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quarta-feira, 13 de agosto de 2014

Caixa Preta da Eleição sem Eduardo: Quem decola?


Eduardo Campos (1965-2014)
A eleição presidencial brasileira se transformou em uma caixa-preta mais enigmática que a do fatal jatinho Cessna 560 XL, prefixo PR-AFA, que caiu no bairro do Boqueirão, em Santos, e matou o presidenciável socialista Eduardo Campos, de 49 anos, que deixa mulher, cinco filhos e uma viúva política. A candidata a vice Marina Silva deve assumir a cabeça de chapa, em convenções e decisões partidárias tomadas após o luto do neto de Miguel Arraes – que, por coincidência macabra, também morreu em um dia 13 de agosto, em 2005. O destino às vezes é cruel.

A pergunta feita no meio político, abalado ou espantado com a tragédia é: quem se beneficia ou se prejudica com a saída de Eduardo da sucessão presidencial? Em princípio, Marina Silva deve herdar os votos que seriam dados a Eduardo – cuja candidatura vinha em ligeiro crescimento de intenções de voto nas pesquisas, principalmente em Pernambuco. Agora, com o chamado efeito “ninguém vence morto no Nordeste”, a “viúva” Marina tende a ficar com o legado do falecido. Marina pode não decolar – e sofrer uma queda na sonhada arremetida – porque o empresariado, sobretudo o agropecuário, não a tolera.

Se o voo de Marina não se tornar viável, mesmo explorando a morte de Eduardo Campos, o cenário fica ainda mais no estilo de uma imprevisível caixa-preta aeronáutica. A saída de Eduardo pode beneficiar Dilma? Petistas otimistas já apostam que sim. Outros, mais realistas, duvidam que isto ocorra. A vivacidade nordestina de Eduardo vinha tirando votos do PT em Pernambuco. Agora, por força psicológica da tragédia, Eduardo pode tirar ainda mais - estando morto. A dúvida mortal é se tal voto migra para Marina ou se Aécio Neves consegue herdar alguma fatia.

Estrategistas tucanos se mostravam preocupados no luto por Eduardo. A tendência natural é que a campanha ganhe um tom emotivo, saudosista. Nos próximos três a cinco dias, enquanto durarem as especulações sobre as causas do acidente, o velório de Eduardo e o sepultamento de seu corpo, nenhum tema polêmico, ofensivo, ganhará destaque na campanha eleitoral. Lava Jato e outros escândalos que podem surgir, junto com os problemas econômicos imediatos (carestia, risco de subida dos combustíveis e das tarifas de energia), vão para o segundo plano.

Temporariamente, o clima fúnebre concede um alívio nos ataques da “oposição” contra Dilma Rousseff – cabra marcada para morrer nas urnas eletrônicas, a não ser que o fantasma da fraude reeleitoral eletrônica a ressuscite. Aliás, Dilma posará de velha amiga do falecido Eduardo, que foi colega dela no governo Lula, na tentativa de herdar uns votinhos a mais dos nordestinos. Aécio Neves tende a ser posto em terceiro plano no cenário imediato pós-Eduardo. O clima pesado não recomenda posar de carpideira falando mal da Dilma, enquanto vigorar o luto de Eduardo – que Marina e Dilma tenderão a prolongar, por motivos contrários ou não.

A campanha de 2014 continua aberta. Ainda é forte a chance de derrota de Dilma Rousseff – implodida pela Oligarquia Financeira Transnacional e por grande parte do empresariado brasileiro, incluindo alguns que lucraram durante a desgovernança petista. Aécio Neves ainda precisa mostrar mais poder ofensivo, principalmente nas propostas concretas para a área econômica – o ponto fraco contra Dilma. A petista arrependida Marina fará a parte dela no teatrinho do João Minhoca eleitoral. Se conseguir crescer nas pesquisas de intenção de voto, tem chances de contar com o mesmo apoio que Aécio tem dos controladores globalitários. Novamente, a ressalva contra Marina é seu discurso radicalóide contra o agronegócio – que vinha digerindo o estilo light de Campos, mas que não consegue engolir a “verde-apimentada”.

Campanha eleitoral é um perigoso sobe e desce. De candidaturas, viáveis e inviáveis, ou de jatinhos forçados a aturar toda sorte de condição climática, geográfica e aeroportuária, no pousa e decola dos vários compromissos de campanha em um dia que só tem 24 horas. Acidentes acontecem. O Brasil já vive um acidente histórico com a turma do PT (Perda Total) infestando a máquina federal há quase 12 anos. Os brasileiros querem mudanças. Mas o risco de tudo mudar, para ficar a mesma coisa (como no provérbio francês) parece uma ameaça constante.

O velho Karl Marx já pregava que tudo que é sólido desmancha no ar. A maldição marxista vale para jatinhos e candidaturas. Tão doloroso quanto o drama da família de Eduardo Campos, que se foi para sempre do nosso mundo profanado pela politicagem, é o drama do eleitorado brasileiro. Ao menos na via eleitoral, não temos opções políticas seguras, de comprovada qualidade, com compromissos claramente definidos para mudar o Brasil para melhor, em substituição urgente à desastrosa Dilma – que o desgastado Lula deve chamar, carinhosamente, de “meu poste”.

O PTitanic afunda em alta velocidade. Mas, antes dele, foi o avião do Eduardo Campos que se espatifou a cerca de 240 Km/h, aparentemente em uma falha (humana ou mecânica) na tentativa de arremetida no pouso abortado, por causa do tempo ruim, na Base Aérea de Santos. Eduardo e outros seis tripulantes perderam a vida nos quinze segundos após a manobra – que, se fosse bem sucedida, levaria mais 15 minutos até um pouso seguro em Congonhas ou no Campo de Marte, em São Paulo.

Eduardo Henrique Accioly Campos morreu. Outros serão vitimados na campanha eleitoral. Que Deus nos acuda e livrai-nos do mal que desgoverna o Brasil – que um dia já foi a Terra de Santa Cruz.

E, por falar em clima de luto: Ricardo Lewandowski foi eleito Presidente do Supremo Tribunal Federal... Eita 13 de agosto...   

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