Cel Cav Flávio Acauan Souto
Começou com a Venezuela. Pobre país! O tenente coronel Hugo
Chavez, quando tudo indicava que pudesse surgir como um novo Peron, talvez um
Vargas, preferiu trafegar na linha vermelha do bizarro socialismo bolivariano,
como ele o batizou. Comprou briga com os norte-americanos, a quem chamou de
carrascos imperialistas (ainda que não o incomodasse os carrascos continuarem
comprando o seu petróleo) y otras cositas más. Completou essa magistral
idiotice com outras cartadas de igual insanidade, como a submissão aos
inadimplentes Fidel e seu irmão, inclusive com o aporte de farta mesada, o
apoio às Farc, incluindo o governo da Colômbia no rol de seus inimigos, além da
farta distribuição de petrodólares a Cuba, à Bolívia e a outros menos votados.
Tudo por se achar obcecado pela implantação, inicialmente na área andina, da
falácia comunista disfarçada sob o poncho de Simon Bolivar, a quem foi
perturbar na tranquilidade de sua tumba. Não poderia ter sido outro o
resultado: quebrou, literalmente, a pátria de El Libertador. Sua morte, fecho
tragicômico da opereta caribenha de que foi protagonista, chorada por uns e
aplaudida pelos demais, foi um grande serviço prestado ao povo de seu país...
Alguém acredita que esse governo vagabundo do Maduro vai se sustentar em uma
nação falida, em todos os sentidos? Sem dispor do pão e sem levar o mínimo
jeito para o circo, no que o seu padrinho – agora virado em diáfano pajarito –
era rematado mestre?
Por outro lado, quem pode garantir que a queda de Maduro –
ao que tudo indica, inevitável – trará de volta à Venezuela a democracia e a
paz? Qual será a posição das Forças Armadas? Até que ponto estarão elas
contaminadas com o vírus que, com certeza, lhes foi inoculado? Serão os
baluartes da reconstrução democrática, ou produzirão algum clone de tiranete
para substituir o anterior? Terá Capriles ou outro líder antichavista condições
de se eleger e de exercer o mandato? Que fazer com os cento e tantos milhares
de cubanos aboletados em diversas áreas sensíveis da vida da nação? Certamente,
os coleguinhas de Chaves, e agora de Maduro, aí incluído o infeliz governo
brasileiro do PT, acudirão com pretextos e pressões de toda ordem no âmbito da
famigerada Unasul, o serpentário onde chocaram com tanto carinho seus fatídicos
ovos.
Deslocando a pontaria mais para o
Sul, encontramos o oportunista Correa e o cocaleiro Evo, que pegaram carona no
bonde do Chavez. O Maduro não tem cacife para mantê-los no colo, ainda mais
agora, no cai-não-cai em que se encontra. E os dois, pelas próprias pernas, não
irão muito longe caso insistam na enrascada bolivariana em que se meteram. Os
primeiros sintomas começam a se fazer sentir, na medida em que suas economias
fenecem enquanto as dos vizinhos não bolivarianos florescem. Pode até acontecer
que seus países venham também a desistir do tal bolivarianismo e retomem o
juízo perdido. Se o Equador voltar ao seio da comunidade andina, ao lado de
Chile, Peru e Colômbia, a Bolívia não terá como não seguir no mesmo rumo.
Quanto ao valente Paraguai, nosso parceiro de Itaipu teve a sorte de ser
expulso do malsinado Mercosul. Em razão do atrevimento de seus congressistas em
recusar a admissão da Venezuela de Chavez, e não, como se difundiu, por terem
apeado – aliás, dentro da lei – seu lascivo presidente. Volta suas vistas para
a Alca e projeta acordos bilaterais com os EUA e com a comunidade andina. Que
los cumpla feliz!
Os Kirschner, por sua vez, depois de arrematarem a obra de
seus antecessores peronistas, deixando em cacos o fantástico país de seus avós,
também vão morrer, com toda a certeza. Biologicamente, gentileza que El
Penguino já fez aos nossos queridos hermanos, ou, então, politicamente, como a
viúva dele... en la playa. A Argentina, assim como seu vizinho Brasil, tem tudo
para bombar no cenário continental desde que não a atrapalhem governos ineptos
e mal intencionados como os últimos que teve. Se o culto povo argentino, já em
grande parte, como se sabe, impaciente com as artimanhas e arbitrariedades de
seus atuais governantes, exercitar o bom senso e a razão, saberá escolher, na
próxima rodada, quem seja capaz de, pelo menos, não atrapalhar com tanta
intensidade... Ou não saberá... No dizer abalizado de Jorge Luís Borges, o
argentino é um indivíduo; não um cidadão.
Já o pequeno Uruguai, este tem o único presidente melancia
que não enganou ninguém. Declaradamente socialista – não daqueles de 12 anos,
como alguém escarneceu há pouco tempo –, o folclórico tupamaro don José (Pepe)
Mujica, que anda de fusca e calça alpargatas, conheceu bem o resultado
desastroso do assistencialismo exagerado que levou seu país, a saudosa Suíça
sul-americana do início do século passado, à bancarrota quase que total. Sabe
também o quanto custou à sua nação recuperar-se e sair do vermelho. Por mais
extremada que seja a sua ideologia, nada indica que pretenda se valer desse ou
de outro expediente demagógico para se perpetuar no poder. O Uruguai parece
ainda possuir uma estrutura partidária e uma tradição consolidada capazes de
promover o jogo político e a alternância de seus governantes.
É este um cenário irreal? Fruto do otimismo exagerado, até
da alienação ou da ingenuidade de um daqueles inocentes úteis, assim
qualificados em nossos manuais de defesa interna? Será pura utopia, “sonho de
uma noite de verão”, ou terá esse cenário, pelo menos, alguma chance de se
concretizar?
Até teria, não fosse a situação do Brasil, a nação
sul-americana dentre as que obedecem à orientação gramscista do abominável Foro
de São Paulo que se encontra em fase mais avançada de – sejamos claros –
comunização. Mais avançada até que a Venezuela, onde a metade de seu povo hoje
protesta e resiste bravamente. Metade que, salvo inconcebíveis genocídio ou
extermínio, tende a se tornar maioria, porque dispõe de liderança, porque sua
causa é nobre e porque combate o bom combate.
Nenhum outro desses países na fila da cubanização sofre tão
expressivo e generalizado aparelhamento do estado como o nosso. Agentes e
cúmplices do processo, aos magotes, acomodam-se em posições de mando e em
cargos públicos para os quais são em geral despreparados e incompetentes, mas
onde se ajustam à perfeição aos objetivos reais da duma: o popular “tá tudo
dominado”. O último passo, imoral mas decisivo, se deu com a recente
capitulação da corte suprema, onde a cor política ou ideológica logrou
substituir, despudoradamente, o “renomado saber jurídico”.
Em tempos pregressos o secretário de estado norte-americano
Henry Kissinger afirmou que para onde o Brasil se inclinasse toda a América
Latina se inclinaria. É triste a constatação de que hoje se inverte o sentido
daquele prognóstico: é o Brasil que vai a reboque, subserviente à ideologia e
aos mandos e desmandos de agentes de outras plagas, que têm tradições,
princípios e costumes completamente diferentes dos nossos.
Muito piores, entretanto, são nossos próprios agentes
internos, mais preocupados consigo mesmos e com seu sonho cafajeste e
megalômano de poder do que com o país que dilapidam e com o povo que fingem
proteger. Travestidos de brasileiros, o que não são, porque este gentílico não
se aplica aos que roubam sem qualquer cerimônia o patrimônio financeiro da
nação e o pulverizam em obras caríssimas em Cuba ou em suspeitos perdões de
dívidas a insuspeitos ditadores africanos e a contumazes caloteiros sul-americanos
como Venezuela, Bolívia e Paraguai, enquanto condenam o país à estagnação e o
povo brasileiro à ignorância, à insegurança e à insalubridade. Sem falar na
miséria disfarçada pela esmola que o conduz à inércia, condição essencial para
a garantia dos votos que os conservarão, sabe Deus até quando, no domínio do
terreiro que com tanto capricho prepararam.
De onde viemos? Para onde vamos?
Sabemos todos de onde viemos. Independente de convicção
política ou ideológica, todos o sabemos. Viemos de um país que, bem ou mal, com
maior ou menor intensidade, vinha cumprindo as etapas de seu desenvolvimento
social e econômico. De um país sem tantos patrulhamentos e preconceitos, livres
que éramos da tirania do insuportável “politicamente correto”. Se tínhamos
racismo, homofobia e outros “ismos” e “ias”, eram todos muito menores e menos
incômodos do que os que hoje nos são impostos.
Éramos tão diferentes como o somos agora, mas isso não nos
incomodava tanto. Era penoso ser pobre, ou pertencer a uma das hoje consagradas
“minorias”, mas não era pecado não ser ou não pertencer. Viemos de um país em
que não se roubava tanto e tão descaradamente, e não se gastava mais em
propaganda do que em educação. Em que não se trocavam leitos em hospitais
sucateados por estádios de altíssimo padrão. Enfim, viemos de um país que, “sem
chegar a ser uma brastemp”, também não oferecia ao mundo a imagem que hoje
escancara de desordem governamental, de falta de seriedade, de desonestidade
institucionalizada e de tolerância com a violência, com o crime, com as drogas
e com a péssima qualidade dos serviços
prestados à população, que por eles, regiamente, paga.
Por fim, viemos de um país que, historicamente, foi capaz de
vencer os desafios à sua, ainda que frágil, democracia, e de desbaratar as
diversas tentativas de instauração da detestável “ditadura do proletariado”
(proletariado, aliás, que nunca obteve mais do que as migalhas do banquete).
Para onde vamos?
Sim, para onde? Quem souber, por favor, me comunique.
Fonte: A Verdade Sufocada
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