Nas mensagens obtidas pela polícia, Vargas e Youssef tratam
de interesses do laboratório Labogen Química Fina e Biotecnologia no Ministério
da Saúde. Como VEJA revelou há duas semanas, a Labogen é uma das empresas do
esquema do doleiro. A Polícia Federal já descobriu que a empresa – que está no
nome de um laranja de Youssef e é tudo menos um laboratório farmacêutico – já
havia conseguido fechar uma parceria com o Ministério da Saúde pela qual
receberia 150 milhões de reais em vendas de remédios para o governo.
No dia 26 de fevereiro deste ano, Vargas escreve para
Yousseff: “Reunião com Gadelha foi boa demais... Ele garantiu que vai nos
ajudar, que sabe da importância, e encaminhou reunião decisiva dia 18, mas
pediu que entregássemos os medicamentos da primeira PDP (Parceria para o
Desenvolvimento Produtivo) e concluíssemos Anvisa, boas práticas aqui em BSB”.
O doleiro elogia o empenho de Vargas: “Que bom. Parabéns.” E diz que já estão
prontos para a Anvisa. “Muito bom”, finaliza Vargas.
Para a Polícia Federal os termos da conversa não deixam
dúvidas: “Os indícios presentes nesta conversa apontam que o interlocutor não
identificado (André Vargas) faz parte do projeto da Labogen junto ao Ministério
da Saúde, e possivelmente atua exercendo influência junto aos responsáveis pela
contratação do governo.” Falando sempre em códigos, André Vargas e o doleiro
falam da necessidade de marcar uma reunião com um interlocutor identificado por
Vargas pelas iniciais “PP”. Aparece na conversa também o nome de um certo
“Marcos”.
No dia 7 de março, outra conversa chama atenção dos
investigadores. Até então, os agentes da Polícia Federal consideravam a
possibilidade de André Vargas ser apenas um homônimo do vice-presidente da
Câmara. As evidências de que se trata mesmo do deputado federal petista
aparecem quando o próprio Vargas combina um encontro com Youssef: “Quer fazer
eu, você e Marcos segunda de noite em Brasília (sic)?”, pergunta o doleiro.
“Tenho reunião com deputados. PP falou de fazermos na quinta”, responde André
Vargas. “A partir dessa afirmação, ficam contundentes os indícios de que o
interlocutor possui contatos no Congresso, pois tem marcada uma reunião com
deputados, provavelmente em Brasília”, registra a PF no relatório.
Ainda segundo a PF, as negociações entre André Vargas e o
doleiro no Ministério da Saúde eram realizadas a partir do secretário de
Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos do ministério, Carlos Augusto
Grabois Gadelha, e de Eduardo Jorge Valadares, diretor do Departamento do
Complexo Industrial e Inovação em Saúde da Secretaria de Ciência, Tecnologia e
Insumos Estratégicos, órgão do Ministério da Saúde. Além dos servidores, o
próprio ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, atualmente pré-candidato
petista ao governo de São Paulo, é citado nominalmente no inquérito da Polícia
Federal justamente por ter assinado o contrato com o laboratório do doleiro.
Ao jornal Folha de S.Paulo, que revelou parte das conversas
hoje, Vargas negou qualquer contato com os servidores citados pela Polícia
Federal. Na semana passada, porém, o vice-presidente da Câmara também negava
ter participado de qualquer reunião com o doleiro em Brasília ou intermediado
qualquer interesse de Youssef. “Eu só conversava com o Youssef em Londrina, no
aeroporto ou num posto de gasolina. Como eu sou um cara que tenho muita
influência no partido do governo, ele queria saber o que estava acontecendo na
política, na economia. Ele queria saber dos cenários econômicos, políticos e eu
só dava os meus pitacos”, disse Vargas. Com o lobby e as reuniões de Vargas em
favor do doleiro escancaradas, tem-se agora a demonstração do que pode estar
por trás de um simples “pitaco”. (VEJA)
Nenhum comentário:
Postar um comentário