segunda-feira, 16 de março de 2015

Um pouco de lucidez, Senhores Comunistas!

 
Após a ditadura do proletariado, imposta pelas exigências da revolução socialista, viria o Estado feliz e paradisíaco da liberdade, sem explorados  e sem exploradores e, logo depois, também sem Estado. Era esse o resumo da cartilha.

Embora a corrida para essa utopia tenha sido uma viagem efêmera, muitas pessoas ainda não se desvencilharam dela e não desistiram de tentar de novo, seja fazendo um balanço das perdas com a experiência vivida, seja retomando-a a partir do momento em que ela teria se desviado do destino correto. Isso levaria inevitavelmente a um retorno a Marx, ao século XIX, pois sempre existirão pessoas com tendência a considerar o comunismo como um tribunal inevitável para as mazelas do capitalismo que, de antemão, já foi condenado.

Para os comunistas, o momento é ainda de depressão. Depois da euforia provocada pelo marxismo-leninismo, pelo “pensamento de Mao-Tsetung”, pelo “guevarismo”, pelo “fidelismo”, pelo “gramscismo”, pelo “eurocomunismo”, pelo “trotskismo”, a hora é de uma grande ressaca. Afinal, eles não abandonaram o comunismo. O comunismo é que os abandonou.   

Todavia, isso provavelmente não irá durar muito, pois não há como deixar de admitir que sempre existirão partidos de esquerda, pois a sociedade - qualquer que ela seja - “produz desigualdades assim como combustíveis fósseis produzem poluição” (frase do historiador marxista Eric Hobsbawn).
Mas, como chegar às transformações que O Partido requer? Com que mesclas de idealismo e realismo ele deveria passar a atuar? São perguntas ainda sem uma resposta.

O comunismo morreu? Em termos, pois seu cadáver permanece insepulto, uma vez que. como idéia-força, ele deixou profundas e extensas raízes em todo o mundo. Fracassou, isto sim, um tipo de comunismo, aquele que realmente existiu, como nossa geração é testemunha privilegiada. Foi o fim de uma época histórica, que não voltará.

Considerando a definição de utopia (“a cobiça do impossível”), alguns, ainda marxistas, desejam uma ”utopia viável” para o marxismo moribundo. Ou seja, um impossível viável. Outros, como o escritor e sociólogo marxista Jacob Gorender, que foi membro dirigente de dois partidos revolucionários (o Partido Comunista do Brasil e o Partido Comunista Brasileiro Revolucionário) defendem “um marxismo sem utopia”. Nesse sentido, julgam que seria importante atualizar o marxismo, retirando-lhe os elementos utópicos e integrando à dialética formulações que dêem conta de aspectos do processo histórico capitalista que Marx não soube ou, em sua época, não podia prever.

Desde logo, poderia imaginar-se um partido que fosse realmente uma associação voluntária e democrática de vontades em busca de objetivos precisos; um partido que permitisse a livre expressão e circulação das idéias, com dirigentes eleitos e removidos democraticamente, onde não existissem os privilegiados; um partido que estimulasse a participação e submetesse democraticamente aos filiados as grandes questões, sem propostas de “Resoluções Políticas” definidas em restritos “Comitês”; e que os candidatos a cargos de direção fossem eleitos realmente pelas bases, e não por listas previamente organizadas pelo aparelho dirigente ou por cooptação, como sempre ocorreu.

A lucidez para encarar a falência da doutrina científica é uma necessidade intelectual e política, embora seja necessário reconhecer que um partido concebido para derrubar um sistema político-social e implantar outro, seu antípoda, tenha exigências distintas daquelas dos partidos tradicionais, e que o abandono dessas exigências implicaria  em renunciar  aos dogmas científicos fundamentais da doutrina.



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Carlos I. S. Azambuja é Historiador.

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