Um fantasma circula na Europa. É o fantasma do preconceito
contra os muçulmanos. O anti-islamismo é um racismo tão horroroso quanto o
preconceito contra os judeus. O anti-islamismo se agravou com a chegada dos
refugiados da Síria e do Iraque. Pelas últimas estatísticas, já foram 330 mil
este ano.
A situação é particularmente grave na Hungria, onde o
primeiro-ministro, Viktor Orban, disse que não quer saber de muçulmanos no país
dele. Na Polônia, o governo reagiu quase do mesmo jeito. O anti-islamismo teve
três etapas na história recente da Europa. A primeira começou há uns 70 anos,
quando as economias mais industrializadas precisavam de mão-de-obra barata.
Foram os turcos na Alemanha, que hoje representam quase 4 por cento da
população. Ou os paquistaneses no Reino Unido, com quase 5 por cento. Ou então
os 8 por cento de marroquinos e argelinos, na atual população da França.
A segunda etapa aconteceu com o 11 de setembro, depois dos
atos terroristas da Al Qaeda. O muçulmano inspirava medo. E a terceira etapa
começou com a crise dos refugiados. Foi por causa deles que grupos de extrema
direita convocaram, há alguns meses, manifestações na Alemanha, na Inglaterra e
na Dinamarca.
Na Polônia, 44 por cento da população tem uma ideia
preconceituosa dos muçulmanos. Em toda a Europa, eles são suspeitos de
simpatias pelo terrorismo. Atribuem a eles clichês absurdos, como a ideia de
que a religião deles permite maltratar as mulheres, e praticar nelas a
mutilação sexual.
O ser humano é um bicho capaz de atitudes irracionais e
mesquinhas. Não existe racismo do bem. Não existe racismo defensável. E também
não adianta argumentar que os valores cristãos estejam ameaçados pelos
muçulmanos. Isso é uma mentira antropológica, é uma mentira histórica, é uma
mentira política. E isso também prova até que ponto podemos descambar para a
maldade, sob o pretexto idiota de proteger a nossa civilização.
É assim que o mundo gira.
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