Fonte: Folha |
No mundo de Rui Falcão, o
PT é assombrado por uma imprensa contrária aos lindos feitos de seu partido no
governo. O presidente do PT esquece o alerta feito por Huxley: os fatos não
deixam de existir só porque são ignorados. Mas para Rui Falcão as coisas não
deveriam ser assim. Se ao menos os fatos pudessem ser ignorados por uma
imprensa mais subserviente…
Em entrevista à Folha hoje,
Falcão afirma que as pesquisas eleitorais recentes não chegam a preocupar muito
o partido, pois mesmo com tsunami contra o governo, Dilma ainda lidera com
folga e os demais não grudaram nela. Ou seja, a imprensa é que teria, pela
bizarra ótica do petista, criado a maré de ataques ao governo. Imprensa
poderosa essa, que faz até com que uma agência de risco americana reduza a nota
do Brasil! Diz ele:
O rebaixamento da nota [de
classificação de risco do Brasil] é uma notícia negativa. A divulgação das
expectativas de inflação pelo boletim Focus [feito pelo Banco Central com
avaliações do mercado] e pelos analistas econômicos, de que a inflação pode
crescer até setembro, para depois começar a declinar. Você pega os episódios da
Petrobras, apesar de ser uma campanha contra a empresa. E, por último, essas
denúncias, não comprovadas, envolvendo um deputado do PT [André Vargas] em
particular. Houve um verdadeiro tsunami contra o governo e, mesmo assim, ela
continua liderando, os adversários não cresceram e a confiança de mudança está
do nosso lado.
Eu poderia jurar que tudo
isso ocorreu de verdade, e o papel da imprensa foi apenas expor os fatos. O
Brasil foi rebaixado, e isso se deve aos erros do governo Dilma. A inflação
está muito alta, machucando a população, e isso novamente é resultado dos erros
do governo. A Petrobras está imersa em vários escândalos sérios, como a
suspeita compra da refinaria americana, e isso é conseqüência dos erros do
governo. O deputado André Vargas se complicou todo ao ter sua relação estranha
com o doleiro Youssef exposta.
Ou seja, o “tsunami” contra
o governo foi produzido pelo próprio governo. Que, aliás, produz escândalos em
velocidade maior do que a população consegue memorizar e os jornalistas
acompanhar. Agora, chamar os escândalos da Petrobras de “campanha contra a
empresa” é o ápice da cara de pau. A não ser, claro, que Rui Falcão esteja se
referindo ao que os próprios petistas têm feito contra a estatal, isso sim, uma
campanha e tanto de destruição da maior empresa do país.
Falcão ainda aproveitou
para fazer um malabarismo incrível na entrevista: as pesquisas mostram que a
maioria da população deseja mudanças, mas o presidente do PT garante que isso é
sinônimo de que querem mais PT, pois o PT é grande instrumento dessas mudanças.
Entenderam? O povo está insatisfeito com o governo e quer mudanças, e isso é
prova de que o povo quer o PT liderando tais mudanças.
Sobrou ainda uma ameaça à
presidente Dilma na entrevista, um alerta de que sua candidatura é condicional
à permanência no topo das pesquisas:
Mas a candidata continua
liderando, continua ganhando no primeiro turno, por que você vai mudar? Existe
[o coro do 'volta, Lula'], as pessoas falam, o Lula é uma pessoa muito querida,
mas a Dilma também é. Ambos são. [...] Se o Aécio e o Eduardo Campos estivessem
grudando nela, tivessem crescido e ela caído, você poderia até achar que existe
algum risco. Mas isso não ocorreu.
Ou seja, Dilma é a
candidata do PT apenas se seguir distante de Aécio e Campos. Se um deles
começar a “grudar” nela nas pesquisas, então Lula volta. Mas Falcão acha que
não será preciso isso, pois Dilma poderá mostrar seus feitos positivos (?) na
televisão e manter a liderança:
O que o governo tem de
fazer para estancar essa queda e voltar a crescer?
A continuidade das ações do
governo, a aprovação do Marco Civil da Internet.
Calafrios! Quer dizer então
que a aprovação do Marco Civil da Internet é algo crucial para estancar a queda
de Dilma nas pesquisas? Um cínico poderia até suspeitar de que isso se daria
pelo controle da internet, e não pela grande aprovação popular a essa medida…
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