terça-feira, 30 de junho de 2015

O realejo dos pânicos verdes nunca concretizados

Por Luis Dufaur


A profecía: milhões de pessoas morreriam de fome nos anos 70. A Índia superlotada estava condenada irremediavelmente e “a Inglaterra deixaria de existir por volta do ano 2000”
A profecía: milhões de pessoas morreriam de fome nos anos 70. 
A Índia superlotada estava condenada irremediavelmente e 
“a Inglaterra deixaria de existir por volta do ano 2000”
Pela metade dos anos 60 do século XX foi moda na política e na mídia espalhar visões de pesadelo sobre uma desastrosa saturação populacional da Terra. 


Em 1966, o escritor Harry Harrison publicou a apavoradora novela de ficção intitulada “Make Room! Make Room!”, em que imaginava massas humanas disputando os escassos recursos da terra em fase de extinção. O livro inspirou o filme ecolo-infernal “Soylent Green” (“No Mundo de 2020” / “À Beira do Fim”) 
2015: Ehrlich, não se arrepende de suas falsas profecias. Ele diz que sua intenção continua incólume: “conscientizar” da catástrofe que estaria despencando sobre nós.
2015: Ehrlich, não se arrepende de suas falsas profecias. 
Ele diz que sua intenção continua incólume: “conscientizar” 
da catástrofe que estaria despencando sobre nós.



O duo pop Zager & Evans batia recordes cantando “no ano 2525, se o homem ainda estiver vivo”. A canção martelava que a humanidade estava esgotando demencialmente os recursos da Terra, numa clara mensagem ecológica. 


The New York Times elaborou um documentado dossiê e vídeo sobre aquela onda de pânico irracional. Numa perspectiva histórica quem viveu aqueles anos custa imaginar como foi possível que personagens importantes e grandes organismos políticos, religiosos e midiáticos puderam acreditar e se transformar em apóstolos dessa irrealidade hoje incompreensível.



Segundo o documentário, ninguém foi “mais influente ou mais aterrorizador que o biólogo da Universidade de Stanford, Paul R. Ehrlich, com seu livro ‘A bomba populacional’”. 



A partir de 1968, a ’jeremiada’ de Ehrlich pressagiava um apocalipse inevitável. Ele socava as mentes, nos termos do jornal nova-iorquino, declarando que “a batalha para alimentar a humanidade estava perdida”.

O pânico induzido contra uma superpopulação nunca se verificou. A humanidade cresceu, o número de pobres diminuiu vertiginosamente. Mas, a 'revolução verde' tenta reviver temores falsos de meio século atrás.
O pânico induzido contra a superpopulação foi uma fraude. 
A humanidade cresceu, o número de pobres diminuiu 
vertiginosamente. Mas, a 'revolução verde' tenta reviver 
temores falsos de meio século atrás.


Ehrlich pregou de público que centenas de milhões de pessoas morreriam de fome nos anos 70, dos quais 65 milhões seriam americanos. A Índia superlotada estava condenada irremediavelmente e “a Inglaterra deixaria de existir por volta do ano 2000”. 


Ele não se contentava com as mortes maciças e em 1970 alertava que “em algum momento dos próximos 15 anos, chegará o fim”. Por “fim” ele entendia “um colapso total da capacidade do planeta para sustentar a humanidade”.
A Inglaterra e a Índia hoje melhoraram bem e não houve as centenas de milhões de mortes pela fome que ele vaticinou.

A população do planeta duplicou, supera os sete bilhões, o número dos pobres diminui vertiginosamente e a produção de alimentos e energia se multiplicou assombrosamente.

Como semelhantes predições apocalípticas hoje manifestamente inverossímeis puderam algum dia ser adotadas como figurinos da política, da religião e da mídia?

Na série Retro Report, The New York Times decidiu dedicar um espaço especial com documentários analisando o esquisito mecanismo difusor de pânicos irracionais que tomou conta dos anos 60.

O caso interessa muito ao presente, quando análogos pânicos igualmente ilógicos são difundidos produzindo efeitos semelhantes.

Decorridos 47 anos, o Dr. Ehrlich não somente não faz o mea culpa pelo crasso erro cometido, mas, muito pelo contrário, interrogado pelo jornal, afirma que as datas que anunciou não têm importância alguma.

Para ele, o fim vem de qualquer jeito e é necessária uma drástica diminuição da natalidade e da própria humanidade já nascida. Se os homens não aceitarem praticar métodos voluntários, um acordo mundial deverá fixar “diversas formas de coerção”, como eliminar os auxílios sociais e previdenciários ou cortar as deduções tributárias aos que têm filhos.

Esse profeta da ecologia global diz que permitir às mulheres ter os filhos que desejarem é tão grave como permitir que qualquer um “possa jogar todo o lixo descartado no jardim do vizinho como bem entende”.

As declarações hodiernas desse porta-voz do mundo ecologicamente educado são de tal maneira ominosas, que causariam vertigem nos crentes de outrora em seus medos pelo suposto esgotamento dos recursos planetários, escreve o jornal.


Até o presidente Nixon dos EUA acreditava no mito e pregava cortar o crescimento da população.
Até o presidente Nixon dos EUA acreditava no mito 
e pregava cortar o crescimento da população.
Mas, felizmente, não ficaram só ambientalistas fanáticos daquela década. Certos líderes verdes radicais modificaram seu palavreado. Stewart Brand, fundador do Whole Earth Catalog, aberto à contracultura radical chic e anarquista, respondeu ao Retro Report: “Talvez o fim não virá porque aquele raciocínio estava errado”.



No entanto, os defensores do bom senso continuam sofrendo um tratamento injusto. Por exemplo, Norman E. Borlaug, o biólogo que ganhou o Prêmio Nobel e o título de “o homem que salvou um bilhão de vidas” e que é tido como pai da revolução agro-industrial, ou agronegócio, e da utilização maciça dos OGM. 



Borlaug sublinha que a falta de recursos em algum lugar do planeta é sempre resultado da incompetência e da corrupção dos governos e dos responsáveis locais. 



O problema é que os supostos defensores da ecologia e da humanidade sabotam a aplicação da tecnologia já dominada e disponível para suprir as carências planetárias.



Fred Pearce, especialista britânico em população global, não está preocupado com o fantasma de a Terra ter habitantes em excesso. A sua verdadeira preocupação é com a baixa taxa de natalidade que não permite a reposição da população, e não só nos países industrializados. 

Hoje até a China está ameaçada por falta de mão de obra que sustente a produção.
Hoje até a China está ameaçada por falta de mão
de obra que sustente a produção.

Por isso ele escreveu em 2010 o livro-denúncia The Coming Population Crash and Our Planet’s Surprising Future (A próxima débâcle populacional e o surpreendente futuro do nosso planeta), publicado pela Beacon Press.

Porém, os modelos demográficos da ONU calculam um auge de nove bilhões de habitantes por volta de 2050 e predizem cenários estarrecedores.

Porém, fora da ONU, as projeções demográficas divergem muito.

A inoculação do pânico fica patente, diz o jornal, na manipulação dos números da densidade populacional. A ideia dos semeadores de pânico, na ONU e alhures, é que as grandes concentrações populacionais são uma fonte infalível de pobreza e males sociais.

Mas, segundo a ONU, os três lugares com a maior densidade populacional são o Mônaco, Macau e Singapura. Nenhuma dessas cidades-estado entra, nem mesmo muito remotamente, na categoria dos casos desesperados apontados pelos pontífices do apocalipse ambientalista, da desigualdade intrinsecamente geradora de fome e de injustiças.

Tampouco o crescente consumo nos países mais ricos pode ser visto como uma ameaça ao planeta, escreveu o Dr. Pearce em 2010 na revista britânica Prospect.

A maior parte do crescimento do consumo aconteceu em países ricos que acolheram números substanciais de imigrantes. E esses passaram a viver segundo os padrões de consumo mais elevados de suas novas pátrias, constatou Pearce.

Em poucas palavras, o aumento do consumo das populações aconteceu sem dano global relevante e com largos benefícios para imensas camadas da humanidade, especialmente as mais pobres.

Com as novas tecnologias, a Índia aumentou a produção de alimentos, atende suas necessidades e ainda exporta.
Com as novas tecnologias, a Índia aumentou a produção
de alimentos, atende suas necessidades e ainda exporta.
Os pânicos abstrusos relacionados com o espectro de um planeta superlotado diminuíram. Porém, eles continuam latejando à sombra dos pavores ligados às mudanças climáticas, aquecimento global e conexos, diz o Dr. Pearce.

O slogan “crescimento populacional zero” (“zero population growth”) foi um grito de batalha que não se ouve muito em nossos dias.

Mas, o fanatismo dos disseminadores do pânico do fim do mundo não cessou.

O próprio Dr. Ehrlich, hoje com 83 anos, não se arrepende de suas sinistras e falsas profecias. Ele diz que não repetiria tudo o que disse, mas que sua intenção continua incólume: “conscientizar” da catástrofe derradeira que estaria despencando sobre nós.

Mas essa catástrofe apocalíptica se parece cada vez mais com uma intenção de bloquear o progresso da humanidade, de impedir a organização hierarquizada e harmônica dos homens entre si, com famílias numerosas e no regime de propriedade privada, livre iniciativa e consumo brilhante.

Ehrlich continua convencido de que o Dia do Juízo Final está na volta da esquina. Indagado pelo Retro Report de The New York Times se repetiria suas pregações dos anos 60, o pontífice do terror verde respondeu que hoje “minha linguagem seria ainda mais apocalíptica”.

O Retro Report elaborou um cuidadoso documentário financiado em parte pelo Pulitzer Center on Crisis Reporting. O vídeo não visa o lucro e foi resultado do trabalho de 13 jornalistas e 10 auxiliares.

O leitor pode vê-lo em seguida.

Mas prepare-se para uma surpresa: vai encontrar os maiores potentados da Terra, que o leitor talvez conheceu ou ouviu falar, fazendo seus os discursos mais aberrantes e mais contrários ao bem da humanidade.

Pelo contrário, pareciam inebriados pelos aplausos que atrairia seu gesto salvador apoiado num largo consenso, sem atentar para o inumano absurdo que estavam espalhando.

Video: O realejo dos pânicos verdes nunca concretizados

In the 1960s, fears of overpopulation sparked campaigns for population control. 
But whatever became of the population bomb? By RetroReport on Publish Date 
May 31, 2015. Photo by Rajanish Kakade/Associated Press.


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