Em sua delação premiada, o lobista conta que acerto de 2
milhões de reais foi feito em 2010, dentro do comitê eleitoral da petista em
Brasília, e que a logística da entrega ficou a cargo do ‘Dr. Charles’, braço
direito do ex-ministro
No segundo semestre de 2010, a inflação estava controlada, o
Brasil crescia em ritmo chinês e as taxas de desemprego eram consideradas
desprezíveis. A sensação de bem-estar, a propaganda oficial maciça e a
popularidade do então presidente Lula criavam as condições ideais para que
Dilma Rousseff passasse de mera desconhecida a favorita para vencer as
eleições. Paralelamente, um grupo pequeno de políticos e servidores corruptos
da Petrobras acompanhava com compreensível interesse os desdobramentos do
processo eleitoral. Foi nesse cenário que a campanha de Dilma e o maior esquema
de corrupção da história do país selaram um acordo que, se confirmado, pode se
transformar na primeira grande evidência de que o petrolão ajudou a financiar a
campanha de Dilma Rousseff. Mais que isso. Se confirmado, estará provado que os
coordenadores da campanha sabiam da existência do aparelho clandestino de
desvio de dinheiro da Petrobras, se beneficiaram dele, conheciam seus
protagonistas e, no poder, deixaram que tudo continuasse funcionando
tranquilamente até o ano passado, quando a Polícia Federal e a Procuradoria da
República no Paraná desencadearam a Operação Lava-Jato.
A lógica permite afirmar que seria impossível um esquema
responsável por desviar quase 20 bilhões de reais, que envolve ministros de
Estado, senadores, deputados aliados e a cúpula do PT, o partido que está no
poder desde que tudo começou, existir sem o conhecimento do presidente da
República. Os fatos, a cada novo depoimento, apontam na mesma direção.
Condenado por corrupção e lavagem de dinheiro, o lobista Fernando Soares, o
Fernando Baiano, negocia um acordo de delação premiada com a Justiça. Ele já
prestou vários depoimentos. Num deles, contou ter participado pessoalmente da
operação que levou 2 milhões de reais à campanha petista. No ano passado, o
ex-diretor Paulo Roberto Costa disse que o ex-ministro Antonio Palocci, então
coordenador da campanha de Dilma, lhe pedira 2 milhões de reais. O dinheiro,
segundo ele, foi providenciado pelo doleiro Alberto Youssef. Ouvido, o doleiro
afirmou que desconhecia a existência de qualquer repasse a Antonio Palocci. A
CPI da Petrobras chegou a promover uma acareação entre os dois para tentar
esclarecer a divergência. Sem sucesso. Baiano contou detalhes que não só
confirmam as declarações de Paulo Roberto e de Alberto Youssef como ampliam o
que parecia apenas mais uma fortuita doação ilegal de recursos. É muito mais
grave.
O acordo para repassar o dinheiro foi fechado no comitê
eleitoral em Brasília depois de uma reunião entre Fernando Baiano, Paulo
Roberto Costa e o ex-ministro Antonio Palocci. De acordo com o relato de
Baiano, Dilma caminhava para uma eleição certa e, até aquele momento, ainda não
se sabia o que ela pensava a respeito do futuro comando da Petrobras.
Coordenador-geral da campanha, Palocci forneceu algumas pistas e fez o pedido:
precisava de 2 milhões de reais. Antes de a reunião terminar, recomendou que
acertassem a logística do repasse do dinheiro com "o Dr. Charles",
seu assessor no comitê. E assim foi feito. Combinou-se que, para a segurança de
todos, era melhor que a propina fosse entregue num hotel de São Paulo. E assim
foi feito. No dia indicado, um dos carros blindados do doleiro Youssef
estacionou na garagem de um conhecido hotel de São Paulo, e uma mala cheia de
reais foi desembarcada e entregue a um homem que já a aguardava.
A suposta contradição entre Youssef e Paulo Roberto sobre a
entrega do dinheiro também foi esclarecida. Depois da versão apresentada por
Baiano, o doleiro foi novamente ouvido. Ele não mentiu ao afirmar que nunca
entregara dinheiro a Antonio Palocci. Por uma razão: ninguém lhe informou que
aquela entrega atendia a uma solicitação do ex-ministro. Youssef, que era o
distribuidor de propinas aos parlamentares do PP, contou que, no dia indicado,
ele de fato encheu uma mala com maços de dinheiro, amarrou outros pacotes ao
próprio corpo e dirigiu-se num carro blindado para o hotel Blue Tree, na
Avenida Brigadeiro Faria Lima, em São Paulo. O que era uma acusação considerada
mentirosa, descabida e sem provas pelo ex-ministro Palocci ganha evidências que
precisam ser esclarecidas em profundidade.
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