sexta-feira, 24 de julho de 2015

MORTAIS COMUNS

 
Estavam nossos políticos postos em sossego, na onipotência olímpica em que vivem, com seus menores desejos atendidos e pagos pelos brasileiros, quando de repente, não mais que de repente, como diria Vinicius de Moraes, seu mundo onírico desabou: a Polícia Federal, cumprindo 53 mandados assinados por três ministros do Supremo Tribunal Federal, amanheceu nas casas de vários deles, inclusive de deputados, senadores e do ex-presidente Collor.

Não foi o juiz Sérgio Moro que expediu os documentos, pois os políticos investigados têm direito a foro privilegiado e só podem ser julgados pelo STF, que foi a origem dos mandados.

A surpresa foi geral, para consternação dos investigados, que tiveram documentos, bens e computadores aprendidos, e para alegria dos mortais comuns que, finalmente veem poderosos senhores feudais, que mandam e desmandam no país, serem atingidos por medidas desse tipo.

Pasmos, incrédulos, assustados, os políticos não se conformaram.

Inicialmente, declararam que a medida era arbitrária, uma intromissão do Judiciário no Legislativo, como se mandato eleitoral assegurasse impunidade criminal aos eleitos.

A seguir, partiram para o contra-ataque, aprovando a instalação de diversas CPIs que desagradam ao Executivo, por atribuírem a este Poder a responsabilidade por não ter interrompido as investigações antes de as mesmas chegarem tão longe. Sabem, mas fingem ignorar, que a iniciativa, há muito tempo, está com o Judiciário. Atacam o Executivo para aumentar a confusão e poderem alegar que todos são igualmente corruptos.

Fora do poder formal, mas vendo o cerco se fechar, o ex-presidente Lula também tem suas preocupações aumentadas: se o STF não aliviou das investigações o também ex-presidente Collor, por que haveria de dar-lhe este benefício?

A grande novidade, porém, foi-se verem todos atingidos por medidas que, tradicionalmente, não os atingiam, dando-lhes a ilusão de serem semideuses, super-homens todo-poderosos, acima do bem e do mal, colocados além das leis do país por sua condição de detentores de mandato eletivo.


Estupefatos, descobrem-se mortais comuns, como eu e você.

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