Eduardo Campos (1965-2014)
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A eleição presidencial brasileira se transformou em uma
caixa-preta mais enigmática que a do fatal jatinho Cessna 560 XL, prefixo
PR-AFA, que caiu no bairro do Boqueirão, em Santos, e matou o presidenciável
socialista Eduardo Campos, de 49 anos, que deixa mulher, cinco filhos e uma
viúva política. A candidata a vice Marina Silva deve assumir a cabeça de chapa,
em convenções e decisões partidárias tomadas após o luto do neto de Miguel
Arraes – que, por coincidência macabra, também morreu em um dia 13 de agosto,
em 2005. O destino às vezes é cruel.
A pergunta feita no meio político, abalado ou espantado com
a tragédia é: quem se beneficia ou se prejudica com a saída de Eduardo da
sucessão presidencial? Em princípio, Marina Silva deve herdar os votos que
seriam dados a Eduardo – cuja candidatura vinha em ligeiro crescimento de
intenções de voto nas pesquisas, principalmente em Pernambuco. Agora, com o
chamado efeito “ninguém vence morto no Nordeste”, a “viúva” Marina tende a
ficar com o legado do falecido. Marina pode não decolar – e sofrer uma queda na
sonhada arremetida – porque o empresariado, sobretudo o agropecuário, não a
tolera.
Se o voo de Marina não se tornar viável, mesmo explorando a
morte de Eduardo Campos, o cenário fica ainda mais no estilo de uma
imprevisível caixa-preta aeronáutica. A saída de Eduardo pode beneficiar Dilma?
Petistas otimistas já apostam que sim. Outros, mais realistas, duvidam que isto
ocorra. A vivacidade nordestina de Eduardo vinha tirando votos do PT em
Pernambuco. Agora, por força psicológica da tragédia, Eduardo pode tirar ainda
mais - estando morto. A dúvida mortal é se tal voto migra para Marina ou se
Aécio Neves consegue herdar alguma fatia.
Estrategistas tucanos se mostravam preocupados no luto por
Eduardo. A tendência natural é que a campanha ganhe um tom emotivo, saudosista.
Nos próximos três a cinco dias, enquanto durarem as especulações sobre as
causas do acidente, o velório de Eduardo e o sepultamento de seu corpo, nenhum
tema polêmico, ofensivo, ganhará destaque na campanha eleitoral. Lava Jato e
outros escândalos que podem surgir, junto com os problemas econômicos imediatos
(carestia, risco de subida dos combustíveis e das tarifas de energia), vão para
o segundo plano.
Temporariamente, o clima fúnebre concede um alívio nos
ataques da “oposição” contra Dilma Rousseff – cabra marcada para morrer nas
urnas eletrônicas, a não ser que o fantasma da fraude reeleitoral eletrônica a
ressuscite. Aliás, Dilma posará de velha amiga do falecido Eduardo, que foi
colega dela no governo Lula, na tentativa de herdar uns votinhos a mais dos
nordestinos. Aécio Neves tende a ser posto em terceiro plano no cenário
imediato pós-Eduardo. O clima pesado não recomenda posar de carpideira falando
mal da Dilma, enquanto vigorar o luto de Eduardo – que Marina e Dilma tenderão
a prolongar, por motivos contrários ou não.
A campanha de 2014 continua aberta. Ainda é forte a chance
de derrota de Dilma Rousseff – implodida pela Oligarquia Financeira
Transnacional e por grande parte do empresariado brasileiro, incluindo alguns
que lucraram durante a desgovernança petista. Aécio Neves ainda precisa mostrar
mais poder ofensivo, principalmente nas propostas concretas para a área
econômica – o ponto fraco contra Dilma. A petista arrependida Marina fará a parte
dela no teatrinho do João Minhoca eleitoral. Se conseguir crescer nas pesquisas
de intenção de voto, tem chances de contar com o mesmo apoio que Aécio tem dos
controladores globalitários. Novamente, a ressalva contra Marina é seu discurso
radicalóide contra o agronegócio – que vinha digerindo o estilo light de
Campos, mas que não consegue engolir a “verde-apimentada”.
Campanha eleitoral é um perigoso sobe e desce. De
candidaturas, viáveis e inviáveis, ou de jatinhos forçados a aturar toda sorte
de condição climática, geográfica e aeroportuária, no pousa e decola dos vários
compromissos de campanha em um dia que só tem 24 horas. Acidentes acontecem. O
Brasil já vive um acidente histórico com a turma do PT (Perda Total) infestando
a máquina federal há quase 12 anos. Os brasileiros querem mudanças. Mas o risco
de tudo mudar, para ficar a mesma coisa (como no provérbio francês) parece uma
ameaça constante.
O velho Karl Marx já pregava que tudo que é sólido desmancha
no ar. A maldição marxista vale para jatinhos e candidaturas. Tão doloroso
quanto o drama da família de Eduardo Campos, que se foi para sempre do nosso
mundo profanado pela politicagem, é o drama do eleitorado brasileiro. Ao menos
na via eleitoral, não temos opções políticas seguras, de comprovada qualidade,
com compromissos claramente definidos para mudar o Brasil para melhor, em
substituição urgente à desastrosa Dilma – que o desgastado Lula deve chamar,
carinhosamente, de “meu poste”.
O PTitanic afunda em alta velocidade. Mas, antes dele, foi o
avião do Eduardo Campos que se espatifou a cerca de 240 Km/h, aparentemente em
uma falha (humana ou mecânica) na tentativa de arremetida no pouso abortado,
por causa do tempo ruim, na Base Aérea de Santos. Eduardo e outros seis
tripulantes perderam a vida nos quinze segundos após a manobra – que, se fosse
bem sucedida, levaria mais 15 minutos até um pouso seguro em Congonhas ou no
Campo de Marte, em São Paulo.
Eduardo Henrique Accioly Campos morreu. Outros serão
vitimados na campanha eleitoral. Que Deus nos acuda e livrai-nos do mal que
desgoverna o Brasil – que um dia já foi a Terra de Santa Cruz.
E, por falar em clima de luto: Ricardo Lewandowski foi
eleito Presidente do Supremo Tribunal Federal... Eita 13 de agosto...
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