Por Rogério Furquim Werneck - O Globo
Voltas que o mundo dá. A presidente Dilma agora acha que a
Petrobras deve ser preservada da campanha eleitoral. “Se tem uma coisa que tem
que se preservar, porque tem que ter sentido de Estado, sentido de nação e
sentido de país, é não misturar eleição com a maior empresa de petróleo do
país. Não é correto, não mostra qualquer maturidade.”
Quem agora diz isso é a mesma candidata que, a partir de
2009, transformou a partidarização do papel da Petrobras no pré-sal em
plataforma de lançamento de sua candidatura à Presidência. É difícil que alguém
já tenha se esquecido da sua campanha eleitoral em 2010, saturada por cenas em
que a candidata aparecia, em sondas, plataformas e navios, com mãos lambuzadas
de petróleo, envergando indefectíveis capacetes e macacões da Petrobras.
O problema é que, desde então, a Petrobras converteu-se em
inesgotável poço de temas espinhosos, que a presidente preferiria não ter de
tratar na campanha da reeleição. O Planalto tem boas razões para estar preocupado.
O potencial de desgaste político é, de fato, grande.
Para começar, é preciso ter em mente que, por
impressionantes que sejam, as perdas decorrentes das trapalhadas de Pasadena
são incomparavelmente menores que as envolvidas no faraônico projeto da
Refinaria Abreu e Lima, imposto pelo Planalto à Petrobras. E, como já tive
oportunidade de destacar em artigo publicado neste mesmo espaço, em 4 de julho,
sob o título “Desperdício em grande escala”, Dilma Rousseff é a figura chave
para esclarecer como essa imposição de fato se deu, pois ocupava posições
centrais em cada um dos principais elos da cadeia de comando com que o Planalto
controlava os investimentos da Petrobras. Era, ao mesmo tempo, ministra-chefe
da Casa Civil da Presidência, coordenadora do PAC e presidente do Conselho de
Administração da Petrobras.
Mas as dificuldades com as duas refinarias são apenas parte
dos espinhosos problemas que vêm aflorando na empresa. O irresponsável
represamento de preços de combustíveis vem não só impondo grande desgaste ao
governo, como exigindo dotes de malabarista para tentar manter um discurso que
faça sentido sobre a questão. A rápida deterioração das contas da Petrobras, na
esteira da “queima de caixa” decorrente desse represamento, vem reforçando
expectativas de que o governo não terá como deixar de aumentar preços de
combustíveis logo após as eleições. Mas, empenhado em vender a ideia de que a
inflação voltará a ficar abaixo do teto de tolerância da meta no fim do ano, o
governo não quer dar alento a expectativas de um “tarifaço” pós-eleitoral. É o
que explica as manifestações desencontradas sobre correção de preços dos
combustíveis que vêm sendo feitas pelo governo e pela Petrobras.
Em entrevista ao “Valor” de 11 de agosto, Rui Falcão,
presidente do PT, preocupado com a questão, apresenta a melhor racionalização
que conseguiu articular para a política de represamento de preços de gasolina:
“...Você tinha que fazer uma escolha entre remuneração de acionistas e o poder
aquisitivo da população. E a Petrobras, além de ter acionistas, é um patrimônio
do povo brasileiro.”
A racionalização revela visão confusa e deturpada do
problema. O povo brasileiro, através do Tesouro, é o acionista controlador da
Petrobras. Manter preços de gasolina irrealistas é uma política pervertida que
subsidia proprietários de automóveis à custa do povo brasileiro. O governo só
teve de apelar para esse represamento populista de preços porque não soube
conduzir a política macroeconômica. Agora, só lhe resta tentar evitar na marra
que a inflação fique ainda mais alta do que já está.
Sobram razões para o Brasil lamentar o desaparecimento
prematuro de Eduardo Campos, um dos políticos mais talentosos e promissores de
que o País dispunha. Como bem mostrou sua entrevista ao “Jornal Nacional”, na
véspera do acidente que lhe foi fatal, o candidato do PSB à presidência tinha
visão extremamente lúcida da urgência de se dar encaminhamento mais consequente
às grandes questões que hoje afligem o país.
Fonte: A Verdade Sufocada
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Rogério Furquim Werneck é economista e professor da PUC -
Rio
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