Por Merval Pereira - O Globo
O hábito de enviar mensagens por meio de robôs com ataques a
jornalistas independentes, e invadir sites ou usar os que são abertos, como a
Wikipédia, para denegrir a imagem dos que consideram seus inimigos políticos, é
um expediente comum dos militantes petistas aloprados.
Em 29 de outubro de 2011 esses marginais entraram na minha
página na Wikipédia para incluir uma suposta notícia de que eu havia sido
identificado pelo Wikileaks como informante do governo dos Estados Unidos,
juntamente com outros jornalistas.
Na verdade, o Wikileaks havia divulgado uma série de
telegramas do embaixador dos Estados Unidos, entre os quais relatos de
encontros que mantivera comigo e com outros jornalistas, onde conversamos sobre
diversos assuntos, inclusive as eleições presidenciais de 2010. Nada do que
disse naquele encontro diferia do que escrevi nas minhas colunas naquela
ocasião, nenhum segredo havia para ser informado.
O encontro de jornalistas com diplomatas estrangeiros é o
que há de mais normal no mundo todo, e essa troca de opiniões faz parte de um
relacionamento profissional que apenas mentes pervertidas, ou a soldo, podem
transformar em uma atividade de espionagem .
Alertado, eu mesmo entrei no Wikileaks e retirei a peça
infamante. Esta semana, vendo o que aconteceu com Miriam Leitão e Carlos
Alberto Sardemberg, lembrei-me do episódio e mandei fazer um levantamento na
Wikipédia para verificar se era possível, a partir do IP dos computadores,
saber de onde haviam sido acionados.
Para minha surpresa, descobri que haviam feito, de junho de
2011 até 8 de agosto deste ano, diversas entradas em minha página na Wikipédia
para acrescentar comentários desairosos ou informações falsas. Algumas dessas
aleivosias foram retiradas pela própria direção da Wikipédia; outras por
pessoas que discordavam do que lá estava escrito, como, por exemplo, de que eu,
nas colunas, destilo meu ódio contra o ex-presidente Lula.
Ontem, retiraram qualquer juízo de valor sobre minhas
atividades jornalísticas. O levantamento feito pelo jornal não indicou nenhum
servidor de órgãos do governo, inclusive o Palácio do Planalto, nas agressões
inseridas na Wikipédia contra mim. Os servidores utilizados são de Toronto, no
Canadá, da Austrália e apenas um tem origem em São Paulo, mas não foi possível
definir com precisão sua localização.
O que espanta no caso atual, em que Miriam Leitão e Carlos
Alberto Sardemberg foram os alvos, é que as agressões partiram de computadores
alocados no Palácio do Planalto, o que indica que essa ação de alterar perfis
de jornalistas e pessoas consideradas inimigas já se tornou tão habitual para a
militância petista que ela deixou de lado a cautela, utilizando até mesmo o
Planalto para suas investidas ilegais.
É sintomático que jornalistas independentes tenham sido
vítimas dessas ações de guerrilha na internet, pois desde que chegaram ao
poder, em 2003, há um núcleo petista que tenta de diversas maneiras controlar a
imprensa, a última delas com o tal controle social da mídia . Os conselhos
populares fazem parte desse mecanismo de controle estatal que os petistas
tentam impor à sociedade brasileira.
O fato de que os atos delinquenciais partiram de dentro do
Palácio do Planalto os coloca muito próximos, pelo menos fisicamente, do centro
do poder. O episódio revela, no mínimo, uma falta de controle do pessoal que
trabalha no Palácio do Governo. Quando não a conivência de algum alto assessor
com o crime contra a liberdade de imprensa numa campanha em que fazer o diabo
estava previsto pela própria presidente Dilma Rousseff
Fonte: A Verdade Sufocada
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