segunda-feira, 4 de maio de 2015

O “Exército de Sempre” e o caminho do dever


Caros amigos

Em 2002, como Comandante da 7a Brigada de Infantaria, Brigada Felipe Camarão, em Natal/RN, cumprindo o dever de manter os meus subordinados informados, consultei oficialmente o Centro de Inteligência do Exército (CIE) a respeito da posição do EB sobre uma série de assertivas do filósofo Olavo de Carvalho, que denunciavam a conivência do governo com o MST.

Em 2003, transferido para o Rio de Janeiro, cursei a Escola Superior de Guerra – hoje ameaçada de deixar de ser de Guerra para ser de Defesa, bem ao gosto do revisionismo pernicioso de que o Brasil tem sido vítima.

Em 2004, servindo no Estado Maior do Exército, entreguei aos meus chefes imediatos um documento pessoal que, entre outras coisas, dizia:

“Infelizmente, entendo que, se as Forças Armadas continuarem silenciosas em relação aos atos e fatos que interferem em sua missão constitucional, ocorridos interna ou externamente, mantendo-se, por inação, coniventes com os projetos de poder do governo da ocasião, elas verão surgir, rapidamente, a cizânia e a quebra da coesão entre seus quadros e se transformarão (…) em milícias manipuladas pelo interesse corrupto dos políticos, mal equipadas, despreparadas e, principalmente, mais preocupadas em sobreviver do que em servir!

Considero que a omissão é a mais destrutiva das atitudes de um soldado, e que será tanto mais destrutiva quanto mais alto seja seu posto ou graduação.”

Em 2006, minha carreira foi interrompida no posto de General de Brigada e, consequentemente, não tive mais acesso às informações que devem ser facultadas aos postos e funções de maior responsabilidade.

No entanto, o relacionamento próximo e franco que mantenho com meus camaradas no serviço ativo me enseja um bom nível de conhecimento da percepção política e estratégica do Exército e de seus integrantes face à conjuntura nacional.

A humildade, virtude essencial à convivência entre os homens, e a obrigação que me imponho de não contribuir para “a cizânia e a quebra da coesão” me têm feito respeitar com resignação, mas não em silêncio, tudo o que considero equivocado na condução do Exército e no seu relacionamento com o governo e com a sociedade ao longo dos anos que caracterizam o que chamo de era pós-moral.

Não me permito deixar de prestigiar os meus camaradas em função de comando e procuro transmitir-lhes este sentimento junto com o meu juízo crítico. Parto do princípio de que têm a mesma formação e a mesma vivencia que eu tenho, conhecem o seu dever, estão mais informados e tão ou mais preparados do que eu julgo que estaria se estivesse em seus lugares, mas, principalmente, pelo fato de que, aconteça o que acontecer, estando em reserva, não poderei assumir com eles as responsabilidades por suas ações ou omissões, diferentemente do tempo em que podia e devia consultar o CIE ou manifestar-me, por escrito ou não, a meus subordinados e chefes imediatos.

Em que pese a crise política, econômica, social e jurídica em que vivem os brasileiros, seja qual for o contexto vindouro e baseado na máxima de que “muitos caminhos levam a Brasília”, mantenho-me convencido de que, no que depender do Exército, o resultado final será positivo, cabendo aos civis e aos militares em reserva, como eu, sem descurar da crítica ponderada, franca e honesta, continuar unidos e crentes na força atávica dos valores morais e democráticos que historicamente têm indicado o caminho do dever ao “Exército de Sempre”.

Após a árdua tarefa de resgate que cabe a todos os homens e mulheres de bem desta terra, a Nação terá, com ou sem sequelas, ainda mais razões do que já tem para orgulhar-se dos seus soldados, marinheiros e aviadores e lamentará, constrangida, ter dado crédito às mentiras e às falsas profecias de seus eternos traidores e detratores.

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