar a verdade é uma coisa humana”. Sim, leitor, já não fazia sentido.
O repórter fez a mesma pergunta a Marta, então conhecida em
razão de seu quadro sobre sexo no programa TV Mulher, da Globo. “Qual é o
prazer da política?”, pergunta Varela aos 7min55s. E ela: “Olha, eu não sei
qual é. Eu gostaria de entender, viu?, porque eu concorro com ela todo o tempo,
e, muitas vezes, ela vence”. Marta, então, estava mais ocupada, e era uma luta
justa, da política do prazer, não do prazer da política.
Ela só foi descobri-lo 11 anos depois, quando se candidatou
a deputada federal. E gostou da coisa. Nunca mais largou. Se o agora ex-marido
só fez carreira no Parlamento, ela ocupou cargos executivos, como prefeita e
ministra. Deixa o PT para se candidatar à Prefeitura, mais uma vez,
provavelmente pelo PSB.
Trinta e dois anos depois daquele comício, vamos convir,
rico mesmo, tudo indica, é Lulinha, o filho de Lulão. E sem o discreto charme
daquilo que o PT chamava “burguesia”. O casal Suplicy se desfez. O sonho de uma
adesão generosa das elites ao socialismo bocó resultou no conluio do partido
com as empreiteiras.
E nem se pode dizer que o sonho acabou porque o PT se
mostrou igual aos outros. Convenham: o assalto à Petrobras evidencia que nada é
igual ao PT.
Nenhum comentário:
Postar um comentário