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terça-feira, 9 de setembro de 2014

Política na CNBB e nos Templos Evangélicos


O Estadão do último domingo publica entrevista com D. Leonardo Steiner, secretário-geral da CNBB. A matéria leva o título "Igreja Católica não tem curral eleitoral" e destaca a frase "Igreja não é palanque", mostrando o secretário-geral interessado em despegar a Igreja do debate eleitoral em curso, tratando da política num sentido amplo. Suas falas apontam para um contraste entre a orientação católica e o modo partidarizado e personalizado que marca o procedimento usual em muitos templos evangélicos nesses períodos.

De longa data, as igrejas evangélicas mantêm transparente e militante atuação em favor de seus candidatos. Distribuem materiais de campanha e proclamam que votar neles é uma forma de "servir a Jesus". É certo que, em muitos casos, Jesus se sente desconfortável com tais vinculações, mas o fato é que eleitoralmente a tática funciona.

A CNBB age de outro modo, mas não com a isenção que fez crer o secretário-geral em sua entrevista. A entidade não indica nomes. Desaconselha o uso das igrejas como locais para propaganda de candidaturas. Mas presta serviço inestimável a um específico partido através de pastorais sociais e organismos vinculados, bem como nos seus documentos, cartilhas e análises de conjuntura. E eu tenho certeza de que não preciso escrever aqui as letrinhas para que todos, sem exceção, saibam a qual das 32 legendas existentes estou me referindo. Repito: é certo que, em muitos casos, Deus se sente desconfortável com tal vinculação, mas o fato é que eleitoralmente também tem funcionado.

Quem acessou dia 7 de setembro o site da CNBB deparou-se com uma convocação da 20ª edição do "Grito dos Excluídos", chamando para "ocupar as praças por liberdades e direitos". Não pense que esse grito vai contra o governo da União. Não, o grito sempre vai contra a economia de mercado, as privatizações, os meios de comunicação, o neoliberalismo, o agronegócio, o direito de propriedade, o "grande capital". Aliás, senhores bispos, ser contra o grande capital significa ser contra todo capital porque pequeno capital só é capital se quiser crescer, caso contrário é dinheiro na mão. E vira vendaval.

Quem acessar a última Análise de Conjuntura, lerá, por exemplo: "Nestes dez últimos anos, houve tentativas para corrigir as desigualdades, pelo aumento do salário mínimo acima da inflação e pelo programa Bolsa-Família, aumentando assim os chamados gastos sociais. (...) Essas políticas não tocaram nas estruturas sociais e culturais, mas as elites econômicas e financeiras as criticaram como sendo políticas “intervencionistas” do governo, por serem responsáveis do suposto descontrole do tripé que regula a economia: controle da inflação, do câmbio e fiscal, e por desrespeitar a doutrina liberal. (...) A sensação de um clima inflacionário espalhado pela mídia, baseando-se sobre os gastos ditos excessivos, sobretudo sociais, visa difundir um temor da volta da inflação, temor que é responsável por uma difusão da inflação." Arre, português ruim de IDEB!

A seguir, o documento parece escrito pelo ministro Guido Mantega: "Entretanto, a taxa de inflação de agosto pode ficar mais baixa ou próxima daquela de julho (0.01%), contrariamente às previsões dos analistas do mercado financeiro. A aproximação das eleições acirra a disputa econômico-financeira entre governo e especuladores. A imprensa não está contribuindo para o debate político-econômico, substituindo a informação pela ideologia da crise permanente. A mídia, porta-voz das elites financeiras, informa que o Brasil está indo à falência. As manchetes dos jornais (impresso e TV) não param de denunciar erros na política governamental que teriam provocado ondas de desconfiança." Duvida? Vá no site e leia.

Agora, imagine trinta anos disso, com Pastoral da Terra, CIMI, Pastoral da Juventude, Campanhas da Fraternidade e seus documentos, Teologia da Libertação, Comunidades Eclesiais de Base, apoio a ridículos "plebiscitos", como o do não pagamento da dívida externa, o da limitação da extensão das propriedades rurais e, agora, o da constituinte exclusiva para reforma política.

Às diferenças entre a política da CNBB e a dos templos evangélicos, acresça-se o fato de que, enquanto estes não param de crescer, a minha Igreja Católica não para de minguar.



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Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org, colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões, integrante do grupo Pensar+.

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