Dilma, que já perdeu o apoio de pelo menos meia dúzia de
pequenos partidos da base aliada (PRP, PHS, PTN, PTC, PMN e PSL) — todos
negociando com os seus adversários Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) —
pode perder também a aliança com o PR de Valdemar Costa Neto, sigla que oscila
entre ela e Campos.
— Problemas com a base aliada temos em praticamente todos os
estados. A questão é que fechamos a aliança nacional com o PMDB, por exemplo,
para se discutir o Brasil, mas, quando descemos para os estados, para o projeto
estadual, há o choque de interesses; e a base fica fragmentada. Estamos
trabalhando para aparar as arestas até as convenções. Se não der para resolver
tudo, vamos acomodar situações durante a campanha — disse Florisvaldo Costa,
secretário de Organização do PT, encarregado de fazer o mapa das alianças nos
estados.
A confusão maior na base aliada acontece nos maiores
colégios eleitorais. No próximo dia 10, o PMDB fará sua convenção nacional e
anunciará apoio a Dilma. No entanto, as convenções nos estados, que virão em
seguida, apontarão caminho antagônico ao dos petistas.
No Rio de Janeiro, por exemplo, os peemedebistas estão
rachados. Enquanto o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que disputa a
reeleição, e o ex-governador Sérgio Cabral, candidato ao Senado, declaram voto
em Dilma, o líder do partido na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o
presidente estadual do partido, Jorge Picciani, articulam o apoio a Aécio. Há
até o movimento “Aézão”, com Aécio e Pezão, que na semana passada ganhou o
reforço do PP fluminense, partido que, nacionalmente, também é aliado a Dilma.
O PT vai de Lindbergh Farias para governador.
No Rio Grande do Sul, o PMDB lançou José Ivo Sartori ao
governo, que já disse que apoiará Eduardo Campos. O PP, outro partido da base
aliada, lançou a senadora Ana Amélia candidata a governadora. Ela já anunciou
que vai fazer campanha para Aécio. Lá, o governador petista Tarso Genro é
candidato à reeleição.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirma que os
problemas com o PP nos estados já estão sendo resolvidos: — Falei com o presidente Ciro Nogueira e ele
reconhece que alguns deputados gostariam de ter outro caminho, mas a aliança
está consolidada. Ele acha que não haverá nenhum problema na convenção.
Inclusive no próprio Rio Grande do Sul, tem o deputado (Vilson) Covatti, um dos
mais votados, que apoiará a Ana Amélia, disciplinadamente, e vai coordenar, no
PP, a candidatura da presidente Dilma no estado.
Em Minas Gerais, o PMDB selou acordo com Dilma, mas
lideranças, como o senador Clésio Andrade, ainda não embarcaram na candidatura
petista. Clésio é mais próximo de Aécio. No estado, o ex-ministro Fernando
Pimentel disputará o governo pelo PT. Caminhos diferentes também estão sendo
tomados em Mato Grosso do Sul, onde o PMDB lançou Nelson Trad Filho candidato
ao governo. Ele ameaça apoiar Aécio, pois a convivência com o PT nunca foi
pacífica no estado. O PT terá candidatura própria, com o senador Delcídio
Amaral.
Em Goiás, a direção nacional do petista, além de Dilma, desejava
que o partido embarcasse na candidatura de Iris Resende, do PMDB. Porém, o PT
local lançou a candidatura de Antônio Gomide. Quadro muito parecido acontece em
Tocantins: Dilma queria que o PT apoiasse o ex-governador Marcelo Miranda
(PMDB), que vai enfrentar a candidatura de Eduardo Siqueira Campos (PTB). PTB e
PMDB fazem parte da base aliada. No entanto, o PT não vai com nenhum deles e
está resolvido a lançar a candidatura de Paulo Mourão.
No Rio Grande do Norte, Lula queria que o PT endossasse a candidatura
do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), mas o partido está
optando pela candidatura de Robinson Farias (PSD).
Um dos casos mais emblemáticos do racha acontece na Bahia,
onde o PT lançou a candidatura de Rui Costa. O PMDB já resolveu apoiar a
candidatura de Paulo Souto (DEM), que anunciou apoio a Aécio. Lá, o
peemedebista Geddel Vieira Lima, até recentemente aliado de Dilma, com cargo na
Caixa Econômica Federal, será candidato ao Senado nessa coligação com DEM e
PSDB.
Em Mato Grosso, a base aliada está em pé de guerra. O PDT,
que faz parte da aliança nacional, lançou o senador Pedro Taques como candidato
a governador. Ele diz que pode apoiar Campos, e o PT está articulando lançar
Lúdio Cabral para o governo.
Em alguns estados, os partidos da base aliada baterão de
frente em busca de espaço para o segundo turno, como em São Paulo. O PMDB
lançou o empresário Paulo Skaf como candidato a governador. Ele disputará
espaço com o petista Alexandre Padilha, para saber qual dos dois será o principal
oponente do governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição. Dilma
disse recentemente, em jantar com a cúpula do PMDB, em Brasília, que tem em São
Paulo duas candidaturas (Skaf e Padilha) contra os tucanos.
O PT, segundo levantamento tabulado por Florisvaldo Costa e
Francisco Rocha da Silva, coordenador da corrente Construindo Um Novo Brasil
(CNB), majoritária dentro da direção petista, tem candidaturas próprias em 13
estados, podendo chegar a 16. O partido apoia sete candidatos do PMDB, como
Lobão Filho (Maranhão), Renan Filho (Alagoas), Jackson Barreto (Sergipe) e
Eduardo Braga (Amazonas). Chegou a estudar ainda apoiar outros peemedebistas,
como Confúcio Moura, candidato à releição em Rondônia, mas lá o PT deve lançar
a candidatura de Padre Tom ao governo.
No plano nacional, o PT fechou aliança com oito partidos
(entre eles PMDB, PTB, PDT e PP) e aguarda negociações com o PR para ter o nono
partido aliado. O PR está entre Dilma e o PSB de Campos. — Além de apoio a
Eduardo Campos, o PR fala em candidatura própria com o Magno Malta (PR-ES), mas
lutamos para trazê-lo para nossa coligação — disse Florisvaldo.
Para Rui Falcão, no entanto, as negociações com o PR estão
avançadas: — Se o PR, efetivamente, formalizar a aliança conosco, a gente vai
chegar a cerca de 12 minutos (de tempo na TV). As negociações estão bem
avançadas. A maior possibilidade é eles manterem o apoio que têm no Congresso
Nacional, no governo, e se coligarem com a presidente e o PT. O líder do PR na
Câmara dos Deputados, Bernardo Santana, confirma que há rebelados e que o apoio
não está garantido: — Há uma situação de divisão interna do partido.
Além dos problemas com divergências na base aliada, Dilma
pode enfrentar situações delicadas em dois estados: Espírito Santo e Amapá,
onde os governadores disputam a reeleição. O PT apoia as candidaturas dos
governadores socialistas Renato Casagrande (ES) e Camilo Capibaribe (AP).
— No Espírito Santo, o governador havia assumido o
compromisso com o PT de ficar neutro, mas, recentemente, vem declarando voto em
Eduardo Campos. Por isso, pensamos em apoiar a candidatura de Paulo Hartung
(PDMB), que se lançou candidato ao governo. Só não fechamos com o PMDB porque
desejamos que eles aceitem João Coser como nosso candidato ao Senado, e eles
querem manter a candidatura da deputada Rose para a vaga no Senado — explicou
Florisvaldo Costa.
No Amapá, o problema é mais sério. O PT não quer apoiar a
reeleição do senador José Sarney (PMDB) e lançou a petista Dora Nascimento para
disputar o cargo. O partido deve ir de Camilo Capibaribe (PSB) para governador,
o que pode deixar Dilma sem palanque no estado. — Ainda não fechamos nada no
Amapá, pois o PMDB pode ainda lançar um candidato a governador e, nesse caso,
com nosso apoio — disse Florisvaldo. (O Globo)
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