Há algum tempo a imprensa tem, sistematicamente, dado destaque a
algumas revelações verdadeiramente escandalosas sobre o envolvimento de
políticos, empresários e autoridades governamentais em atos desairosos e
denunciado o enriquecimento ilícito de maus patriotas no exercício da função
pública.
Se adicionarmos a estes lamentáveis casos as denúncias e investigações
que envolvem, em diferentes oportunidades, funcionários do setor
administrativo, inclusive colaboradores diretos da Presidência da República,
chega-se à conclusão de que a maré de anomalias, torpezas e suspeitas está
profundamente enraizada nos três poderes do Estado.
Constatamos, com imensa tristeza, no atual cenário político nacional,
inumeráveis e lamentáveis fatos que vêm sistematicamente ocorrendo, envolvendo
autoridades públicas – especialmente ministros de Estado e funcionários do
primeiro escalão governamental – que o nosso país se encontra em avançado
processo de putrefação moral. O zênite desses descalabros recentemente veio à
tona com os escândalos e desvios perpetrados contra a Petrobras, que acolhia em
seus quadros administradores corruptos, apadrinhados de políticos, a serviço de
entidades espúrias.
E se esse processo deletério não for estancado, a curto prazo, a
projeção que podemos fazer para o futuro é dramática. Portanto, algo deve ser
feito para estancar, de imediato, com todos esses desatinos.
Os fatos, ao longo dos últimos anos, mostram que os detentores do
poder, urdiram um plano diabólico para, paulatinamente, desmontar o poder de
reação da sociedade brasileira para perpetuarem-se no poder e manterem o
perverso e abominável status quo.
Mas, bem sabemos, tal processo deletério não muda – apenas – com
promessas, com palavras ou com intenções. Só ações efetivas, tomadas por
pessoas de têmpera forte e com qualidades de liderança, poderão transformar as
esperanças em decisões e, consequentemente, em ações.
Ações que irão debelar essa pletora inominável de desvios de conduta de
mentes doentias e mentirosas que, os fatos, sempre eles, mostram, comprovam, e
vêm dominando, nestes últimos anos, o nosso país, em todos os seus quadrantes.
Portanto, só com ações efetivas poderá ser saneada a contaminação que
tomou conta do Brasil. Um país onde muitas prefeituras contam com prefeitos e
vereadores corruptos e corruptores. O mesmo acontece com governadores,
deputados distritais, estaduais, federais, senadores e até mesmo os que
deveriam zelar pela manutenção e a aplicação da lei: os juízes.
E esse quadro devastador se estende, segundo os fatos tão alardeados,
até aos pontos mais elevados da estrutura de poder nacional. Um absurdo
inominável! Urge, pois, que medidas efetivas e saneadoras sejam tomadas para
resgatar a saúde moral de nosso país. Para que sejamos, um dia, de fato, uma
Nação.
E, afinal, qual será o futuro se esse processo continua? Se todas as
aves de rapina continuam livres e a esbulhar o país? Com tantos privilégios e
com essa brutal excrescência denominada “foro privilegiado”. Assim, o que está
em jogo é o futuro de todos nós, e, em especial, de nossos filhos e nossos
descendentes.
E, por último, mas não menos importante, o que podem os cordeiros
contra os lobos? Nada! Cordeiros sem proteção são e serão, por certo, presa
fácil nas mãos predadoras de todos esses que aí estão a esbulhar, livremente, o
patrimônio brasileiro. Patrimônio que foi criado e acumulado com o trabalho, a
luta, o denodo, o vigor, o sofrimento e o sangue de nossos pais e nossos
ascendentes.
Uma história de lutas que, agora, assistimos impotentes, se perder nas
mãos insidiosas e espúrias de todos esses lobos que saqueiam o país e nos
tratam, a todos, como marionetes.
E, tragicamente, além de roubarem o próprio país eles não pensam duas
vezes em se submeter e entregar as riquezas de nosso solo, aos algozes de
sempre e que têm seus atos de dominação tão bem registrados e consubstanciados
na História Mundial.
É muito difícil para a opinião pública assimilar o caudal de
informações deprimentes que golpeiam, diariamente, a sensibilidade dos
cidadãos, sem que seja experimentado um profundo desalento moral e observado,
com um fundo de incredulidade, o funcionamento das instituições sobre as quais
repousa a ordem republicana.
Ante esta dura realidade é imprescindível criar-se, o quanto antes, as
condições que permitam reconstruir o prestígio da Organização Estatal, hoje
fortemente afetado pela sordidez desses maus brasileiros.
Uma sociedade que não confia em suas instituições dificilmente poderá caminhar
com passo firme na direção de metas perduráveis de progresso, justiça e
bem-estar. A honorabilidade dos homens públicos, qualquer que seja o nível e a
natureza de sua função, é um oxigênio insubstituível para o desenvolvimento da
capacidade criativa do corpo social, que dificilmente mobilizará, com
profundidade, suas energias espirituais e materiais, se considerar que o fruto
de seu esforço será aproveitado, desavergonhadamente, pela voracidade, ambição,
vileza e falta de escrúpulos de uns poucos.
À imprensa lhe corresponde uma missão fundamental nessa empreitada de
reconstrução nacional. Na maioria das vezes tem sido a mídia o instrumento de
denúncia de manejos ilícitos por quem exerce o poder (seja de quem tenha
chegado à função pública pelo voto popular ou de quem desempenha cargo de
confiança em virtude de nomeação).
É alarmante imaginar quantos focos de corrupção teriam permanecido
ocultos se os profissionais de imprensa não lhes houvesse focado a luz. Daí
ressalta-se o valor estratégico da liberdade de expressão como pilar da ordem
constitucional.
Frente à onda de seguidos fatos e focos de corrupção que ameaçam erodir
os alicerces do Estado, toda a sociedade brasileira deve pôr-se de pé, para
exigir que os atos ilícitos identificados e denunciados pela imprensa – desde
que devidamente comprovados – sejam punidos exemplarmente, e que os controles
do sistema democrático funcionem com eficácia e em plenitude, na salvaguarda da
transparência moral, que é a virtude suprema da República.
____________________
Manuel Cambeses Júnior é Coronel-Aviador da Força Aérea
Brasileira; membro emérito do Instituto de Geografia e História Militar do
Brasil, membro da Academia de História Militar Terrestre do Brasil e
conselheiro do Instituto Histórico-Cultural da Aeronáutica.
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