Em 2002, como Comandante da 7a Brigada de Infantaria,
Brigada Felipe Camarão, em Natal/RN, cumprindo o dever de manter os meus
subordinados informados, consultei oficialmente o Centro de Inteligência do
Exército (CIE) a respeito da posição do EB sobre uma série de assertivas do
filósofo Olavo de Carvalho, que denunciavam a conivência do governo com o MST.
Em 2003, transferido para o Rio de Janeiro, cursei a Escola
Superior de Guerra – hoje ameaçada de deixar de ser de Guerra para ser de
Defesa, bem ao gosto do revisionismo pernicioso de que o Brasil tem sido
vítima.
Em 2004, servindo no Estado Maior do Exército, entreguei aos
meus chefes imediatos um documento pessoal que, entre outras coisas, dizia:
“Infelizmente, entendo que, se as Forças Armadas continuarem
silenciosas em relação aos atos e fatos que interferem em sua missão
constitucional, ocorridos interna ou externamente, mantendo-se, por inação,
coniventes com os projetos de poder do governo da ocasião, elas verão surgir,
rapidamente, a cizânia e a quebra da coesão entre seus quadros e se
transformarão (…) em milícias manipuladas pelo interesse corrupto dos
políticos, mal equipadas, despreparadas e, principalmente, mais preocupadas em
sobreviver do que em servir!
Considero que a omissão é a mais destrutiva das atitudes de
um soldado, e que será tanto mais destrutiva quanto mais alto seja seu posto ou
graduação.”
Em 2006, minha carreira foi interrompida no posto de General
de Brigada e, consequentemente, não tive mais acesso às informações que devem ser
facultadas aos postos e funções de maior responsabilidade.
No entanto, o relacionamento próximo e franco que mantenho
com meus camaradas no serviço ativo me enseja um bom nível de conhecimento da
percepção política e estratégica do Exército e de seus integrantes face à
conjuntura nacional.
A humildade, virtude essencial à convivência entre os
homens, e a obrigação que me imponho de não contribuir para “a cizânia e a
quebra da coesão” me têm feito respeitar com resignação, mas não em silêncio,
tudo o que considero equivocado na condução do Exército e no seu relacionamento
com o governo e com a sociedade ao longo dos anos que caracterizam o que chamo
de era pós-moral.
Não me permito deixar de prestigiar os meus camaradas em
função de comando e procuro transmitir-lhes este sentimento junto com o meu
juízo crítico. Parto do princípio de que têm a mesma formação e a mesma
vivencia que eu tenho, conhecem o seu dever, estão mais informados e tão ou
mais preparados do que eu julgo que estaria se estivesse em seus lugares, mas,
principalmente, pelo fato de que, aconteça o que acontecer, estando em reserva,
não poderei assumir com eles as responsabilidades por suas ações ou omissões,
diferentemente do tempo em que podia e devia consultar o CIE ou manifestar-me,
por escrito ou não, a meus subordinados e chefes imediatos.
Em que pese a crise política, econômica, social e jurídica
em que vivem os brasileiros, seja qual for o contexto vindouro e baseado na
máxima de que “muitos caminhos levam a Brasília”, mantenho-me convencido de
que, no que depender do Exército, o resultado final será positivo, cabendo aos
civis e aos militares em reserva, como eu, sem descurar da crítica ponderada,
franca e honesta, continuar unidos e crentes na força atávica dos valores
morais e democráticos que historicamente têm indicado o caminho do dever ao
“Exército de Sempre”.
Após a árdua tarefa de resgate que cabe a todos os homens e mulheres de bem desta terra, a Nação terá, com ou sem sequelas, ainda mais razões do que já tem para orgulhar-se dos seus soldados, marinheiros e aviadores e lamentará, constrangida, ter dado crédito às mentiras e às falsas profecias de seus eternos traidores e detratores.
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