Gabrielli: há pouco mais de um ano, em resposta ao blog, afirmou que a Petrobras havia conseguido desconto na compra de refinaria |
Não tem jeito: a cada enxadada, uma minhoca. Raia o dia, e
lá vem uma nova informação sobre a compra da refinaria de Pasadena que empurra
mais e mais o caso para a esfera da polícia — embora, é evidente, ele seja
também um caso de política. Ora, se é assim que a Petrobras executa as suas aquisições,
e dado que um de seus mais importantes ex-diretores está na cadeia, a gente
imagina o padrão de governança da empresa. Salvem a Petrobras antes que acabe!
R$ 200 bilhões em valor de mercado já foram para o ralo da irresponsabilidade
petista. O que sobrou é menos da metade do que havia há três anos. A Petrobras
tem de ser devolvida a seus legítimos donos: o povo brasileiro, representado
pelo Estado, e os acionistas minoritários, que estão sendo logrados.
Como já se sabe, os próprios belgas da Astra, ao vender a
primeira metade da refinaria à Petrobras, saudaram o negócio excepcional e o
ganho acima de qualquer expectativa. Na Folha deste sábado, há uma reportagem
sobre os desentendimentos entre a Astra e a Petrobras. Reproduzo trecho (em
vermelho) do texto de Isabel Fleck, Raquel Landim e David Friedlander. Volto em
seguida.
Os executivos da Petrobras faziam muita “besteira”, eram
“extravagantes” nos gastos e qualquer decisão levava “10 vezes mais tempo que o
necessário”. Era assim que os belgas da Astra se referiam aos seus sócios
brasileiros na refinaria de Pasadena, no Texas (EUA).
Os comentários pejorativos de Mike Winget, presidente da
Astra, e seu diretor de operações, Terry Hammer, aparecem numa troca de e-mails
com outras cinco pessoas da equipe, datada de 2 de novembro de 2007 e obtida
pela Folha na Justiça do Texas.
Retomo
O clima era beligerante, havia desentendimento entre os
sócios, e os belgas decidiram, então, fazer valer a cláusula que obrigava a
Petrobras comprar a outra metade. Até aí, bem. Num dos e-mails obtidos pela
Folha, Winget escreve, referindo-se aos negociadores com os quais dialogava,
que “não ficaria surpreso se a Petrobras já tiver se dado conta de que a
refinaria não vale os US$ 650 milhões que eles [os negociadores brasileiros]
sinalizaram”.
Entenderam? Eles mesmos sabiam que a refinaria não valia
aquilo tudo. Ao Congresso, no entanto, Graça Foster afirmou que as
condições do mercado à época
justificavam aquele preço. Nem os donos originais achavam isso!
Multa e passivo ambiental
Reportagem levada ao ar na noite desta sexta pelo Jornal
Nacional evidencia que Pasadena ainda não parou de sangrar o cofre do Brasil. O
Condado de Harrys acionou a refinaria na Justiça para receber uma multa US$ 6
milhões, soma de tudo o que ela deixou de recolher em impostos desde 2005, sem
contar que, em 2012, o condado fechou com a Petrobras um acordo para o
pagamento de uma multa de US$ 750 mil por causa da poluição do ar em anos
anteriores. Rock Owens, que é advogado da área ambiental de Harrys diz que o
valor da venda da refinaria chamou a
atenção na época. Ele explica por quê: “Era a venda de uma refinaria velha a um
preço premium que não deveria ter sido pago. E sem os reparos que recomendamos
desde os anos 80, que não foram feitos”.
Os sócios da Astra sabiam que a empresa não valia tudo
aquilo; o advogado do Condado de Harrys sabia que a refinaria não valia tudo.
Intuo que os diretores que realizaram a operação também soubessem, não é? O
conselho, no entanto, foi levado no bico — e Dilma decidiu ignorar o assunto
depois, como conselheira da Petrobras, como ministra e como presidente da
República.
Mas a Petrobras não contratou consultoria? Pois é. Aí é
preciso lembrar a reportagem do Globo que mostra que a avaliação foi feita às
pressas, em apenas 20 dias. Os avaliadores contratados, da BDO Seidman,
deixaram claro que não tiveram tempo de fazer o trabalho adequado e se eximem
de eventuais problemas posteriores. Recomendam à Petrobras que faça, então, ela
própria a avaliação. E a Petrobras fez. Sabem quem a ajudou? A então diretora
financeira da Astra, Kari Burke. É do balacobaco!
Não por acaso, informa outra reportagem da Folha, “a análise
[sobre o preço da refinaria] contemplava três cenários, com cinco situações em
cada, nas condições em que se apresentava a refinaria na época. A mais
conservadora estabelecia que Pasadena inteira custava US$ 582 milhões. A mais
otimista atingia US$ 1,54 bilhão. Com o estudo na mão, Nestor Cerveró decidiu
oferecer US$ 700 milhões por 50% do ativo. O fato de a oferta não corresponder
à metade de nenhuma das cifras apresentadas no estudo chamou atenção da CVM
(Comissão de Valores Mobiliários), que questionou a escolha de valores
“aleatoriamente, sem comprovação, entre todos os cenários possíveis”
Entenderam? Foi Cerveró que ofereceu os US$ 700 milhões pela
segunda metade — que depois acabaram se transformando em R$ 820,5 milhões. Aí,
sim, a operação foi vetada pelo Conselho e teve início a disputa judicial.
Dilma pode até explicar como foi enganada na condição de membro do conselho. A
sua omissão posterior é que é inexplicável, com Cerveró assumindo a direção
financeira da poderosa BR Distribuidora. Curiosamente, a presidente mandou
demiti-lo antes de qualquer investigação.
Dá para entender por que o mercado se animou quando a
oposição conseguiu o número de assinaturas no Senado para fazer a CPI da
Petrobras. É a esperança de que uma comissão de inquérito contribua para botar
ordem na bagunça. Como se nota, mais de uma vez, os próprios belgas se
mostraram espantados — e até incrédulos — com a, por assim dizer, generosidade
da Petrobras.
Durante um bom tempo, como sabem, este blog foi o único
veículo a manter Pasadena na pauta. No dia 17 de dezembro de 2012, informei aqui, o site Bahia Notícias
publicava o seguinte (em vermelho):
O secretário de Planejamento e ex-presidente da Petrobras,
Sérgio Gabrielli, esclareceu por meio de nota as afirmações feitas pelo
colunista da revista Veja, Reinaldo Azevedo. Por meio de nota, a assessoria do
titular da Seplan informa que a pauta “é requentada”.
“Em novembro 2005, a Petrobras assinou um Memorando de
Entendimento com a Astra Oil Company (Astra). Em setembro de 2006, a Companhia
concluiu a aquisição através de sua subsidiária Petrobras America Inc. (PAI).
Desentendimentos entre os sócios levaram a Astra a requerer o direito de vender
seus 50%”.
Segundo o documento, o valor foi acrescido de juros e outras
atribuições durante o processo arbitral. “A Petrobras empenhou seus melhores
esforços e obteve uma redução significativa no montante pleiteado pela Astra.
Em junho de 2012, um acordo extrajudicial totalizou US$ 820 milhões. Parte
desse montante, US$ 750 milhões, já vinha sendo provisionado, restando o
complemento de provisão de US$ 70 milhões”, diz a nota. “O acordo tornou a
refinaria [de Passadena] um ativo negociável, ainda que não haja uma
obrigatoriedade nem urgência em se desfazer da mesma”, finaliza o comunicado.
Encerro
Até aquela data, Gabrielli achava que bastava arrogância
para matar o assunto. Vejam quanta notícia tem rendido o “assunto requentado”.
Mais: segundo sustentou então, a Petrobras ainda havia conseguido uma “redução”
(!!!) no valor da compra.
Um caso de política. Um caso de polícia.
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