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segunda-feira, 7 de abril de 2014

O mundo assombrado de Rui Falcão


Fonte: Folha
No mundo de Rui Falcão, o PT é assombrado por uma imprensa contrária aos lindos feitos de seu partido no governo. O presidente do PT esquece o alerta feito por Huxley: os fatos não deixam de existir só porque são ignorados. Mas para Rui Falcão as coisas não deveriam ser assim. Se ao menos os fatos pudessem ser ignorados por uma imprensa mais subserviente…

Em entrevista à Folha hoje, Falcão afirma que as pesquisas eleitorais recentes não chegam a preocupar muito o partido, pois mesmo com tsunami contra o governo, Dilma ainda lidera com folga e os demais não grudaram nela. Ou seja, a imprensa é que teria, pela bizarra ótica do petista, criado a maré de ataques ao governo. Imprensa poderosa essa, que faz até com que uma agência de risco americana reduza a nota do Brasil! Diz ele:

O rebaixamento da nota [de classificação de risco do Brasil] é uma notícia negativa. A divulgação das expectativas de inflação pelo boletim Focus [feito pelo Banco Central com avaliações do mercado] e pelos analistas econômicos, de que a inflação pode crescer até setembro, para depois começar a declinar. Você pega os episódios da Petrobras, apesar de ser uma campanha contra a empresa. E, por último, essas denúncias, não comprovadas, envolvendo um deputado do PT [André Vargas] em particular. Houve um verdadeiro tsunami contra o governo e, mesmo assim, ela continua liderando, os adversários não cresceram e a confiança de mudança está do nosso lado.

Eu poderia jurar que tudo isso ocorreu de verdade, e o papel da imprensa foi apenas expor os fatos. O Brasil foi rebaixado, e isso se deve aos erros do governo Dilma. A inflação está muito alta, machucando a população, e isso novamente é resultado dos erros do governo. A Petrobras está imersa em vários escândalos sérios, como a suspeita compra da refinaria americana, e isso é conseqüência dos erros do governo. O deputado André Vargas se complicou todo ao ter sua relação estranha com o doleiro Youssef exposta.

Ou seja, o “tsunami” contra o governo foi produzido pelo próprio governo. Que, aliás, produz escândalos em velocidade maior do que a população consegue memorizar e os jornalistas acompanhar. Agora, chamar os escândalos da Petrobras de “campanha contra a empresa” é o ápice da cara de pau. A não ser, claro, que Rui Falcão esteja se referindo ao que os próprios petistas têm feito contra a estatal, isso sim, uma campanha e tanto de destruição da maior empresa do país.

Falcão ainda aproveitou para fazer um malabarismo incrível na entrevista: as pesquisas mostram que a maioria da população deseja mudanças, mas o presidente do PT garante que isso é sinônimo de que querem mais PT, pois o PT é grande instrumento dessas mudanças. Entenderam? O povo está insatisfeito com o governo e quer mudanças, e isso é prova de que o povo quer o PT liderando tais mudanças.

Sobrou ainda uma ameaça à presidente Dilma na entrevista, um alerta de que sua candidatura é condicional à permanência no topo das pesquisas:

Mas a candidata continua liderando, continua ganhando no primeiro turno, por que você vai mudar? Existe [o coro do 'volta, Lula'], as pessoas falam, o Lula é uma pessoa muito querida, mas a Dilma também é. Ambos são. [...] Se o Aécio e o Eduardo Campos estivessem grudando nela, tivessem crescido e ela caído, você poderia até achar que existe algum risco. Mas isso não ocorreu.

Ou seja, Dilma é a candidata do PT apenas se seguir distante de Aécio e Campos. Se um deles começar a “grudar” nela nas pesquisas, então Lula volta. Mas Falcão acha que não será preciso isso, pois Dilma poderá mostrar seus feitos positivos (?) na televisão e manter a liderança:

O que o governo tem de fazer para estancar essa queda e voltar a crescer?
A continuidade das ações do governo, a aprovação do Marco Civil da Internet.

Calafrios! Quer dizer então que a aprovação do Marco Civil da Internet é algo crucial para estancar a queda de Dilma nas pesquisas? Um cínico poderia até suspeitar de que isso se daria pelo controle da internet, e não pela grande aprovação popular a essa medida…

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