O PODER E O CRIME - Enivaldo Quadrado (à direita), o chantagista,
é pago pelo PT para manter em segredo
o golpe que resultou no desvio de 6
milhões de reais da Petrobras, em outro caso de chantagem que envolve o
ministro Gilberto Carvalho, o mensaleiro José Dirceu e o ex-presidente Lula
(Montagem com fotos de Ailton de
Freitas-Ag. O Globo/Joel
Rodrigues-Folhapress/Rodolfo Buhrer-Estadão Conteúdo/Jeferson Coppola/VEJA)
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Para evitar que o partido e suas principais lideranças sejam
arrastados ao epicentro do escândalo da Petrobras às vésperas da eleição, a
legenda comprou o silêncio de um grupo de criminosos — e pagou em dólar
Desde que estourou o escândalo da Petrobras, o PT é vítima
de uma chantagem. De posse de um documento e informações que comprovam a
participação dos principais líderes petistas num desfalque milionário nos
cofres da estatal, chantagistas procuraram a direção do PT e ameaçaram contar o
que sabiam sobre o golpe caso não fossem devidamente remunerados. Às vésperas
da corrida presidencial, essas revelações levariam nomes importantes do partido
para o epicentro do escândalo, entre eles o ex-presidente Lula e o ministro
Gilberto Carvalho, um dos coordenadores da campanha de Dilma Rousseff, e
ressuscitariam velhos fantasmas do mensalão. No cenário menos otimista, os
segredos dos criminosos, se revelados, prenunciariam uma tragédia eleitoral.
Tudo o que o PT quer evitar. Dirigentes do partido avaliaram os riscos e
decidiram que o melhor era ceder aos chantagistas — e assim foi feito, com uma
pilha de dólares.
O PT conhece como poucos o que o dinheiro sujo é capaz de
comprar. Com ele, subornou parlamentares no primeiro mandato de Lula e, quando
descoberto o mensalão, tentou comprar o silêncio do operador do esquema, Marcos
Valério. Ao pressentir a sua condenação à prisão, o próprio Valério deu mais
detalhes dessa relação de fidelidade entre o partido e os recursos surrupiados
dos contribuintes. Em depoimento ao Ministério Público, ele afirmou que o PT
usou a Petrobras para levantar 6 milhões de reais e pagar um empresário que
ameaçava envolver Lula, Gilberto Carvalho e o mensaleiro preso José Dirceu na
teia criminosa que resultou no assassinato, em 2001, do petista Celso Daniel,
então prefeito de Santo André. A denúncia de Valério não prosperou. Faltavam
provas a ela. Não faltam mais. Os dólares serviram para silenciar o chantagista
Enivaldo Quadrado, ele próprio participante da engenharia financeira do golpe
contra os cofres da maior estatal brasileira — e agora o personagem principal
de mais uma trama que envolve poder e dinheiro.
Quadrado deu um ultimato ao tesoureiro do PT, João Vacari
Neto: ou era devidamente remunerado ou daria à polícia os detalhes de documento
apreendido no escritório do doleiro Alberto Youssef. O documento era um
contrato de empréstimo entre a 2 S Participações, de Marcos Valério, e a
Expresso Nova Santo André, de Ronan Maria Pinto. O valor desse contrato é de 6
milhões de reais, exatamente a quantia que Valério dissera ao MP que o PT
levantara na Petrobras para abafar o escândalo em Santo André. É esse o
contrato que prova a denúncia de Valério. É esse o contrato que, em posse de
Quadrado, permitia ao chantagista deitar e rolar sobre os petistas.
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