
Documentos internos da Petrobras, aos quais a Folha teve
acesso, mostram que o resumo enviado pela diretoria da estatal ao conselho,
pedindo aprovação da compra da refinaria Nansei, em Okinawa, omitiu vários
riscos identificados por áreas técnicas.
Na avaliação dos funcionários, a refinaria, que dava
prejuízo aos japoneses, só se tornaria rentável se fosse adaptada para refinar
o petróleo brasileiro, mais pesado, e dobrasse sua capacidade de produção para
100 mil barris por dia, mas essa informação não foi transmitida ao conselho.
Como informou na semana passada o jornal "Valor
Econômico", restrições ambientais impediram a ampliação. O investimento
previsto no momento da aquisição foi cancelado em 2011, e a refinaria continuou
produzindo apenas 45 mil barris por dia.
Quando o negócio foi submetido ao conselho, em novembro de
2007, a Petrobras era presidida por José Sérgio Gabrielli e tinha a atual
presidente, Graça Foster, como diretora da área de gás. Nestor Cerveró, que
dirigia a área internacional, preparou o resumo avaliado pelo conselho, então
presidido por Dilma Rousseff. Em março, a presidente atribuiu a Cerveró a culpa
por ter aprovado a compra de Pasadena, ao receber dele um relatório considerado
"falho" por ela.
A aquisição de 87,5% de Nansei foi fechada em 2008, por US$
331 milhões, incluindo estoques, pagos à antiga dona da participação, a Tonen
General, subsidiária da Exxon. A japonesa Sumitomo detinha outros 12,5%. A
justificativa para comprar Nansei era "expandir os negócios em mercados
rentáveis no exterior", dado o "expressivo crescimento do mercado
asiático".
Segundo os documentos internos, as áreas financeira e de
estratégia consideravam que a refinaria Nansei não era rentável porque o
indicador usado para medir a expectativa de retorno na compra de uma empresa
era negativo em US$ 215 milhões. Esse indicador, sustentavam os técnicos, só
tinha chance de ficar positivo, em US$ 252 milhões, se houvesse o investimento
bilionário em ampliação e adaptação.
O documento enviado ao conselho, porém, trazia outra
avaliação, feita pela área internacional, de Cerveró, para quem o negócio era
rentável mesmo sem a ampliação. O documento também não dizia que a legislação
ambiental impedia a Nansei de produzir 100 mil barris. Consultada, a Petrobras
não disse se a informação sobre a restrição, revelada ao jornal "Valor
Econômico", era conhecida na época.
A área de estratégia também via dificuldade para integrar a
operação da refinaria com o restante dos negócios da Petrobras, concentrados no
oceano Atlântico, e alertou sobre o risco de "ter que carregar por algum
tempo um ativo com baixa rentabilidade". Isso não consta do resumo enviado
ao conselho.
A Petrobras investiu na unidade, até hoje, US$ 111 milhões,
e tentou vendê-la no início de 2013, mas não conseguiu. Hoje, a refinaria é
tida como "ativo não estratégico", e a empresa diz procurar
alternativas ao negócio.
OUTRO LADO
A Petrobras reafirmou que a aquisição da
refinaria "estava alinhada ao planejamento estratégico da época". A
empresa não comentou as omissões no resumo enviado ao conselho. Gabrielli não
quis comentar o caso. Cerveró não retornou à Folha.(Folha de São Paulo)
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