Por Percival Puggina
A lista é longa e
mostra que estamos sob um governo absolutamente capaz. De qualquer coisa. A
corrupção foi transformada em política de Estado graças à consistente e já
fartamente comprovada formação de quadrilhas. Quando os números do assalto à
Petrobras chegaram às manchetes mundiais houve um estupor porque nunca se vira
caso de corrupção com tantos dígitos. E eram apenas os primeiros esguichos do
que viria com a operação Lava Jato que desvendaria a extensão do esquema a um
vasto conjunto de obras públicas. Há poucos dias, o governo precisou usar toda
sua força de coerção para aprovar uma lei dizendo que crime de
irresponsabilidade fiscal já cometido deixava de ser crime perante os estatutos
jurídicos do país. E pouco mais tarde, novamente operou o balcão dos negócios
para que fossem retiradas assinaturas em CPIs que investigariam financiamentos
do BNDES.
Em países sérios, presidentes não podem mentir. No governo
brasileiro, a mentira é sempre a forma de comunicação. A verdade jamais emerge
numa entrevista. Ela só aparece mediante rigorosa investigação jornalística ou
policial. O governo atrai os piores elementos dos partidos da base e os piores
parceiros nacionais e internacionais com os quais faz negócios que traem o
interesse brasileiro.
Seguindo a política do partido governante, sem audiência ao
Congresso e à nação ali representada, deslanchou um programa de integração
continental denominado “Pátria Grande”, confessadamente comunista, visando
integrar moedas e identidades nacionais com os mais desastrados de nossos
vizinhos. Dentro desse projeto, o Brasil participa da instalação de uma Escola
de Defesa que outra coisa não é que uma versão bananeira do Pacto de Varsóvia.
Se essas tratativas forem criteriosamente investigadas, não andaremos longe de
um crime de alta traição. Pense num mal para o país e saiba: há um setor do
governo ou de seu partido tratando disso.
É irrelevante ao tema deste artigo mencionar a falta de
qualquer mérito nesse governo, porque no Brasil, governar mal é um direito de
todos. Mas, convenhamos, não é à toa que o petismo é contra a meritocracia.
Basta contemplar seu governo. Ele jogou o país numa enorme crise sem que
houvesse qualquer outro motivo que não fosse a monumental incompetência nas
áreas essenciais da administração.
Cobrar das instituições que deliberem sobre impeachment é
uma imposição moral. Se elas o recusarem, que assumam as consequências. Simples
como isso. O que não se pode fazer é um discurso de reprovação ao que foi feito
no país e dizer que “não é caso de impeachment”. Santo Deus! O que mais é
preciso? Por quanto mal ainda devemos esperar? Não nos constrange tal omissão?
A presidente e seus líderes já não podem aparecer na rua pois são vaiados pelo
povo, entregue aos azares que desabam sobre seu cotidiano. E as instituições,
no conforto dos gabinetes, contemplam seus esféricos umbigos. É assim que
queremos ficar?
Dizer que “não é caso de impeachment” é fornecer ao governo
um fraudulento atestado de boa conduta. Essa é apenas uma das duas opiniões
possíveis. E é a mais prejudicial ao interesse público, à moral nacional e ao
respeito que devemos ter por nós mesmos.
______________
Percival Puggina (70), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar.
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