Por Nilson Borges Filho
"Obrigado. Nós amamos vocês", foi a manchete do
jornal alemão Bild ao final da partida Brasil-Alemanha.
A derrota para a Alemanha foi uma surpresa? Não, de maneira
nenhuma. A derrota por goleada foi outra surpresa? Não mesmo. A derrota por 7
gols a 1 foi, finalmente, uma surpresa? Sim, sem dúvida. Apostava, antes do
início da partida entre Brasil e Alemanha, que seria uma goleada de uns 4 a
zero para os panzers de Joaquim Lowe. O time brasileiro perdeu para uma grande
seleção, que jogou como os torcedores brasileiros gostariam que a nossa seleção
se apresentasse.
Os alemães com o placar favorável de 5 a zero jogavam como
se a partida estivesse empatada: com garra, vontade, classe e humildade. Viu-se
em diversas oportunidades o atacante e goleador Muller tirando uma bola, com
perigo de gol, na sua própria área. No outro lado do campo percebia-se o
atacante brasileiro Fred, que não marcava gol, não marcava os adversários, nem
coisa nenhuma, flanando pelo gramado como se estivesse curtindo uma manhã de
domingo no parque Mangabeiras. Um inútil. Simples assim.
Não fosse a insistência de Felipão não deveria nem ser
convocado, não fosse pela falta de qualidade, no mínimo por lesões crônicas.
Mas prevaleceu a vontade da comissão técnica, como a do ex-treinador Parreira –
único técnico do mundo a ser demitido no andamento da Copa na África do Sul – e
pelo auxiliar técnico Murtosa. Lembram dele, um bigodudo assemelhado ao chefe,
que senta ao lado de Felipão no banco de reservas?
Conseguem, leitores, visualizar a expressão de inteligência
desse rapaz, acompanhando o jogo e trocando de ideias com Felipão? Um assombro.
O que impede de o Brasil ter um técnico estrangeiro, como muitas seleções os
têm? Por que insistir em Dungas, Manos e Felipões? Antes do jogo com o Brasil,
a Alemanha atuou contra cinco equipes, das mais variadas escolas de futebol.
Empatou com Gana no tempo normal e ganhou dos Estados Unidos de 1 a zero.
Contra a Argélia, suou para fazer dois gols contra um do adversário. Ou seja,
apesar da superioridade alemã, os adversários tinham dignidade.
Felipão contratou olheiros: o ex-jogadores Alexandre Gallo e
Roque Júnior – por sinal grandes estrategistas com reconhecimento internacional
- que mostraram a Felipão como armar o time para ganhar dos alemães. Deu no que
deu. Armar o time brasileiro sem levar em conta o excelente meio de campo da
Alemanha, desconsiderando a qualidade técnica de um Kedira, do clássico
Schweisteiger e de um Kross, consagrado como o melhor do jogo pela FIFA, é
suicídio. Armar o time brasileiro com um franzino Bernard, reserva de um time
da Ucrânia, contra grandalhões, tendo outras opções no banco, é burrice.
Por que manter um Fred que se arrastava em campo e sequer
chutou uma bola em gol? E qual motivo de insistir num Hulk que joga alguma
coisa parecida com futebol? O Brasil perdeu dois bons jogadores, Thiago Silva e
Neymar, mas se jogassem não acredito que alteraria o placar.
Durante a semana, em vez de ficar se lamentando com a
ausência de Neymar, com discursos inapropriados, bobos e palhaçadas como “nós
tóis”, se os jogadores aproveitassem a situação exclusivamente para focar no
jogo, o resultado poderia ser menos humilhante. Perder não é feio. Faz parte do
jogo. Agora, perder 7 a 1, ao ritmo de uma valsa de Carl Von Werner, é
vergonhoso pela apatia e pela falta de dignidade.
Em seis minutos, ainda no primeiro tempo, era como se
chegasse aos ouvidos dos brasileiros o som de Cavalgada das Valquírias de
Wagner, ritmando os panzers alemães enchendo a rede de Júlio Cesar com gols
atrás de gols.
Com salários obscenos de milhões de euros para chutar uma
bola, carrões último tipo, casas luxuosas, brincos de brilhante e colares de
ouro, tatuagens grosseiras por todo o corpo, sempre a tiracolo com louras de
farmácia espevitadas, são esses tipos que milhões de brasileiros desejariam
transformar em heróis na partida final do próximo domingo. Ainda bem que não
chegamos lá.
Os brasileiros merecem outro tipo de herói : o homem comum,
esse mesmo, que consegue sobreviver apesar de um sistema educacional medíocre,
de um sistema de saúde pública vergonhoso, com a violência diária ceifando
vidas de gente de bem , de políticos corruptos e governos vigaristas.
Fonte: TERNUMA
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Nilson Borges Filho é pós-doutorado em Direito e Articulista.
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