Por Eduardo Mackenzie
O atual chefe de Estado é acusado de ter atentado contra a
segurança pública, de encobrimento, abuso de autoridade e traição à pátria.
Por que o presidente Juan Manuel Santos não quis dar a data
nem os detalhes do insólito encontro em Cuba dos máximos chefes das FARC e do
ELN? Por que Santos esconde sobretudo a data em que ele autorizou pessoalmente
esse encontro clandestino?
Realizado, ao que parece, segundo uma rádio de Bogotá, entre
23 e 27 de abril passado, esse “encontro” permitiu a Rodrigo Londoño Echeverri,
cognome “Timochenko”, das FARC, conversar não se sabe sobre o quê com Nicolás
Briceño Bautista, cognome “Gabino”, do ELN.
Não é a primeira vez que chefes desse bandos armados
comunistas se reúnem clandestinamente em Cuba. É, por outro lado, a primeira
vez que um chefe de Estado colombiano patrocina e acoberta tal tipo de reunião
em um país estrangeiro e sem dizer, desde o começo, ao país.
Essa reunião de uma semana entre os chefes do
narco-terrorismo, a qual estava destinada a ser secreta, quer dizer, de costas
para a Colômbia, para o Parlamento, o Ministério Público, a imprensa - embora
os resultados da mesma afetarão os interesses da Colômbia -, é sem dúvida
alguma uma má notícia para a segurança e a tranqüilidade do país. É sobretudo
um péssimo precedente. Que outros atos desse tipo Santos escondeu do país? A
escassa credibilidade do governo sai deste assunto pior do que antes.
Se Santos viu-se obrigado a admitir que essa reunião havia
ocorrido, e que ele havia autorizado, é porque a notícia, sob a forma de um
rumor fundamentado, havia escapado ao controle dos serviços de Santos.
O que falta estabelecer é o alcance da responsabilidade do
presidente colombiano nos atos de guerra que se dispararam na Colômbia antes,
durante e depois do encontro em Cuba, dessas duas chefaturas terroristas.
A autorização desse encontro foi dada antes de 14 de abril
de 2015, dia da emboscada na qual as FARC mataram 11 militares em Timba, Cauca?
Se é verdade que Santos autorizou esse encontro, essa
autorização deve constar em um texto oficial da presidência pois Santos sugere
que tal autorização foi um ato de governo e não uma medida clandestina e
caprichosa dele. Santos diz que com tal “ordem” pretendia “conseguir avanços na
busca do fim do conflito”. Por que ele não mostra esse documento ao país? O que
esse documento contém que a imprensa não pode vê-lo? Esse documento deve
repousar em algum gabinete do Palácio de Nariño. O que as famosas “unidades
investigativas” da imprensa esperam para pedir uma cópia?
Essa autorização presidencial ocorreu antes da ofensiva do
ELN em convergência com as FARC, contra as forças militares colombianas, a qual
deixou uma dúzia de mortos e feridos em Boyacá, Caquetá, Cauca e Meta. Ocorreu
antes da explosão da mina anti-pessoa e da aterradora explosão em uma escola do
Norte de Santander em 9 de maio.
Santos violou a Constituição e a lei com essa extravagante
autorização? Com essa autorização, Santos facilitou de fato a realização de uma
reunião na qual os chefes terroristas tomaram decisões para aperfeiçoar a
coordenação de ações bélicas deles contra o Estado e a sociedade colombiana?
É interessante ver a reação do Promotor Montealegre. Correu
para dizer aos meios de comunicação que o chefe de Estado é “competente” para
dar esse tipo de ordens e que Santos não violou nem a Constituição nem a lei. O
que o Promotor diz é palavra divina? Ele não está se apressando e dando um aval
preventivo para que a questão da legalidade e constitucionalidade desse ato
secreto de Santos não seja examinado pelos juristas, magistrados e parlamentares
do país?
Santos disfarça o sentido de suas decisões. Apresenta-as
como “atos que procuram a paz”. Pretende que a autorização da reunião dos
chefes terroristas foi um ato para “conseguir avanços na busca do fim do
conflito”.
O resultado foi o oposto: a ratificação do ELN de que não
deixará as armas embora abra negociações de paz com o governo e, por outro
lado, houve intensificação da guerra, agravação dos ataques, e aumento dos
mortos e feridos da população civil e da força pública. Só no estranho mundo de
Subuso isso é “buscar a paz”.
Com as decisões em cascata que Santos está tomando a
respeito dos narco-terroristas, as quais terminam de fato não em gestos de paz,
senão em uma melhora das condições da ofensiva militar e política deles contra
a Colômbia, Santos está jogando com grande brutalidade e cinismo. Ele acredita
que ser presidente da República o autoriza a fazer tudo e seu contrário.
Acredita que o imuniza contra as contas que lhe pedirão um dia as vítimas de
suas decisões. Acredita que com o respaldo do Promotor Geral pode pôr de molho
as instituições do país.
Existe, entretanto, uma investigação preliminar contra o
presidente Santos ante a Comissão de Acusações da Câmara de Representantes. O
advogado Guillermo Rodríguez acusa o atual chefe de Estado de ter atentado
contra a segurança pública, de encobrimento, abuso de autoridade e traição à
pátria, por haver autorizado duas viagens de Timochenko a Cuba em 2014. O novo
escândalo de agora, muito mais grave, por haver patrocinado uma cúpula de
chefes terroristas em Cuba, virá a se somar às acusações e argumentos que
correm contra ele no gabinete do representante Nicolás Guerrero Montaño.
Como vão as coisas, os parlamentares, de oposição ou não,
acabarão por se livrar do controle que Santos trata de exercer sobre eles.
Toparão com a montanha de abusos e de crimes que se estão cometendo na Colômbia
com o pretexto falacioso de que se está “buscando a paz”, e de que todos
devemos suportar sem reclamar as piores injustiças, pois o governo está a ponto
de conseguir “o fim do conflito”.
Tradução: Graça Salgueiro
Fonte: Mídia Sem Máscara
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