O papa Francisco tem sempre alguma novidade. Desta vez, ele
encaminhou uma carta aos organizadores do Ano do Jubileu, que a Igreja Católica
abrirá em dezembro. Será um ano reservado à misericórdia. E é com base na
misericórdia que o papa recomenda que os padres concedam a absolvição às
mulheres que praticaram o aborto. Mas só se elas estiverem arrependidas. Vejam
bem. O papa não deu nenhum passo na direção do reconhecimento do direito da
mulher, de interromper uma gravidez indesejada.
Ele e a Igreja continuam a acreditar que o aborto é um
grande pecado. Mas, até agora, a mulher que dissesse ao confessor que tinha
abortado, ela corria o risco de excomunhão. O que mudou é que o pecado pode ser
absolvido.
É mais ou menos a mesma tolerância que o papa Francisco tem
demonstrado com os homossexuais. Não apoia, não estimula, mas compreende que na
comunidade gay muita gente seja sinceramente devota do catolicismo.
Mas vejamos o aborto. Um relatório das Nações Unidas
informou há dois anos que são 23 os países em que a gravidez pode ser
livremente interrompida. Na América Latina é o caso apenas do Uruguai, de Cuba
e da Guiana. Na União Europeia é o caso de quase todos os países, com a exceção
da Irlanda e da Polônia, onde o catolicismo é muito forte.
Vejamos o Brasil. O Sistema Único de Saúde registra 205 mil
internações anuais de mulheres, que tiveram complicações depois de um aborto
malfeito. Uma ONG que acompanha a questão calcula que os abortos sejam por aqui
685 mil por ano. Com o perdão que eu peço ao papa Francisco, não é uma questão
religiosa ou moral. É uma questão de saúde pública.
Por que é, então, que não legalizam o aborto? Precisaria
passar pelo Congresso. Mas a bancada evangélica não permitiria que o Brasil
fosse tão longe. É assim que o mundo gira.
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