Programa Roda Viva
"Evidentemente que quando namorei, devo ter sido
traída. Mas tive a sorte de que meus namorados foram inteligentes e elegantes
porque eu não descobri nenhuma delas. Eu nunca tinha passado por uma traição e
o PT me traiu. Me senti traída, mas isso foi desde muito cedo com Valdomiro,
Celso Daniel. Eu queria uma explicação. Sabe que uma mulher que recebe uma
explicação até aceita de volta. Eu me senti traída como geração, cidadã. Fiquei
no chão. Fiquei mal" - Irene Ravache
"Nunca tinha passado por uma traição e o PT me
traiu", disse Irene Ravache - São Paulo 20/05/2014
Em entrevista ao programa da TV Cultura "Roda
Viva", nesta segunda-feira (19), a atriz Irene Ravache falou sobre suas
afinidades e desavenças políticas. Ela afirmou que votou em José Serra em 2003
-- ano em que Luiz Inácio Lula da Silva conquistou a presidência do país pela
primeira vez --, criticou o governo da presidente Dilma Rousseff e disse que se
sentiu traída pelo PT (Partido dos Trabalhadores).
"Quando surgiu o PT, eu achei que o gigante finalmente
ia acordar. Um partido novo, que é um sucesso na oposição, um partido que diz o
que eu tenho vontade de dizer. Votei a primeira vez no Lula para presidente
quando concorreu com o Collor. Quando ele ganhou a presidência, eu não votei e
votei no José Serra. Mesmo assim, fiquei feliz como se vê um sucesso de um
amigo. Não fui para a Avenida Paulista comemorar, mas achava que estávamos bem
na foto", explicou ela, que começou a seguir o partido em 1980.
Atualmente, Irene é contra as ações realizadas pelo partido
e diz "ter se sentido mal com as irregularidades cometidas pelos políticos
do PT". "Evidentemente que quando namorei, devo ter sido traída. Mas
tive a sorte de que meus namorados foram inteligentes e elegantes porque eu não
descobri nenhuma delas. Eu nunca tinha passado por uma traição e o PT me traiu.
Me senti traída, mas isso foi desde muito cedo com Valdomiro, Celso Daniel. Eu
queria uma explicação. Sabe que uma mulher que recebe uma explicação até aceita
de volta. Eu me senti traída como geração, cidadã. Fiquei no chão. Fiquei
mal", assumiu ela, que acusou Lula e Dilma de não serem presidentes
"estadistas".
De acordo com Irene, a esperança que ela tem de um
presidente é que ele vire um estadista e o compara a um ator. "Um
presidente deve obviamente fazer suas alianças. Mas não percebe que sairia mais
fortalecido se ouvisse aquele país que está governando? Tem um país que espera
que esse estadista brigue com os coronéis. O Brasil está esperando isso",
argumentou a atriz, que disse não ter festejado a eleição de Dilma.
Descriminalização das drogas
Mãe de Hiram Ravache, ex-usuário de drogas, Irene se disse
contra a descriminalização. Para ela, se o uso for liberado não acabará com a
figura dos traficantes. A atriz comparou ainda com cidades como Londres,
Berlim, Nova Iorque, Amsterdã. "Quando você chega no aeroporto desses
locais e quer comprar droga, você consegue. Mas lá não estão assassinando pais
de família e não existe um estado paralelo", disse ela.
A atriz elegeu ainda o Estado como o culpado por toda a
miséria e violência em decorrência do uso e do tráfico de drogas. "Não
vejo com bons olhos a descrimialização das drogas, ainda mais como as coisas
são tratadas levianas como aqui. Para você descriminalizar, você tem que ter
uma política muito forte, uma política social", opinou ela, que nomeia
ainda a Cracolândia -- local onde usuários de crack ficam nas ruas de São Paulo
-- como Zumbilândia.
"O que faz um usuário do crack? Ele é um perigo para
ele e para você. Dá bobeira ali que ele vai te assaltar porque ele é um doente.
Portanto, ele precisa ser tirado de cena. Não temos leitos e não sabemos cuidar
de um usuário de drogas. Como você prevê uma ação voluntária de quem não sabe o
que está fazendo, ele é doente. Não é são. Não tem capacidade de escolher. Ele
vai morrer e vai matar", finalizou ela.
Irene Ravache está em cartaz, ao lado de Dan Stulbach, com o
espetáculo "Meu Deus", no Teatro FAAP, em São Paulo.
O programa, apresentado por Augusto Nunes, contou
com uma bancada de entrevistadores formada por Maria Adelaide Amaral
(dramaturga, escritora e jornalista), Thais Bilenky (editora da Página Três do
jornal Folha de S. Paulo), Maria Eugênia de Menezes (jornalista e crítica de
teatro do Caderno 2 do jornal O Estado de S. Paulo), Dolores Orosco (editora de
capa e comportamento da revista Marie Claire) e Lígia Cortez (atriz, diretora
teatral e diretora da Escola Superior de Artes Célia Helena).
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