Protesto contra Dilma na Paulista e em favor da auditoria
nas eleições (Eduardo Anizelli/Folhapress)
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Nesta tarde, houve dois protestos em São Paulo. Um deles
reuniu, segundo a PM, pelo menos 2.500 pessoas na Avenida Paulista — e não mil,
como está no UOL. A outra, uns 200, no Largo da Batata. Ambas foram convocadas
pelo Facebook. O primeiro cobra uma auditoria na eleição presidencial de 2014 e
pede o impeachment de Dilma; a segunda, pela enésima vez, culpa o governador
Geraldo Alckmin pela crise hídrica em São Paulo. Não funcionou no primeiro
turno, não funcionou no segundo turno, tenta-se agora o terceiro turno. Não
está funcionando de novo… Mas sigamos.
A esmagadora maioria das pessoas que se manifestavam na
Avenida Paulista cobrava a auditoria e defendia o impeachment de Dilma na
suposição de que ela conhecia a roubalheira na Petrobras, conforme afirmou à
Polícia Federal e ao Ministério Público o doleiro Alberto Youssef. Nem é
necessário demonstrar — mas, se for preciso, demonstro com facilidade — que a imprensa
paulistana trata com simpatia todos os protestos das esquerdas, as marchas em
favor da maconha e até os black blocs. Alguns de seus defensores são alçados à
condição de intelectuais. Já um protesto que não é organizado por
“progressistas”, bem, aí cumpre ridicularizar as pessoas, transformá-las numa
caricatura, enxovalhá-las, reduzi-las à condição de golpistas.
Vamos lá: a esmagadora maioria dos cartazes da Paulista
trata de uma suposta fraude na eleição, pede a auditoria na eleição e defende o impeachment (dada aquela
suposição, claro!, que tem de ser comprovada). Um senhor, no entanto — e ainda
que houvesse 10, 20 ou 100 —, pede uma intervenção militar. A prova de que é
“avis rara” no protesto é que foi, ora vejam!, entrevistado pela Folha e pelo
Estadão, que, milagrosamente, publicam quase a mesma matéria, com diferenças
que estão apenas no detalhe. Seu nome é Sérgio Salgi, tem 46 anos e é
investigador de polícia. E por que ele foi achado pelos repórteres dos dois
jornais? Porque carregava um cartaz “SOS Forças Armadas”. Bastou esse cartaz
para que a Folha Online desse o seguinte título: “Ato em SP pede impeachment de
Dilma e intervenção militar”. Se algum maluco estivesse na passeata cobrando
ajuda aos marcianos, o título poderia ser: “Ato em SP pede impeachment de Dilma
e intervenção dos ETs”.
Não é a primeira vez que isso acontece. Em 2007, embora
fossem outras as circunstâncias, surgiu o “Movimento Cívico pelo Direito dos
Brasileiros”, que ficou conhecido como “Cansei”. Seus promotores foram impiedosamente
ridicularizados pela imprensa e por personalidades púbicas a serviço do PT.
Foram tachados de representantes da “elite branca”. A notícia do mensalão tinha
menos de dois anos, o escândalo dos aloprados, menos de um, mas uma simples
manifestação de protesto foi tratada como coisa de golpistas.
O Globo Online também noticia o protesto em São Paulo. O
repórter não entrevistou o policial Sérgio Salgi, mas encontrou outra maneira
de enxovalhar os que protestavam. Transcrevo: “O protesto reúne muitas senhoras
de guarda-chuva, em razão do sol forte. Algumas levaram seus cachorrinhos de
estimação para o protesto”.
Manifestações das esquerdas, como vocês sabem, contam com
uma palavra que a imprensa adora: “ativistas” — não sei o que é isso; deve ser
o oposto complementar dos “passivistas”… Já um ato que é inequivocamente
caracterizado como “de direita”, bem, esse conta com “senhoras de
guarda-chuva”… Sabem como são as dondocas: não querem se pelar ao sol. Entre as
2.500 pessoas, contavam-se nos dedos os tais guarda-chuvas. Ah, claro! Elas
também levavam seus cachorrinhos, entendem? É evidente que o destaque dado a
essas lateralidades busca desmoralizar o protesto.
O cantor e compositor Lobão se manifestou em favor da
recontagem dos votos e disse o óbvio: não se tratava de um movimento em favor
da volta do regime militar.
Boçalidades
Não que boçalidades reais, de fato, não tenham sido ditas.
Foram. A ser verdade o que relatam Estadão, Folha e Globo, o deputado federal
eleito Eduardo Bolsonaro (PSC-SP), filho de Jair Bolsonaro (PP-RJ), afirmou o
seguinte:
“Ele [seu pai] teria fuzilado Dilma Rousseff se fosse
candidato esse ano. Ele tem vontade de ser candidato mesmo que tenha de mudar
de partido”. E emendou: “Dizia na minha campanha: voto no Marcola, mas não em
Dilma. Pelo menos ele tem palavra”.
A ser isso mesmo, trata-se de uma notável coleção de
bobagens. Evidentemente, o “fuzilado” de sua fala é uma metáfora. Mas quem se
importa? Quando fala em votar até “em Marcola”, procura deixar claro o quanto
repudia Dilma, não seu apreço pelo bandido. Mas quem se importa? Quem não quer
que seu discurso seja confundido não fala essas tolices. O ânimo para
transformar os manifestantes em golpistas já é evidente. Quando se oferece o
pretexto, tudo fica mais fácil.
No Brasil, é permitido marchar em favor da maconha. A venda
e o consumo de maconha são ilegais. Manifestantes são tratados como bibelôs.
No Brasil, é permitido marchar em favor do aborto. O aborto,
com as exceções conhecidas, é ilegal. Manifestantes são tratados como
pensadores.
No Brasil, é permitido marchar em favor de corruptos
condenados pelo Supremo. Manifestantes são tratados como ideólogos.
No Brasil, é permitido marchar em favor da recontagem dos
votos e, sim, em favor do impeachment. O Artigo 5º da Constituição garante tudo
isso. Não obstante, manifestantes são tratados como pessoas ridículas e
golpistas.
Nota final, que traduz um sequestro moral: os esquerdistas,
sempre adulados pelos jornalistas, querem controle social da mídia e mecanismos
de censura, ainda que oblíquos.
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