Stalin e Hitler: tudo a ver
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Em 26 de agosto de 1939 Stalin assombrou o mundo com a
assinatura do Pacto Nazi-Soviético. No Kremlin, ele e Von Ribbentrop levantaram
o histórico brinde “pela saúde do grande Fuhrer”, e o Pravda enaltecia, em
editorial, “os laços entre os dois povos, cimentados em sangue”.
É difícil ignorar as conexões psicológicas, filosóficas e
históricas entre o nazismo e o comunismo. No início dos anos 30, os comunistas
apoiaram entusiasticamente os esforços nazistas para derrotar o inimigo comum:
a social-democracia.
Também não dá para ignorar que os primeiros filiados ao
partido nazista eram ex-comunistas. O próprio Hitler não deixou nenhuma dúvida
a esse respeito: “Existem entre nós e os bolcheviques mais pontos comuns do que
divergências” (”Discursos de Hitler”,Hermann Rauchning, página 133).
O Procurador-Geral do Reich, Holand Freisler, havia sido
comissário soviético na Ucrânia e Joseph Goebbles, quando estudante demonstrara
clara preferência pelo socialismo em detrimento do nacionalismo. Estava
convencido de que comunismo e nazismo guardavam a semelhança de sósias e sentia enorme respeito por Lenin (“O Diário
Matinal de Goebbls”, Helmuto Heiber, páginas 24 a 62).
Segundo Hitler, “Não é a Alemanha que irá se tornar
bolchevista e sim o bolchevismo é que se transformará em nacional-socialismo. O
pequeno burguês social-democrata e o chefe do sindicato jamais poderão ser
nacional-socialistas, mas os comunistas, sempre (...) Uma aliança russo-alemã
significa simplesmente a confluência de dois rios que correm para o mesmo mar,
o mar da revolução mundial. A Alemanha e a Rússia, se se unirem, transformarão
o mundo radicalmente” (“Interpretação de Hitler”, Paul Schmidt, página 134).
Hitler e Stalin formaram a mais sórdida aliança de toda a
história. O marechal Ribbentrop, quando chegou a Moscou para firmar o célebre
“pacto cimentado em sangue”, bandeiras com a cruz gamada tremulavam ao lado da
foice e do martelo, com uma banda executando, com ênfase, a “Horst Wessel
Lied”, o hino nazista, e a Internacional. Logo a seguir a Polônia era invadida
pelos exércitos de ambos os países. Folhetos distribuídos por ordem do marechal
Timoschenko inundaram as linhas de defesa polonesas: “Soldados, matem seus
oficiais e generais. Não obedeçam às suas ordens...”.
Em pouco tempo, a fortaleza de Brest-Litovsk caiu após o
ataque conjunto dos exércitos alemão e soviético e mais uma vez as bandeiras
com a cruz gamada e a da foice e o martelo tremularam lado a lado.
A Polônia foi ocupada assim como Engels formulou em sua
carta dirigida a Karl Marx em 23 de maio de 1851, quase um século antes: “Tirem
tudo o que puderem dos poloneses do Leste. Atirem-nos ao fogo, devorem suas
terras e, se os russos concordarem, façam aliança com eles e forcem os
poloneses a ceder”(“A Revolução dos Intelectuais”, páginas 52 e 53).
É sabido que durante o avanço sobre a Polônia, o Exército
Vermelho suplantou os nazistas em matéria de crueldades. De acordo com o
embaixador italiano em Varsóvia, “a barbárie alemã é superada mil vezes pelos
indescritíveis horrores das tropas bolcheviques” (“Diário de Ciano”, página
162).
Depois da pavorosa matança, vagões abarrotados com famílias
seguiram para os campos de concentração nazistas e comunistas. O sinistro apelo
de Engels a Marx tornara-se realidade.
Dados estatísticos comprovam que a polícia secreta soviética
deportou um milhão e meio de poloneses para os campos da morte na Sibéria
(“Trabalho Forçado na Rússia Soviética”, David Dallin e Boris Nicolaevsky,
páginas 263 e 264).
Os soviéticos da NKVD deram uma aula em matéria de
atrocidades aos seus colegas da Gestapo.
Os campos de concentração nazistas pareciam ficar devendo
muito aos seus congêneres soviéticos. Até no temível campo de Dachau vários
cidadãos soviéticos preferiram enforcar-se a voltar para sua pátria.
Os nazistas mataram, mas os soviéticos mataram mais. Os
habitantes da União Soviética, a pátria do socialismo, eram divididos em três
categorias: ex-prisioneiros, prisioneiros, e futuros prisioneiros.
É interessante também recordar o chamado Massacre de Katyn.
O comando alemão fez, em abril de 1943, uma chocante revelação: na floresta de
Katyn, perto de Smolensk, haviam sido descobertos milhares de cadáveres de
oficiais poloneses, enterrados em valas comuns. Moscou reagiu prontamente,
alegando que o referido genocídio havia sido obra do exército alemão, durante
seu avanço em setembro de 1941.
A controvérsia resultou em uma investigação científica,
realizada in loco por uma comissão internacional composta pelos mais renomados
médicos de toda a Europa. Jornalistas de vários países também estiveram
presentes durante a exumação dos corpos.
A cena foi macabra.
Apareceram 4.143 corpos de oficiais poloneses assassinados pela NKVD,
antecessora da KGB. Dentro das valas foram encontrados jornais soviéticos
datados de abril de 1940 (época da vigência do Pacto Nazi-Soviético).
Os cadáveres estavam vestidos com pesadas roupas de inverno,
e o parecer da Comissão foi unânime, responsabilizando a União Soviética pelo
massacre de Katyn. Tanto é assim, que durante os julgamentos de Nuremberg, não
houve nenhuma alusão, em seu veredicto final, a qualquer culpa da Alemanha no
pogrom de Katyn.
Finalmente, em 1989, Mikhail Gorbachev admitiu que a NKVD
foi, realmente, a responsável pelo Massacre de Katyn e, no ano seguinte, com
data de 25 de março de 1990, nos tempos da “glasnost” e da “perestroika”, foi
elaborado um documento, em Moscou, com o título “Lista de Autoridades
Soviéticas e Trabalhadores da NKVD que Participaram da Tragédia de Katyn”, que
pôs um ponto final no assunto.
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Carlos I. S. Azambuja é Historiador.
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