Por Percival Puggina
O Estadão do último domingo publica entrevista com D.
Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB. A matéria leva o título
"Igreja Católica não tem curral eleitoral" e destaca a frase
"Igreja não é palanque", mostrando o secretário-geral interessado em
despegar a Igreja do debate eleitoral em curso, tratando da política num
sentido amplo. Suas falas apontam para um contraste entre a orientação católica
e o modo partidarizado e personalizado que marca o procedimento usual em muitos
templos evangélicos nesses períodos.
De longa data, as igrejas evangélicas mantêm transparente e
militante atuação em favor de seus candidatos. Distribuem materiais de campanha
e proclamam que votar neles é uma forma de "servir a Jesus". É certo
que, em muitos casos, Jesus se sente desconfortável com tais vinculações, mas o
fato é que eleitoralmente a tática funciona.
A CNBB age de outro modo, mas não com a isenção que fez crer
o secretário-geral em sua entrevista. A entidade não indica nomes. Desaconselha
o uso das igrejas como locais para propaganda de candidaturas. Mas presta
serviço inestimável a um específico partido através de pastorais sociais e
organismos vinculados, bem como nos seus documentos, cartilhas e análises de
conjuntura. E eu tenho certeza de que não preciso escrever aqui as letrinhas
para que todos, sem exceção, saibam a qual das 32 legendas existentes estou me
referindo. Repito: é certo que, em muitos casos, Deus se sente desconfortável
com tal vinculação, mas o fato é que eleitoralmente também tem funcionado.
Quem acessou dia 7 de setembro o site da CNBB deparou-se com
uma convocação da 20ª edição do "Grito dos Excluídos", chamando para
"ocupar as praças por liberdades e direitos". Não pense que esse
grito vai contra o governo da União. Não, o grito sempre vai contra a economia
de mercado, as privatizações, os meios de comunicação, o neoliberalismo, o
agronegócio, o direito de propriedade, o "grande capital". Aliás,
senhores bispos, ser contra o grande capital significa ser contra todo capital
porque pequeno capital só é capital se quiser crescer, caso contrário é
dinheiro na mão. E vira vendaval.
Quem acessar a última Análise de Conjuntura, lerá, por
exemplo: "Nestes dez últimos anos, houve tentativas para corrigir as
desigualdades, pelo aumento do salário mínimo acima da inflação e pelo programa
Bolsa-Família, aumentando assim os chamados gastos sociais. (...) Essas
políticas não tocaram nas estruturas sociais e culturais, mas as elites
econômicas e financeiras as criticaram como sendo políticas “intervencionistas”
do governo, por serem responsáveis do suposto descontrole do tripé que regula a
economia: controle da inflação, do câmbio e fiscal, e por desrespeitar a
doutrina liberal. (...) A sensação de um clima inflacionário espalhado pela
mídia, baseando-se sobre os gastos ditos excessivos, sobretudo sociais, visa
difundir um temor da volta da inflação, temor que é responsável por uma difusão
da inflação." Arre, português ruim de IDEB!
A seguir, o documento parece escrito pelo ministro Guido
Mantega: "Entretanto, a taxa de inflação de agosto pode ficar mais baixa
ou próxima daquela de julho (0.01%), contrariamente às previsões dos analistas
do mercado financeiro. A aproximação das eleições acirra a disputa
econômico-financeira entre governo e especuladores. A imprensa não está
contribuindo para o debate político-econômico, substituindo a informação pela
ideologia da crise permanente. A mídia, porta-voz das elites financeiras,
informa que o Brasil está indo à falência. As manchetes dos jornais (impresso e
TV) não param de denunciar erros na política governamental que teriam provocado
ondas de desconfiança." Duvida? Vá no site e leia.
Agora, imagine trinta anos disso, com Pastoral da Terra,
CIMI, Pastoral da Juventude, Campanhas da Fraternidade e seus documentos, Teologia
da Libertação, Comunidades Eclesiais de Base, apoio a ridículos
"plebiscitos", como o do não pagamento da dívida externa, o da
limitação da extensão das propriedades rurais e, agora, o da constituinte
exclusiva para reforma política.
Às diferenças entre a política da CNBB e a dos templos
evangélicos, acresça-se o fato de que, enquanto estes não param de crescer, a
minha Igreja Católica não para de minguar.
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Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.
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