Estavam nossos políticos postos em sossego, na onipotência
olímpica em que vivem, com seus menores desejos atendidos e pagos pelos
brasileiros, quando de repente, não mais que de repente, como diria Vinicius de
Moraes, seu mundo onírico desabou: a Polícia Federal, cumprindo 53 mandados
assinados por três ministros do Supremo Tribunal Federal, amanheceu nas casas
de vários deles, inclusive de deputados, senadores e do ex-presidente Collor.
Não foi o juiz Sérgio Moro que expediu os documentos, pois
os políticos investigados têm direito a foro privilegiado e só podem ser
julgados pelo STF, que foi a origem dos mandados.
A surpresa foi geral, para consternação dos investigados,
que tiveram documentos, bens e computadores aprendidos, e para alegria dos
mortais comuns que, finalmente veem poderosos senhores feudais, que mandam e
desmandam no país, serem atingidos por medidas desse tipo.
Pasmos, incrédulos, assustados, os políticos não se conformaram.
Inicialmente, declararam que a medida era arbitrária, uma
intromissão do Judiciário no Legislativo, como se mandato eleitoral assegurasse
impunidade criminal aos eleitos.
A seguir, partiram para o contra-ataque, aprovando a
instalação de diversas CPIs que desagradam ao Executivo, por atribuírem a este
Poder a responsabilidade por não ter interrompido as investigações antes de as
mesmas chegarem tão longe. Sabem, mas fingem ignorar, que a iniciativa, há
muito tempo, está com o Judiciário. Atacam o Executivo para aumentar a confusão
e poderem alegar que todos são igualmente corruptos.
Fora do poder formal, mas vendo o cerco se fechar, o
ex-presidente Lula também tem suas preocupações aumentadas: se o STF não
aliviou das investigações o também ex-presidente Collor, por que haveria de
dar-lhe este benefício?
A grande novidade, porém, foi-se verem todos atingidos por
medidas que, tradicionalmente, não os atingiam, dando-lhes a ilusão de serem
semideuses, super-homens todo-poderosos, acima do bem e do mal, colocados além
das leis do país por sua condição de detentores de mandato eletivo.
Estupefatos, descobrem-se mortais comuns, como eu e você.
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