Por Percival Puggina
O pessimista no
Brasil é um sujeito bem sucedido. As pessoas olham para ele e proclamam,
balançando a cabeça e sinal de assentimento: "Ele já tinha me avisado.
Está acontecendo tudo direitinho". Pois é, modéstia à parte, nos últimos
meses tenho me defrontado com esse tipo de sucesso. Há bom tempo proclamei que
estávamos chegando ao máximo em matéria de corrupção.
Contestaram-me alguns otimistas inveterados dizendo que não,
que não era assim, que o poder ainda era doce e restava muito mel no pote. Mas
eu não me referia ao botim remanescente. Batíamos no fundo do poço por algo bem
pior do que o aumento do número de assaltantes do erário e da capacidade de
operação dos pés-de-cabra administrativos e contratuais. Também estes se
ampliaram muito, é verdade. A serem corretas as informações prestadas pelo
ex-diretor da Petrobrás em sua delação premiada, um pool de empresas abasteceu
durante longos anos, um caixa do qual se serviam duas dúzias de eminentes
figuras da República. Quem tem põe, quem não tem tira.
Tampouco nos levam ao fundo do poço as reiteradas afirmações
de ignorância e desconhecimento das autoridades superiores. "Eu não tinha
a menor ideia de que isto ocorria dentro da empresa", afirmou a presidente
Dilma, referindo-se àquela caverna de Ali-Babá montada em função dos negócios
com o petróleo brasileiro. A presidente diz que não tinha a menor ideia e eu,
pessimista, não acredito. Ora se a presidente, com seu currículo admirável,
conselheira da firma, ex-chefe da Casa Civil, ex-ministra de Minas e Energia,
poderia estar desinformada sobre a infestação de ratazanas na empresa de onde
sairão os royalties para melhorar a Educação do país.
O que nos leva ao fundo do poço é outra coisa, é saber que
tão lúgubres notícias se refletiram positivamente nos índices de aprovação do
governo e da presidente, candidata à reeleição. Se as pesquisas estão corretas,
38% dos 202,7 milhões de brasileiros, ou seja, algo como 77 milhões de
conterrâneos nossos, gente que passa pela gente, que cumprimenta a gente, que
vai à missa, que compra, que vende, que trabalha, frequenta escola,
universidade, fica sabendo dessas coisas e não dá a mínima. Bate palmas, atira
beijinhos e posa para selfies com Sua Excelência. Isso é que eu chamo corrupção
em escala multitudinária.
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Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar+.
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