Por Rodrigo Constantino - O Globo
O Brasil ficou horrorizado com as cenas de barbárie
ocorridas em Guarujá semana passada, quando uma dona de casa foi linchada até a
morte após boatos disseminados pelas redes sociais. Mas há outro linchamento
que vem ocorrendo há anos e também merece nossa atenção, pois tem profundo
impacto em nossas vidas: o das nossas instituições.
É claro que não há causalidade direta entre um e o outro,
mas é inegável que a completa perda de credibilidade do povo em nossas
instituições tem produzido um clima de anomia propício aos “justiceiros” que se
julgam acima das leis. Como a Justiça não só tarda como falha muito, a
impunidade gera a desculpa perfeita àqueles que desejam “fazer justiça com as
próprias mãos”.
O agravante é justamente que o mau exemplo vem de cima.
Espera-se que as autoridades sejam os maiores ícones do respeito às leis. Mas e
quando o próprio governo é o primeiro a ignorar a Constituição, o império das
leis? Que tipo de mensagem chega ao povo?
Não vou dizer que o PT inventou tudo isso, claro; mas nunca
antes na história deste país se viu um partido no poder que cuspiu tanto, e de
forma tão escancarada, nas regras do jogo. Que outro partido abusa tanto da
confusão entre governo e estado? Que outro partido encara cada instrumento
estatal como um braço partidário?
Exemplos não faltam. O recente discurso da presidente Dilma
na véspera do Dia do Trabalho vem à mente. Diante de uma prerrogativa de Estado
para um comunicado oficial, a presidente usou as redes de televisão e rádio
para fazer uma absurda campanha eleitoral, ainda por cima enganosa. É
ridicularizar demais nossas instituições.
O PT aparelhou toda a máquina pública, infiltrou seus
militantes em estatais, agências reguladoras, chegando até ao STF, corroendo
feito cupins os pilares de nossa frágil democracia. Como cobrar obediência às
leis depois? Como exigir que cada cidadão se coloque sob as mesmas regras se o
próprio governo se julga acima delas?
Mas não é “só” isso. Toda a retórica revolucionária dos
petistas sempre enalteceu criminosos sob o manto da ideologia. Ou, por acaso,
os invasores de terra do MST não praticam crimes em nome da “justiça social”? E
o que acontece em seguida? São recebidos com honra no Palácio do Planalto pela
própria presidente e ganham verbas do BNDES!
Boa parte da esquerda trata bandidos como “vítimas da
sociedade”, como se não houvesse volição, responsabilidade em seus atos, como
se uma condição financeira menos favorável fosse justificativa para roubar e
matar inocentes (visão ofensiva à maioria dos pobres brasileiros, gente
trabalhadora e honesta). Como exigir respeito ao Estado de direito com esse
discurso sensacionalista?
O Brasil sob o PT perdeu suas esperanças num futuro melhor,
eis a triste verdade. Foram anos de muito cinismo, de imoralidade à luz do dia,
de bolivarianismo explícito, de canalhice recompensada. Quando o ex-presidente
Lula beija a mão de “coronel” nordestino dizendo que é uma aula de política,
abraça o Maluf ou afirma que Sarney não pode ser julgado como um homem comum,
qual mensagem transmite ao povo?
Quando petistas do mais alto escalão são julgados e
condenados pelo STF, cuja maioria dos ministros foi escolhida pelo próprio PT,
e o partido sai em defesa dos criminosos presos e ataca o Supremo, qual o
recado que passa para o cidadão? Como demandar aderência às leis em seguida?
O PT, adotando a estratégia marxista, segregou o país em
duas classes. Ou você endossa seu modelo, ou você é um “inimigo da nação”.
Divergências e críticas construtivas? Nem pensar! Imprensa livre apurando e
divulgando escândalos infindáveis? Mídia golpista, tratada como “partido de
oposição”. Que país resiste a esse tipo de divisão, quando o que mais se
precisa é justamente um sentido de união em prol de avanços comuns?
Poucas vezes se viu uma sensação tão derrotista como a
atual, com várias pessoas falando em ir embora do país. Em plena época de Copa,
e no Brasil, nunca se viu tanta indiferença. Há muita revolta, isso sim.
Protestos, greves, centenas de ônibus depredados ou incendiados por vândalos,
uma população cansada da tática do “pão & circo”. Um ambiente fértil para
oportunistas de plantão, baderneiros, agitadores e “salvadores da pátria”.
Nada disso precisa ser assim. Não podemos nos entregar ao
fatalismo. Escrevo essas linhas de Miami, a “América Latina que deu certo”.
Aqui, os mesmos latino-americanos obedecem as leis, respeitam as regras. Por
que vamos mirar no péssimo exemplo venezuelano? Por que não podemos ter algo
muito melhor? O que nos impede?
Fonte: A Verdade Sufocada
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