A queda abrupta na audiência da TV Globo ilustra algo que
venho dizendo aqui há semanas: a revolta popular não é só contra meia dúzia de
políticos ladrões, nem só contra a sra. Dilma Rousseff, o PT ou mesmo o Foro de
São Paulo: é contra toda a elite que os protegeu e os legitimou no poder à
força de mentiras e desconversas.
Sempre de joelhos ante as modas estrangeiras mais idiotas, e
manipulados por intelectuais ativistas que, a despeito da sua mediocridade,
sempre deslumbraram as suas mentes ainda mais medíocres, os donos dos nossos
meios de comunicação puseram todos os seus formidáveis recursos a serviço de
uma “revolução cultural” cuja simples existência ignoravam e que foi, aliás,
concebida precisamente para ser levada a cabo por idiotas úteis que a
ignoravam.
Antonio Gramsci é bastante explícito quanto a esse ponto:
não se trata de “conquistar corações e mentes”, como afirmou esse asno pomposo
que ocupa o Ministério da Educação, mas, bem ao contrário, de fazer com que
“todos sejam socialistas sem sabê-lo”, de dominar o “senso comum” a tal ponto
que massas inteiras da população repitam chavões e slogans sem ter a menor
idéia da sua origem e da sua função num plano estratégico de conjunto.
A diferença entre o antigo militante proletário conquistado
para a causa do comunismo e o moderno servidor da revolução cultural é tão
imensurável que, por si, basta para ilustrar a elasticidade psicopática da
mente revolucionária, sempre pronta a trocar de atitude, de discurso e de
valores cada vez que julga isso necessário para o aumento do seu poder. O
primeiro decorava manuais de marxismo-leninismo, era hipersensível ao menor
desvio da ortodoxia partidária e proclamava orgulhosamente sua condição de comunista
militante, sacrificando bens, vida, honra e liberdade, tudo pela causa. Em
volta dele existiam, é claro, alguns
idiotas úteis sem cultura marxista, que se associavam à luta por motivos
subjetivos totalmente estranhos ao marxismo, que levavam o militante genuíno às
gargalhadas.
Na militância gramsciana, as proporções inverteram-se: o grosso da contingente compõe-se de idiotas
úteis, os militantes doutrinados reduziram-se a uma discreta elite dirigente
que não faz a menor questão de que seus seguidores saibam por que a seguem.
Os motivos subjetivos, que antes eram apenas acréscimos
acidentais ao corpo da luta revolucionária, tornaram-se a propaganda oficial,
que na mesma medida perdeu toda unidade e coerência, estilhaçando-se numa
poeira alucinante de chavões e cacoetes mentais desencontrados, bons para todos
os temperamentos e preferências, incluindo a expressão histérica das
insatisfações mais fúteis que o marxista puro-sangue de antigamente desprezava
como “pequeno-burguesas”.
A pessoa e os feitos do sr. Jean Wyllys ilustram esse estado
de coisas da maneira mais didática que se pode imaginar. Na sua ânsia de juntar
num front comum tudo quanto lhe pareça anti-ocidental e anticristão, ele exige
que as escolas esmigalhem de vez os cérebros das crianças com aulas simultâneas
de gayzismo e de islamismo. Cada pequeno
brasileiro será portanto informado de que ele deve fazer aquilo que, se ele
fizer, será punido com pena de morte.
Às vezes as pessoas clamam contra a “doutrinação marxista”
nas escolas, mas “doutrinação” é eufemismo: os tempos da doutrinação já
passaram. O que ali se faz é infinitamente mais destrutivo do que qualquer
doutrinação. Pascal Bernardin, no livro Maquiavel Pedagogo (v.
https://www.facebook.com/maquiavel.pedagogo/videos), descreveu em minúcias como
as técnicas adotadas na educação das crianças hoje em dia são calculadas para
induzir mudanças de comportamento sem passar pela aprovação consciente. Não se
trata de “conquistar corações e mentes”, mas de adestrar os corpos no
aprendizado da macaquice.
O apelo à consciência é cada vez mais reduzido, ao ponto de
que aquele que passou por esse treinamento se torna incapaz de perceber as mais
grotescas incoerências no seu discurso, mesmo quando elas tornam irrealizável
na prática aquilo que ele proclama como seu sonho e ideal. O sr. Jean Wyllys é
o produto perfeito e acabado de um sistema de ensino montado para produzir
idiotas úteis em escala industrial.
É evidente que, abolido o confronto ideológico explícito,
dissolvida a ortodoxia marxista num farelo de esterótipos para todos os gostos,
cada freguês podendo escolher à vontade os “direitos humanos”, a
“anti-homofobia”, o “anti-racismo”, o culto de uma lendária superioridade
espiritual do Oriente, a mitologia indigenista, a liberação das drogas, os
delírios da New Age, o ressentimento feminista, o islamismo ou tudo isso de uma
vez, o mero fato de um sujeito ser pessoalmente um bilionário capitalista, e eventualmente
o dono de uma rede de canais de TV, não o torna imune, no mais mínimo que seja,
à contaminação de uma lepra mental que assume todas as formas e o assalta por
todos os lados.
Foi assim que os donos da mídia, sem percebê-lo nitidamente,
e até mesmo negando-o peremptoriamente, se tornaram servidores da “revolução
cultural” que os abomina e despreza ao ponto de imaginá-los – pasmem! –
responsáveis pelos movimentos de protesto anti-PT. O sr. João Pedro Stedile
proclamando “A Globo fez tudo isso”, ao mesmo tempo que os manifestantes
escorraçavam os repórteres da Globo a cusparadas – eis uma cena representativa
da confusão monstruosa que o gramscismo produziu na mente brasileira.
Enquanto os “intelectuais” e “formadores de opinião"
mostravam cada vez mais nada entender do que estava acontecendo, exemplificando
eles próprios o estado de turva inconsciência reinante, o povão, quase por
milagre, apreendeu a unidade oculta por trás dos rostos cambiantes e
inumeráveis do seu inimigo, e se voltou contra ele com uma determinação e uma
coragem admiráveis.
Domingo ele vai nos dar mais uma lição a respeito.
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