O Palácio do Planalto desencadeou nesta quinta-feira, 8, um
plano para antecipar a aprovação no Congresso da correção da tabela do Imposto
de Renda e, assim, tentar evitar que o pré-candidato do PSDB, senador Aécio
Neves (MG), fature politicamente em cima do que poderá ser uma das bandeiras de
campanha da presidente Dilma Rousseff.
Atendendo a um pedido da presidente, o senador Eunício
Oliveira (PMDB-CE) incorporou o reajuste de 4,5% do IR no relatório de uma
medida provisória que altera a legislação tributária federal e prorroga prazos
de vigência a fundos regionais de investimentos, a MP 634. Isso abre brecha
para que a proposta possa ser aprovada pelo Congresso em duas semanas, ao
contrário da medida provisória editada pelo Executivo após o pronunciamento de
Dilma pelo Dia do Trabalho (MP 644), cuja tramitação pode se arrastar até
setembro.
O Palácio do Planalto trabalha nos bastidores para evitar o
"carimbo" de Aécio Neves no projeto. O senador mineiro havia
apresentado uma emenda na comissão especial que analisa a correção do Imposto
de Renda propondo um aumento com base no Índice Nacional de Preços ao
Consumidor (IPCA), sob o argumento de que o benefício concedido por Dilma não
repõe as perdas inflacionárias dos últimos anos.
Pelas regras do Congresso, Aécio não pode propor uma emenda
semelhante na comissão especial que discute a medida provisória relatada pelo
senador peemedebista, que já está em estado de tramitação avançado. "A
presidente quer evitar qualquer tipo de oportunismo", resume uma fonte do
governo.
Na prática, a oposição ainda pode tentar colar na redação da
MP de Eunício valores maiores para o IR, mas o texto não poderá ter a
assinatura do provável adversário da presidente Dilma Rousseff nas eleições de
outubro, uma vez que o prazo para a apresentação de emendas nessa comissão já
foi encerrado.
Aécio reagiu e afirmou que seu partido vai trabalhar para
aprovar "nessa ou em outra medida provisória" a correção do Imposto
de Renda pela inflação. "Essa manobra do governo, que impede a minha
emenda, é algo que afronta o Parlamento brasileiro e consagra o descompromisso
da presidente da República com a verdade", disse.
Oficialmente, no entanto, a justificativa do governo é que a
manobra visa evitar que a nova tabela - que será válida a partir de 2015 -
corra perigo de perder a validade, já que pela Constituição as medidas
provisórias precisam ser analisadas pela Câmara e pelo Senado em até 120 dias
após a sua publicação. Como o quórum nos meses que antecedem as eleições é
tradicionalmente baixo no Parlamento, haveria risco de a medida caducar.
O senador Eunício Oliveira afirma que o pedido para colocar
em seu texto o tema do IR veio do Ministério da Fazenda. "Se não tiver
(quórum para votação) lá na frente o reajuste vai ficar no buraco?",
questiona. "No meio da campanha você acha que os parlamentares vão vir
aqui?".
No dia 30 de abril, em um discurso em rede nacional de rádio
e de televisão em comemoração do Dia do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff
anunciou um pacote de bondades, que incluiu também um reajuste de 10% para os
beneficiários do Bolsa Família, principal programa de transferência de renda do
governo federal. O pronunciamento da presidente gerou críticas da oposição, que
a acusou de fazer campanha antecipada. (Estadão)
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