Por Percival Puggina
Os alvos não eram apenas os ocupantes do Palácio do
Planalto. Eram, também, as vidraças de todo espaço de poder cobiçado pelo
partido. E o partido cobiçava todos os espaços de poder. A articulação com
movimentos sociais e sindicatos permitia-lhe dar um jeito de mobilização
popular às manifestações estrategicamente promovidas contra seus adversários em
todo o país. Como era de se esperar, o partido tornou-se o queridinho da mídia
porque, na área política, ninguém conseguia ser mais ativo. O PT não era apenas
fonte. Era protagonista e fonte torrencial de informações maliciosas, que
geravam repercussão.
Eram cotidianos, nos parlamentos, os discursos de senadores,
deputados e vereadores petistas brandindo como tacapes, jornais e revistas que
reproduziam suas denúncias e acusações. Não passava pela cabeça do PT a ideia
de que o jornalismo, em especial o jornalismo investigativo, pudesse se tornar
um incômodo. Não! Era uma parceria que dava bons resultados. O PT atacava e a
imprensa multiplicava os efeitos do ataque. A imprensa investigava e o partido
repercutia. Os órgãos oficiais investigavam e vazavam para o partido e para a
imprensa. E a vida sorria para todos.
No entanto, poucos meses após haver o PT chegado ao poder,
os mesmos veículos que antes eram fidedignos e parceiros passaram a ser vistos
como manipuladores e inimigos. Acumulam-se, desde então, as tentativas de
lançar controle sobre os meios de comunicação. Mais recentemente, tal proposta
recebeu o nome de "marco regulatório" da mídia. Agora, foi a vez da
presidente Dilma, numa de suas cotidianas crises de nonsense, proclamar,
referindo-se às denúncias sobre a Petrobras: "Não é papel da imprensa investigar!".
Segundo ela, a tarefa pertence à Polícia Federal.
A frase atropela rudimentares liberdades propiciadas pela
democracia, essenciais à subsistência desse regime. Tem potencial para destruir
as pontes sobre as quais o partido de quem a proferiu palmilhou os caminhos do
poder. E ergue nuvens negras sobre o futuro do país em suas mãos.
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Percival Puggina (69), membro da Academia Rio-Grandense de
Letras, é arquiteto, empresário e escritor e titular do site www.puggina.org,
colunista de Zero Hora e de dezenas de jornais e sites no país, autor de
Crônicas contra o totalitarismo; Cuba, a tragédia da utopia e Pombas e Gaviões,
integrante do grupo Pensar+.
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