Por Carlos I. S. Azambuja
Os comunistas, que sempre estão em minoria, trabalham para
propagar sua influência além de seu número, formando coalizão com ouros grupos,
entidades civis ou partidos, em nome de alguma causa comum para depois irem,
gradativamente, ocupando os espaços e os cargos dirigentes de todo o movimento.
Objetivam, com isso, insinuar sua linha política na
consciência dos demais, de forma que, instintivamente, todos comecem a falar o
idioma comunista, exigindo medidas definidas como de seu programa mínimo
Recorde-se que seu carro-chefe nos anos 80, após a anistia
de 1979, no Brasil, foi o fortalecimento da sociedade civil.
Através da infiltração sistemática, a rede de instituições
que conforma a sociedade civil é levada, sutilmente, a conjugar suas
reivindicações específicas com as palavras-de-ordem definidas pelo partido como
capazes de mobilizar as forças contrárias ao regime em uma ampla frente.
Essa expressão – sociedade civil –, foi hoje incorporada de
tal forma ao uso corrente que passou a fazer parte dos discursos e
pronunciamentos de parlamentares e demais autoridades. Alguns sem mesmo
conhecer o seu real e abrangente significado, citando-a na presunção de que
exista uma sociedade militar, e não para estabelecer um parâmetro entre ela, a
sociedade civil, e asociedade política.
Eles, os comunistas, procedem baseados em um planejamento
calculado e concebido para influenciar os não-comunistas, enquanto que estes
últimos atuam como indivíduos, isoladamente, que querem realizar uma obra e
sabem que os problemas a resolver são complexos. Os comunistas estão isolados
de qualquer influência recíproca por sua ideologia, por seu desprezo aos
liberais burgueses e pelo sentido de superioridade que lhes proporciona o saber
que são eles quem, de fato, manejam a situação.
Outra finalidade da atuação em frente ampla, frente única,
frente popular, pacto comum ou qualquer que seja a denominação que, de acordo
com as circunstâncias, se lhes dê, é converter o maior número possível de
pessoas em grupos de influência submetidos ao seu comando.
O partido dá, também, muito valor a abaixo-assinados onde
constem as assinaturas de conhecidos liberais não-comunistas, que não viram
motivos para dizer não aos companheiros de luta. Igualmente às concentrações de
massas e atos públicos, nos quais esses mesmos liberais aparecem como comissão
de frente.
Embora na maioria dos casos não consigam influir na política
governamental, os comunistas sempre são vitoriosos, porque criam uma situação
na qual um grupo de liberais não-comunistas compartilha de seu fracasso.
Na medida em que esses companheiros de fracasso, por suas
posições, vão sendo jogados para a oposição ao governo, tenderão a dizer desse
governo e de seus dirigentes o mesmo que os comunistas.
Ademais, a experiência compartilhada do fracasso abranda,
quase sempre, a atitude para com o partido, fazendo essas pessoas mais
receptíveis às suas interpretações sobre os problemas nacionais e a forma de
solucioná-los.
Os comunistas colocam a reforma em um extremo da escala e a
revolução em outro extremo, com a reação entre ambas. Encaram os reformadores e
os reacionários como preservadores dostatus-quo.
O inimigo principal dos comunistas, porém, não é a reação,
que por sua própria resistência às mudanças contribui para a criação de uma
situação revolucionária, e sim os reformistas que, ao melhorarem as condições
de vida do povo, contribuem para a redução das tensões das lutas de classes,
dificultando, assim, o triunfo dos comunistas.
Entretanto, o partido não pode opor-se abertamente à reforma
da mesma maneira que, com efeito propagandístico, se opõe à reação, pois
fazê-lo equivaleria a perder o apoio das massas que,corrompidas pela democracia
burguesa e carecendo de consciência de classe, preferem apenas uma pequena
melhoria a uma melhoria total, que dependerá de um vasto descalabro
revolucionário.
Em conseqüência, desempenham os comunistas a estranha tarefa
dual de aparentar aliança com os reformadores para, ao mesmo tempo, tratar de
desacreditá-los e impedir que resolvam os problemas o suficiente para aliviar
as tensões. Para essa tarefa, a frente, o pacto, a aliança, ou seja lá o nome
que receba, oferece um campo de manobra ideal, pois legitima a presença dos
comunistas junto aos reformadores e aproveitam ao máximo toda ocasião de
assumir uma tarefa de vanguarda contra as forças da reação.
Isso permite aos comunistas realizar o que Marx recomendou
em seu discurso à Liga Comunista: andar adiante dos reformadores, sendo menos
tímidos e mais generosos nas demandas que formulam em nome dos necessitados e
descontentes. Gozam também da mesma vantagem de que gozou Lenin quando se
propôs derrubar o governo de Kerenski: a de serirresponsável, ao contrário dos
reformadores responsáveis que consideram viável a nossa sociedade e contribuem
para que ela funcione, propondo soluções que sejam praticáveis.
Diz um dos princípios básicos do marxismo-leninismo que o
governo de qualquer país é umgoverno de classe e nenhum Estado jamais defende
os direitos e promove o bem-estar de mais de uma classe. Em conseqüência, os
partidos comunistas dos países não comunistas consideram-se atuando sob um
governo inimigo, o qual deve ser destruído.
Fonte: Alerta Total
_________________
Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
Nenhum comentário:
Postar um comentário