Por O Povo Online
A candidata ao Senado, primeira convidada da nova rodada de
entrevistas no Grupo de Comunicação O POVO, admitiu radicalismo político,
pregou fim do Senado e confisco de empresas
A candidata do PSTU ao Senado, Raquel Dias, defendeu a luta
armada como método de transformação social e disse que o partido está se
preparando para a revolução com armas. Raquel foi sabatinada ontem na TV O
POVO. “Como a gente vive em um Estado opressor e o armamento é uma ação contra
o próprio Estado, não posso dizer como estamos nos preparando”, respondeu.
Raquel, que é professora da Universidade Estadual do Ceará
(Uece), também defendeu a extinção do Senado, traçou diferenças entre o PSTU e
grupos como o Crítica Radical e disse que, se eleita, aportará emendas
parlamentares na área de educação. Confira os principais momentos.
Fim do Senado
Raquel Dias concorre a uma vaga no Senado, mas disse ser a
favor da extinção da Casa e defendeu a implementação de um sistema legislativo
unicameral. “O Estado, com todas as suas instituições democráticas ou
coercitivas, tem o caráter de classe, são instituições que ajudam na manutenção
do status quo”, afirmou. Ela disse que, se eleita, utilizará o espaço para “fazer
a denúncia” e, ao mesmo tempo, dialogar com a população. Questionada se não
seria contraditório admitir funções importantes da Casa e, ao mesmo tempo,
pregar sua extinção, Raquel ponderou que a proposta do fim do Senado é “apenas
pano de fundo”, e não uma bandeira prioritária. “Mas queremos, sim, uma
transformação radical da sociedade que inclui o fim de certas instituições”,
afirmou.
Equilíbrio
Confrontada com o fato de a representação no Senado permitir
equilíbrio entre estados ricos e pobres, a candidata do PSTU disse discordar da
premissa de que o Ceará seja pobre. “Não consideramos o Ceará um estado pobre.
O Ceará é o maior exportador de frutas tropicais, teve crescimento de PIB acima
da média nacional. Isso é uma discussão abstrata. Um parlamentar eleito para o
PSTU irá defender propostas relacionadas com a vida do trabalhador. Essa
disputa entre estados não faz parte da lógica que defendemos”, apontou.
Confisco
O programa do PSTU defende que empresas que “boicotam” a
economia do País merecem ter os bens confiscados. Questionada sobre que
circunstâncias se encaixariam no conceito de “boicote”, Raquel citou a
corrupção como exemplo. Outra forma de boicote à economia nacional são empresas
que recebem isenções do governo e não devolve compensações. A candidata foi
lembrada de que, no Ceará, várias empresas são beneficiadas com isenção fiscal.
Quais seriam? “Eu não poderia citar sem ter embasamento sobre cada uma”, disse,
apontando as áreas de transporte público, construção civil e calçadista. Mesmo
sob insistência, Raquel não citou nomes. “Se não entraríamos numa discussão
jurídica”, justificou.
Radicalismo
Raquel admitiu que o PSTU é uma sigla radical, mas negou que
o radicalismo implique falta de diálogo. “Não queremos ficar isolados, pelo
contrário. Raquel foi perguntada sobre por que o PSTU não abandona o sistema
partidário – e, assim, abre mão de benefícios como o fundo partidário – tal
como fizeram integrantes do grupo Crítica Radical. “Somos absolutamente
diferentes dos companheiros do Crítica Radical. Se nós sairmos da luta
política, como fez o Crítica, não vamos atingir nosso objetivo, que é pegar o trabalhador
para nossa causa. O Crítica diz para o trabalhador não trabalhar, mas sem
trabalhar ele não come”, analisou.
Arrogância?
Raquel foi perguntada se não seria arrogante afirmar que sua
candidatura é a “única de esquerda” do estado, no que ela respondeu: “Temos
quatro candidaturas ao Senado: a do maior empresário do estado, de um partido
de direita e burguês, Tasso Jereissati (PSDB). A do Mauro Filho (Pros), apoiado
pelo governador Cid Gomes, que é uma oligarquia que enfrenta as questões do trabalhadores
como caso de policia. E a Geovana Cartaxo (PSB), que abraçou o projeto do PSB,
que até ontem era o do governador”, lembrou. “Com a configuração atual,
portanto, não é arrogante, é coerente”, argumentou.
Renegado
Perguntada sobre por que, a cada eleição, a classe
trabalhadora “renega” o PSTU ao eleger candidatos de outros partidos, a
candidata ao Senado Raquel Dias afirmou que a sigla disputa em “clara
desvantagem” com legendas com as quais o proletariado também se identifica,
como o PT. “Nós estamos fazendo uma disputa com um dos maiores aparatos que são
o PT e a CUT. Estamos numa situação claramente de desvantagem. Outro elemento é
o da ideologia, difundida pelos órgãos de comunicação de massa e instituições a
exemplo das escolas”, avaliou.
Luta armada
Lembrada sobre os atos violentos que marcaram parte das
manifestações a partir de junho de 2013 e perguntada se a luta armada não
estaria “fora de moda”, Raquel disse pensar o oposto: “Achamos que estamos na
moda. A luta armada está na moda”. A candidata defendeu esse método
revolucionário. “Achamos que não. Achamos que para que os trabalhadores tome o
poder em suas mãos, o controle sobre sua própria vida, é necessário uma
revolução armada”, afirmou. Perguntada se o PSTU está se preparando para essa
revolução, Raquel disse que sim, mas não revelou detalhes. “Estamos nos
preparando, sim, só não vou dizer como. Como a gente vive num Estado opressor,
mas que se apresenta como democrático, e o armamento é uma ação contra o
próprio Estado, não posso dizer como estamos nos preparando”, afirmou. Raquel
foi perguntada se o PSTU estaria formando milícias, no que ela tangenciou: “Nós
defendemos uma revolução e, na história da humanidade, todas as revoluções
foram armadas. (...)Nossas milícias são organizadas em cursos de formação,
leitura de livros, desenvolvimento da consciência de classe”, disse.
Salário
Raquel Dias está licenciada do cargo de professora na Uece e
confirmou que permanece recebendo salário durante o afastamento para as
eleições. “É justo, é um direito. Eu preciso comer, sem comer eu morro. Antes
de se ser candidata eu sou um ser humano, eu sou mãe, tenho dois filhos, tenho
três gatos. Eu poderia abdicar do meu salário se o Grupo de Comunicação O POVO
me pagasse para que eu pudesse fazer a publicidade do PSTU”, propôs.
Contradições
O PSTU de Raquel tem como um dos aliados o Psol, sigla que,
em estados como Alagoas, tem recebida apoio de siglas consideradas
“direitistas” e “burguesas” pelo grupo, como o PSDB. Sobre essa situação, Raquel
disse que nesse e em outros casos, o PSTU se posicionou publicamente de forma
contrária. “Temos outro caso, como em Iguatu, onde soltamos uma carta pública
porque há um candidato lá que tem relações com partidos burgueses
tradicionais”, afirmou. “Já fizemos o debate público e somos absolutamente
contra. Não temos problema em fazer a crítica fraterna”, alegou.
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