Por Marcos Coimbra
O Brasil hodierno atravessa uma fase que, no mínimo, pode
ser classificada como surrealista, caracterizada pelo predomínio da fantasia
sobre a realidade. A cada dia, uma nova e desagradável surpresa. As fontes são
diversificadas e inesgotáveis. Nada mais escandaliza o dócil país dos
admiradores do BBB. Dezenas de milhões de mensagens pagas com o objetivo de
eliminar um dos participantes de um programa abjeto, dos mais nefastos da
televisão brasileira. Nestas horas até, por absurdo, chegamos a pensar em
aceitar o projeto petista de controle da mídia apenas com o propósito de não
renovar a concessão da licença do canal mais poderoso do país, o qual não
cumpre sua função de contribuir para educar o nosso povo. Mas, pode ser uma
questão de tempo. Os “bolivarianos” estão chegando. É incrível como a população
preocupa-se com bobagens, enquanto a situação do país é dramática.
A taxa de desemprego segundo o insuspeito DIEESE atinge em
junho o patamar de 10,8% e autoridades governamentais afirmam que o país está
na confortável situação de pleno emprego. Para piorar, o economista Ricardo
Amorim afirma: “Baseado na baixa taxa de desemprego, o governo sugere que quase
todos os brasileiros têm emprego. Na realidade, quase metade (47%) não tem e
muitos estão subempregados – sem carteira assinada ou trabalhando menos do que
gostariam. Basta uma hora semanal de trabalho assalariado para ser considerado
empregado”.
E mais ainda: “a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
Contínua, também do IBGE, que mede o desemprego em 3,5 mil municípios entre os
maiores de 15 anos, aponta uma taxa de 7%, contra 5% da Pesquisa Mensal de
Emprego (PME). A porcentagem dos que trabalham em relação à PIA no Brasil (53%)
é hoje menor do que na maioria dos países da Europa, onde as taxas de desemprego
chegam a 5 vezes mais do que aqui. Por que o desemprego continua caindo, então?
Porque mais gente desistiu de procurar emprego do que caiu o número de
empregos. Infelizmente, quem determina a geração de riqueza em um país é o
total de pessoas trabalhando, não a taxa de desemprego. Com menos empregos, o
crescimento tem sido pífio, mas com menos gente procurando emprego, o
desemprego caiu.Milhões de pessoas deixaram de buscar empregos nos últimos 10
anos por quatro razões. Temos, hoje, dois milhões de estudantes universitários
a mais, o que é ótimo. Uma parte deles não trabalha nem busca emprego”.
“As outras três razões são negativas. A população brasileira
está envelhecendo, reduzindo a parcela dos que trabalham e aumentando a dos
aposentados. O Bolsa-Família melhora as condições de sobrevivência de milhões
de famílias, mas em locais onde os salários são pouco superiores ao benefício,
desestimula a busca por emprego. Desde 2004, o número de beneficiários subiu de
6,6 milhões para 14,1 milhões. Por fim, há a expansão do prazo e valor do
seguro-desemprego. Nos últimos 10 anos, o desemprego caiu de 13% para 5%, mas
os gastos com abono e seguro desemprego subiram de R$13 bilhões para mais de
R$45 bilhões. Quem recebe seguro desemprego e não busca emprego não é considerado
desempregado na estatística. Dificuldade em achar emprego leva alguns a
deixarem de procurar, reduzindo a taxa desemprego”.
Para agravar a análise da situação econômica, de acordo com
o notável economista Prof. Ricardo Bergamini, apesar das reservas externas em
torno de US$ 380 bilhões, a situação não é tão confortável, pois: “A posição da
dívida externa bruta estimada para julho totalizou US$328,4 bilhões. A dívida
externa estimada de longo prazo atingiu US$287,7 bilhões, enquanto o estoque de
curto prazo totalizou US$40,7 bilhões. Considerando os empréstimos
intercompanhia de US$ 197,9 bilhões a dívida externa totalizou US$ 526,3
bilhões”. Isto sem contar o Passivo Externo Bruto, em torno de US$ 1,3 trilhão
já em 2010 , segundo o Prof. Reinaldo Gonçalves. E a previsão do saldo negativo
do balanço de pagamentos em transações correntes em 2014 é de US$ 80 bilhões
para uma inflação batendo no teto da meta (6,26%), sem contar o reajuste que
virá após as eleições, fruto do represamento existente. E as autoridades
governamentais asseveram que tudo está bem. E a população continua mais
interessada no BBB.
Estão virando o país de cabeça para baixo, em uma total
inversão de valores e ninguém faz nada!
Fonte: Brasil Acima de Tudo
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Marcos Coimbra é Economista, Professor, Membro do Conselho Diretor do CEBRES, Titular da Academia Brasileira de Defesa e Autor do livro Brasil Soberano.
Correio eletrônico: mcoimbra@antares.com.br
Página: Brasil Soberano
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