A menos de um mês das convenções partidárias, um
levantamento feito pelo GLOBO mostra que a presidente Dilma Rousseff enfrenta
rebeliões dos aliados em pelo menos nove estados. Os principais partidos da
base aliada, como PMDB e PP, ameaçam compor palanques com adversários da
petista no Rio de Janeiro, no Rio Grande do Sul, em Minas Gerais, na Bahia, em
Mato Grosso do Sul, em Mato Grosso, em Santa Catarina, em Tocantins e em Goiás.
Dilma, que já perdeu o apoio de pelo menos meia dúzia de
pequenos partidos da base aliada (PRP, PHS, PTN, PTC, PMN e PSL) — todos
negociando com os seus adversários Aécio Neves (PSDB) ou Eduardo Campos (PSB) —
pode perder também a aliança com o PR de Valdemar Costa Neto, sigla que oscila
entre ela e Campos.
— Problemas com a base aliada temos em praticamente todos os
estados. A questão é que fechamos a aliança nacional com o PMDB, por exemplo,
para se discutir o Brasil, mas, quando descemos para os estados, para o projeto
estadual, há o choque de interesses; e a base fica fragmentada. Estamos
trabalhando para aparar as arestas até as convenções. Se não der para resolver
tudo, vamos acomodar situações durante a campanha — disse Florisvaldo Costa,
secretário de Organização do PT, encarregado de fazer o mapa das alianças nos
estados.
A confusão maior na base aliada acontece nos maiores
colégios eleitorais. No próximo dia 10, o PMDB fará sua convenção nacional e
anunciará apoio a Dilma. No entanto, as convenções nos estados, que virão em
seguida, apontarão caminho antagônico ao dos petistas.
No Rio de Janeiro, por exemplo, os peemedebistas estão
rachados. Enquanto o governador Luiz Fernando Pezão (PMDB), que disputa a
reeleição, e o ex-governador Sérgio Cabral, candidato ao Senado, declaram voto
em Dilma, o líder do partido na Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, e o
presidente estadual do partido, Jorge Picciani, articulam o apoio a Aécio. Há
até o movimento “Aézão”, com Aécio e Pezão, que na semana passada ganhou o
reforço do PP fluminense, partido que, nacionalmente, também é aliado a Dilma.
O PT vai de Lindbergh Farias para governador.
No Rio Grande do Sul, o PMDB lançou José Ivo Sartori ao
governo, que já disse que apoiará Eduardo Campos. O PP, outro partido da base
aliada, lançou a senadora Ana Amélia candidata a governadora. Ela já anunciou
que vai fazer campanha para Aécio. Lá, o governador petista Tarso Genro é
candidato à reeleição.
O presidente nacional do PT, Rui Falcão, afirma que os
problemas com o PP nos estados já estão sendo resolvidos: — Falei com o presidente Ciro Nogueira e ele
reconhece que alguns deputados gostariam de ter outro caminho, mas a aliança
está consolidada. Ele acha que não haverá nenhum problema na convenção.
Inclusive no próprio Rio Grande do Sul, tem o deputado (Vilson) Covatti, um dos
mais votados, que apoiará a Ana Amélia, disciplinadamente, e vai coordenar, no
PP, a candidatura da presidente Dilma no estado.
Em Minas Gerais, o PMDB selou acordo com Dilma, mas
lideranças, como o senador Clésio Andrade, ainda não embarcaram na candidatura
petista. Clésio é mais próximo de Aécio. No estado, o ex-ministro Fernando
Pimentel disputará o governo pelo PT. Caminhos diferentes também estão sendo
tomados em Mato Grosso do Sul, onde o PMDB lançou Nelson Trad Filho candidato
ao governo. Ele ameaça apoiar Aécio, pois a convivência com o PT nunca foi
pacífica no estado. O PT terá candidatura própria, com o senador Delcídio
Amaral.
Em Goiás, a direção nacional do petista, além de Dilma, desejava
que o partido embarcasse na candidatura de Iris Resende, do PMDB. Porém, o PT
local lançou a candidatura de Antônio Gomide. Quadro muito parecido acontece em
Tocantins: Dilma queria que o PT apoiasse o ex-governador Marcelo Miranda
(PMDB), que vai enfrentar a candidatura de Eduardo Siqueira Campos (PTB). PTB e
PMDB fazem parte da base aliada. No entanto, o PT não vai com nenhum deles e
está resolvido a lançar a candidatura de Paulo Mourão.
No Rio Grande do Norte, Lula queria que o PT endossasse a candidatura
do presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB), mas o partido está
optando pela candidatura de Robinson Farias (PSD).
Um dos casos mais emblemáticos do racha acontece na Bahia,
onde o PT lançou a candidatura de Rui Costa. O PMDB já resolveu apoiar a
candidatura de Paulo Souto (DEM), que anunciou apoio a Aécio. Lá, o
peemedebista Geddel Vieira Lima, até recentemente aliado de Dilma, com cargo na
Caixa Econômica Federal, será candidato ao Senado nessa coligação com DEM e
PSDB.
Em Mato Grosso, a base aliada está em pé de guerra. O PDT,
que faz parte da aliança nacional, lançou o senador Pedro Taques como candidato
a governador. Ele diz que pode apoiar Campos, e o PT está articulando lançar
Lúdio Cabral para o governo.
Em alguns estados, os partidos da base aliada baterão de
frente em busca de espaço para o segundo turno, como em São Paulo. O PMDB
lançou o empresário Paulo Skaf como candidato a governador. Ele disputará
espaço com o petista Alexandre Padilha, para saber qual dos dois será o principal
oponente do governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição. Dilma
disse recentemente, em jantar com a cúpula do PMDB, em Brasília, que tem em São
Paulo duas candidaturas (Skaf e Padilha) contra os tucanos.
O PT, segundo levantamento tabulado por Florisvaldo Costa e
Francisco Rocha da Silva, coordenador da corrente Construindo Um Novo Brasil
(CNB), majoritária dentro da direção petista, tem candidaturas próprias em 13
estados, podendo chegar a 16. O partido apoia sete candidatos do PMDB, como
Lobão Filho (Maranhão), Renan Filho (Alagoas), Jackson Barreto (Sergipe) e
Eduardo Braga (Amazonas). Chegou a estudar ainda apoiar outros peemedebistas,
como Confúcio Moura, candidato à releição em Rondônia, mas lá o PT deve lançar
a candidatura de Padre Tom ao governo.
No plano nacional, o PT fechou aliança com oito partidos
(entre eles PMDB, PTB, PDT e PP) e aguarda negociações com o PR para ter o nono
partido aliado. O PR está entre Dilma e o PSB de Campos. — Além de apoio a
Eduardo Campos, o PR fala em candidatura própria com o Magno Malta (PR-ES), mas
lutamos para trazê-lo para nossa coligação — disse Florisvaldo.
Para Rui Falcão, no entanto, as negociações com o PR estão
avançadas: — Se o PR, efetivamente, formalizar a aliança conosco, a gente vai
chegar a cerca de 12 minutos (de tempo na TV). As negociações estão bem
avançadas. A maior possibilidade é eles manterem o apoio que têm no Congresso
Nacional, no governo, e se coligarem com a presidente e o PT. O líder do PR na
Câmara dos Deputados, Bernardo Santana, confirma que há rebelados e que o apoio
não está garantido: — Há uma situação de divisão interna do partido.
Além dos problemas com divergências na base aliada, Dilma
pode enfrentar situações delicadas em dois estados: Espírito Santo e Amapá,
onde os governadores disputam a reeleição. O PT apoia as candidaturas dos
governadores socialistas Renato Casagrande (ES) e Camilo Capibaribe (AP).
— No Espírito Santo, o governador havia assumido o
compromisso com o PT de ficar neutro, mas, recentemente, vem declarando voto em
Eduardo Campos. Por isso, pensamos em apoiar a candidatura de Paulo Hartung
(PDMB), que se lançou candidato ao governo. Só não fechamos com o PMDB porque
desejamos que eles aceitem João Coser como nosso candidato ao Senado, e eles
querem manter a candidatura da deputada Rose para a vaga no Senado — explicou
Florisvaldo Costa.
No Amapá, o problema é mais sério. O PT não quer apoiar a
reeleição do senador José Sarney (PMDB) e lançou a petista Dora Nascimento para
disputar o cargo. O partido deve ir de Camilo Capibaribe (PSB) para governador,
o que pode deixar Dilma sem palanque no estado. — Ainda não fechamos nada no
Amapá, pois o PMDB pode ainda lançar um candidato a governador e, nesse caso,
com nosso apoio — disse Florisvaldo. (O Globo)
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