Na chegada à sede do Sindicato dos Bancários do Rio de
Janeiro, cenário da etapa carioca dos “Diálogos Governo-Sociedade Civil Copa
2014″, o sorriso confiante e a voz de orador da turma avisaram que o ministro
Gilberto Carvalho estava em casa ─ e cercado por amigos de fé. Decerto imaginou
que passaria as duas horas seguintes saboreando aplausos e carícias verbais da
plateia amestrada, formada por integrantes dos “movimentos sociais”. Todos
estavam ali para aprender que a Copa da Roubalheira, vista de perto, é outra
soberba evidência de que o Brasil vai tão bem que, se melhorar, estraga.
Quebrou a cara, informa o vídeo acima. Já na entrada do
auditório o sorriso morreu, esganado pela inscrição na faixa pendurada atrás da
mesa no palco: NÂO VAI TER COPA. A voz começou a claudicar com as primeiras
manifestações de hostilidade. E a autoconfiança foi dissolvida pela pancadaria
sonora. Durante 15 minutos, a caixa preta ambulante lutou bravamente para
sobreviver a vaias, apupos, risos debochados, apartes desmoralizantes,
gargalhadas irônicas e cobranças de promessas ainda estacionadas no palanque.
Enfim rendido ao som da fúria, interrompeu o falatório, deu
o encontro por findo, prometeu voltar em agosto e caiu fora da zona
conflagrada. Até capitular, o camelô de embustes esforçou-se para vender à
freguesia o conto da Copa. Jurou que a mina de dinheiro da Fifa, vista de
perto, é uma usina de empregos para nativos. Lembrou que já trabalhou em
favela, celebrou o Minha Casa, Minha Vida, culpou a oposição pelo atraso nas
obras, pediu paciência aos presentes, fez o diabo. Nada funcionou.
Gilberto Carvalho preparou-se para uma festiva noitada no
Brasil Maravilha. Só depois de consumado o fiasco descobriu que estava no
Brasil real. É um país habitado por gente farta de vigarices. E é cada vez mais
populoso.
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