Imaginem uma jovem grávida que é presa em razão de suas
atividades políticas. Na cadeia, ela é bem tratada e bem alimentada até dar à
luz. Em seguida, é assassinada e sequestram o bebê dela, que é entregue para
ser adotado por um militar. A criança cresce, vira uma pessoa adulta, e não
sabe que foi roubada da mãe biológica.
Pois bem, episódios como este aconteceram mais de 500 vezes
durante a ditadura militar da Argentina. A ditadura começou por lá há quase 40
anos. Terminou em 1983. Entre 9 mil e 30 mil pessoas foram mortas. Eram
estudantes, sindicalistas e militantes de esquerda. E eram também mães
assassinadas, e que tiveram o bebê sequestrado.
Esses casos têm sido esclarecidos, muito devagarinho, por um
movimento chamado Avós da Praça de Maio. Há um mês, essa entidade esclareceu o
caso número 117. Uma jovem, hoje com pouco mais de 30 anos, ficou sabendo que
era filha biológica de um casal de militantes da cidade de Mendoza. Os pais de
verdade foram mortos pela ditadura.
Quando alguém desconfia que não é filho ou filha de algum
casal, o procedimento consiste em fazer um exame de DNA. Depois, esse exame é
comparado com o que é feito por parentes dos desaparecidos.
Existem histórias trágicas, como a de uma moça que
acreditava ser filha de um velho coronel. Ela tinha raiva das Avós da Praça de
Maio, porque acreditava que elas queriam apenas revanchismo político. Até que
ela descobriu que ela própria tinha sido sequestrada da mãe biológica. O
coronel, que se dizia pai dela, está hoje cumprindo pena de prisão.
Esse tipo de história permite que a gente conclua o tamanho
da tragédia que a Argentina viveu durante a ditadura. Foi uma grande
infelicidade política e humana. O país pode estar quebrado, pode estar às
vésperas de uma nova besteira nas eleições presidenciais deste mês de outubro.
Mas não está com militares conspirando pelas costas, para dar mais um golpe e
instalar uma nova ditadura.
É assim que o mundo gira. Boa Noite.
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