Quatro horas! Foi o tempo que durou o cessar-fogo de três
dias entre as forças de Israel e as do Hamas, anunciado ontem por Ban Ki-moon,
secretário-geral da ONU, e John Kerry, secretário de Estado dos Estados Unidos.
Quem violou o acordo? O Hamas. Um destacamento de soldados israelenses foi
atacado quando destruía um dos túneis construídos pelo grupo terrorista,
atividade permitida nos termos estabelecidos pelo cessar-fogo. Um homem-bomba
chegou a ser usado no ataque. Um soldado israelense de 23 anos, Hadar Goldin,
foi sequestrado. Na retomada da reação aos ataques do Hamas, Israel bombardeou
a cidade de Rafah, e pelos menos 35 pessoas morreram. Como sempre, os
extremistas palestinos dizem que eram todos civis.
Eis aí a lógica e a moral do terror. Desde o começo da
operação “Margem Protetora”, o Hamas vem se negando sistematicamente a
concordar com uma trégua. Violou mesmo uma — humanitária, creiam — para a
retirada de feridos. Na minha coluna de hoje, na Folha, aponto a delinquência
intelectual e moral dos que ignoram o conteúdo do Estatuto do Hamas e tratam um
grupo terrorista como se fosse mera organização de resistência. Lá está
escrito, entre outras barbaridades: “A hora do julgamento não chegará até que
os muçulmanos combatam os judeus e terminem por matá-los. E mesmo que os judeus
se abriguem por detrás de árvores e pedras, cada árvore e cada pedra gritará:
‘Oh! Muçulmanos, Oh! Servos de Alá, há um judeu por detrás de mim, venham e
matem-o”.
Torno público o conteúdo de um e-mail, de autoria de um
médico que trabalha em Israel, que chegou a este jornalista. Prestem atenção:
“Não creio que os jornais brasileiros descrevam com detalhes
o que se passa em Gaza. Das muitas histórias, quero descrever com pormenores um
episódio instrutivo: terminou muito mal, mas podia ter terminado muito pior.
Um grupo de soldados precisava entrar num
ambulatório-enfermaria da UNRWA — United
Nations Relief and Works Agency for Palestinian Refugees. NOTA DO REDATOR: é a
“Agência das Nações Unidas para a Ajuda aos Refugiados Palestinos”, que atua, é
bom que saibam, em parceria com o Hamas. E não é de hoje. Sigo com o e-mail.
De acordo com as instruções, antes de entrar, mandaram um
robô, pois o prédio poderia estar minado. O robô não mostrou nenhum sinal de
explosivos. Aí os soldados mandaram um cachorro especialmente treinado para
farejar pólvora e explosivos. Também não detectou nada. Aí os soldados
entraram, e o prédio explodiu. As paredes desmoronaram. Por um verdadeiro
milagre, “somente” 5 soldados morreram mas muitos, mais de duas dezenas,
ficaram feridos, muitos deles gravemente. A investigação do Exército revelou do
que se tratava: quando as Nações Unidas contrataram uma firma local para
construir a enfermaria, os palestinos colocaram 12 sacos de explosivos — cada
saco pesando 80 quilos — dentro das paredes do prédio. É isto mesmo: quase uma
tonelada de explosivos!
Eu entendo perfeitamente que “à la guerre comme à la
guerre”: até outro dia, havia pacientes palestinos sendo tratados num
ambulatório-enfermaria das Nações Unidas, em Gaza, cujas paredes continham uma
tonelada de explosivos: o Hamas tem os seus próprios métodos de calcular riscos
versus benefícios.”
Retomo
Eis aí. Os inimigos contumazes de Israel, que se deixam
contaminar pela ideologia, mas não pelos fatos, gostam de apontar as
assimetrias nessa guerra. Elas são, antes de mais nada, de método. O Hamas não
distingue instalações civis e humanitárias de instalações militares. Afinal, de
acordo com o seu estatuto, “Israel existirá e continuará existindo até que o
Islã o faça desaparecer, como fez desaparecer todos aqueles que existiram antes
dele”.
Essa é a lei do terror. Essa é a lei dos que fazem da morte
de civis a sua fortaleza. Israel tem o direito de se defender e vai se
defender.
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