Muito bem! A analista que foi considerada a responsável por
ter anexado a extrato de correntistas uma análise sobre o comportamento dos
indicadores econômicos vis-à-vis à posição de Dilma Rousseff nas pesquisas
eleitorais foi demitida. Lula pediu a cabeça da moça a seu amigão, Emilio
Botín, presidente mundial do Santander, e o banqueiro deu o que ele queria.
Vale dizer: o chefão petista investiu e obteve os devidos dividendos
eleitorais. A partir de agora, uma questão está criada — e não só para o banco
que troca cabeças por gentilezas do petismo.
Bancos também atuam como consultores de investimentos. Não
são meros lugares em que se deposita o dinheiro. Em qualquer democracia do
mundo, um episódio como esse nem mesmo seria notícia. Por aqui, virou um
escândalo em razão da mistura sempre explosiva de ignorância com má-fé
política. Não só isso. Somos também um país viciado em arranca-rabo de classes.
Os que receberam a tal avaliação eram correntistas com contas acima de R$ 10
mil. Foram tachados de “ricos” por setores da imprensa. Ricos? Bem, num país em
que uma família com renda per capita de R$ 300 já é considerada pelo governo
“classe média”, tudo é possível.
Pergunto: doravante, as análises que o Santander e os demais
bancos oferecerem a seus clientes têm alguma validade ou serão redigidas pelo
medo e pela patrulha? Quando os consultores das instituições financeiras
emitirem as suas opiniões, estas terão sido, antes, submetidas ao Comitê de
Censura do Petismo? Se uma opinião considerada incômoda a um partido rende
pedido de desculpas e demissão, devo entender que as que não rendem podem até
estar em desacordo com a realidade, mas adequadas àquilo que pensam os
poderosos de turno?
De resto, insisto num aspecto: a moça demitida do Santander
não disse nada que não tenha sido dito na Folha, na VEJA, no Estadão, no Globo,
na Globo ou na Jovem Pan. Aí o idiota grita: “Ah, mas essa é a mídia golpista”.
Errado! A bancária demitida não afirmou nada além do que o próprio Lula vem
afirmando, com uma única diferença: ao fazê-lo, ele usa o episódio para exaltar
Dilma. A ex-analista do Santander se limitou a fazer uma constatação.
Esse episódio é vergonhoso e dá conta da cultura autoritária
de um partido político, incapaz de conviver com a divergência. A presidente
Dilma, numa avaliação tacanha, considerou que a análise enviada aos
correntistas era uma tentativa de o mercado interferir nas ações de governo. É
mesmo? Ainda que assim fosse, o que haveria de errado? Quando a CUT, o MST, o
MTST e um sem-número de siglas tentam interferir nas políticas públicas, tal inciativa
é ou não legítima? E olhem que há uma diferença brutal: com alguma frequência,
esses entes que cito não se manifestam apenas por meio de notas, mas da ação
direta, que cassa direitos de terceiros sob o pretexto de defender… direitos.
Nesta quarta, por exemplo, falaram na Confederação Nacional
da Indústria os presidenciáveis Eduardo Campos, Aécio Neves e Dilma Rousseff.
Já no evento da CUT — uma entidade financiada com dinheiro público, dos
trabalhadores, forçados a financiá-la por meio do imposto sindical —, só o
petismo tem voz; só o petismo é convidado a se manifestar, numa afronta
escancarada à Lei Eleitoral.
A síntese é a seguinte: a analista do Santander foi demitida
sem ter descumprido um milímetro da lei. Dilma será aplaudida amanhã, em evento
da CUT, transgredindo a lei. Ou tentem me provar que estou errado.
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