Por Percival Puggina
Toda a existência do PT, do nascimento à glória, e da glória
ao atual fundo do poço (ou ao volume morto, na expressão usada pelo próprio
Lula) se fez sob incondicional apoio da CNBB e de suas pastorais. A exceção, se
houver, que se identifique.
Aliás, Lula e o PT
sabem: os tenebrosos dias que se avizinham serão enfrentados ao abandono de
muitos dos seus antigos seguidores. Há um grupo, porém, que não o abandonará.
Esse grupo é formado por religiosos, padres e bispos que foram buscar água
benta na Teologia da Libertação e chegaram ao poder da entidade em 1971, com D
Aloísio Lorscheider. A partir de então, foi um Deus nos acuda. São João Paulo
II, que conheceu o comunismo desde as entranhas, condenou a Teologia da
Libertação (TL) em documento da Congregação para a Doutrina da Fé. Esse texto,
de 1984, deixa claro ser a TL uma teologia marxista, de classe, "que
confunde o pobre da escritura com o proletário de Marx".
Nada melhor do que
ler Frei Betto para saber o quanto essa confusão é real. Em "O paraíso
perdido" ele relata dezenas de viagens que fez para levar a TL a Cuba e
aos países do Leste Europeu onde o marxismo-leninismo já estava instalado. Com
a TL ele conseguiu tornar comunistas milhares de cristãos do nosso continente,
mas não conseguiu converter ao cristianismo um único líder comunista. Falando
ao site Opera Mundi, em junho do ano passado, o frei confessou a estreita
ligação da TL com aquela doutrina: "João Paulo II era um homem conservador
que, quando foi bispo do Concílio Vaticano II sempre votou com os conservadores.
Anticomunista visceral, jamais entendeu ou assimilou a Teologia da
Libertação". É essa TL, rejeitada por anticomunistas (exatamente por ser o
que é) que inspira parte significativa do clero católico brasileiro e continua
incrustada como ácaro nas paredes e estruturas da CNBB e de suas pastorais.
Ora, quem mistura religião com comunismo transforma uma coisa na outra. Daí
essa obstinação que nada aprende da experiência, da evidência e do absoluto
fracasso da doutrina abraçada.
Foi o que, às
vésperas das manifestações de março, levou o alto comando da CNBB até Dilma,
para dizer-lhe, entre excelências e eminências, que não viam motivos para o
impeachment. E foi o que agora, dia 20, levou D. Pedro Stringhini e dirigentes
de pastorais sociais ao investigado e mal afamado Instituto Lula. Nesse
encontro, coube a Luís Inácio a tarefa de desancar o próprio partido e o
governo Dilma. E coube ao bispo dar a absolvição, explicando o que os motivava
neste momento de crise: "É importante reconhecer o senhor e os avanços em
seus oito anos de governo. Mas, diante da crise atual, esse esforço tem de ser
continuado". Em outras palavras, nada mais importante do que o PT e seu
governo. Dane-se tudo mais.
Mesmo que a Polícia
Federal rastreie as digitais de Lula. Mesmo que, tantos petistas estejam na
cadeia. Mesmo que o "protetor dos pobres" seja um patrocinador de
bilionários, inclusive em causa própria e de seus familiares. Mesmo que tantos
petistas ataquem frontalmente os valores cristãos. Mesmo que, nestes dias, os
companheiros do ex-presidente estejam, em todo país, forçando Câmaras de
Vereadores e Assembleias Legislativas a incluir a ideologia de gênero nas
tarefas "educacionais" de suas redes de ensino. Mesmo que a casa caia
e que a mula manque e que com tais manifestações de autoridades eclesiásticas a
Igreja esteja sendo arrastada junto para o volume morto, dane-se tudo mais
porque o ultrajante apoio persiste.
__________________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar+.
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