Por Percival Puggina
1. O PAÍS PERDE TRINTA ANOS EM 13
Os responsáveis pela crise brasileira podem ser
classificados em três grupos principais. O primeiro inclui políticos,
governantes e formadores de opinião que, numa rara e fecunda combinação de
ignorância, incompetência e desonestidade, jogaram o país no abismo. O segundo
é formado pelos que se beneficiando do governo concederam sucessivos mandatos a
quem, diligentemente, conduzia o país de volta aos anos 80. Uniram-se no palco
para a grande mágica petista: o país perde trinta anos em 13! O terceiro é o
dos tão descontentes quanto omissos. Refiro-me à turma que não sai do sofá.
Quando a água bate nas canelas, pegam as velhas listas telefônicas e sentam em
cima. Estes últimos incorrem no gravíssimo pecado de omissão. Eu ficaria feliz
se os ônus do que vem por aí incidisse, direta e pessoalmente, sobre cada um
desses três grupos em vez de se repartir de modo tão injusto sobre o conjunto
da população.
2. OMISSOS!
É gravíssimo o pecado dos omissos no atual momento
histórico brasileiro! O sujeito lê uma pesquisa e fica sabendo que quase 70% da
população quer o impeachment da presidente e que ela conta com a confiança de
menos de 8% da sociedade. Diante desses dados, em seu comodismo, ele se
considera contado e se dá por representado. Naquela cabeça de cidadão omisso, o
dado da pesquisa fala por ele. Representa-o.
3. TERCEIRIZAM O PRÓPRIO DEVER
Pouco importa se seu congressista, ou o Congresso inteiro,
não o fazem. Pouco lhe interessa se o único assunto das lideranças com poder de
fogo no parlamento é a formação de um "acordão" que mantenha tudo
como está. Não o perturba a inconfiabilidade dos tribunais superiores. Ele
terceirizou todas as suas responsabilidades cívicas. Ou o fez para as Forças
Armadas, que não podem e não devem intervir fora das previsões constitucionais.
Ou o fez para o juiz Sérgio Moro, como se o bravo magistrado e a sala onde
trabalha não estivesse situada no andar térreo do enorme e pouco confiável
edifício judiciário. A pachorra dos processos criminais contra personalidades
do mundo político é simétrica à pachorra dos cidadãos omissos. E esta serve
àquela.
4. MOBILIZAÇÃO OU CAOS
No entanto, o fio pelo qual pende esse trágico governo, só
poderá ser rompido quando a mobilização do povo, fonte legítima de todo poder,
alcançar proporções multitudinárias, se dezenas de milhões (e não centenas de milhares)
forem às ruas, pacífica e ordeiramente, rugir de modo reiterado e insistente
sua inconformidade para desestabilizar a quietude das instituições.
Uma das páginas mais aviltantes da nossa história está sendo
escrita no tempo presente com as tintas da ignorância, da incompetência, da
desonestidade e da omissão.
__________________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é
arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista
de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra
o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do
grupo Pensar+.
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