Durante muitos anos, de boas lembranças para si, o PT dançou
livre, leve e solto nas verdejantes planícies da oposição. Tornou-se comum, nos
debates de então, que seus representantes emergissem sobranceiros de qualquer
comparação porque o petismo era um ideal não experimentado, enquanto seus
adversários haviam ralado as unhas nas escarpas e sujado os pés no exercício do
poder. É sempre desigual o confronto em que o ideal de um lado é apresentado em
oposição à prática do outro lado. Obviamente, o melhor discernimento é
proporcionado quando se compara ideal com ideal e prática com prática. Durante
longos anos, no entanto, o PT era apenas ideal em estado puro, com um
apaixonado e combativo séquito de seguidores.
Foram estes seguidores que festejaram a chegada do PT ao
Planalto como definitiva Proclamação da Moralidade na terra de Macunaíma. O
país nunca mais seria o mesmo! Aquele ato merecia um Pedro Américo para
representá-lo sobre tela, dando forma e cor à emoção popular, para admiração
das gerações futuras. Dois anos mais tarde, o petismo idealista fora para o
saco e as comparações desabaram para o terreno da prática. Era prática contra
prática.
A partir daí acenderam-se outras luzes e novas realidades no
tabuleiro do xadrez político. As estrelas que cobriam o território nacional com
adesivos e bandeiras, sumiram envergonhadas. Os petistas remanescentes já se
contentavam com discutir quem tinha o passado mais constrangedor. Como escrevi
anteriormente, corruptos existem em todos os partidos. No entanto, na prática,
o PT se revelou como o partido que defende incondicionalmente seus corruptos,
sem o menor constrangimento. E se isso lhe parece pouco significativo, leitor,
pondere os malefícios sobre o caráter nacional. É demolidor seu efeito quando
se observa que para dezenas de milhões de brasileiros a corrupção deixou de ter
importância. Convivemos com uma corrupção consentida por parcela imensa da população,
cujo incondicional apoio é comprado com a versão popular do mensalão. Levado à
prática, o petismo revelou-se um Midas bifronte, infame, que corrompe tudo que
toca.
Ouvi, recentemente, que o Brasil não iria para os maus
caminhos seguidos por outros queridos parceiros do petismo no entorno
sul-americano. Por quê? perguntei. "Porque o Brasil é grande demais",
respondeu meu interlocutor. Era um otimista. A essas alturas asseguro-lhe,
leitor: não há o que o PT não possa piorar e não possa quebrar. Veja a
Petrobras. O petismo na prática não apenas privatizou a empresa em nome próprio
como jogou seus papéis na sacola do lixo seletivo. E a Petrobras era grande
demais, era uma companhia gigantesca, respeitadíssima, que agora vê seu nome
nas manchetes e nas páginas policiais.
O petismo na prática passou a apresentar todas essas
denúncias que saltitam qual pipoca na panela como coisa meritória. "Antes
era muito pior, mas não se podia investigar", dizem seus defensores, numa
ligeira sugestão, impessoal e marota, sem endereço nem remetente, que não tem
testemunha ou evidência a apresentar. E o não dito fica como se dito fosse. O
que mais assusta é saber que já não podemos contar com as instituições da
República. Também elas estão contaminadas pelo Midas bifronte que as colocou
sob seu mando e manto.
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* Percival Puggina (69) é arquiteto, empresário, escritor,
titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais
e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da
utopia e Pombas e Gaviões, membro do grupo Pensar+.
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